Por Marina Pinhoni, G1 SP


O diretor do Instituto Butantã, Dimas Covas, durante apresentação em seminário em parceria com a Fapesp. — Foto: Reprodução/Youtube

As mortes diárias por coronavírus no estado de São Paulo podem continuar em um “patamar elevado” até 2021, segundo projeção apresentada nesta terça-feira (14) pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.

“Nós vamos manter essa epidemia por um bom tempo ainda. A taxa de mortalidade, embora possa estar estabilizada, está em um patamar elevado. Temos algo em torno de 300 óbitos por dia no estado de São Paulo. O que corresponde a um Boeing 747. Estamos tendo a explosão de um Boeing 747 por dia e pode ser que isso se prolongue até o ano que vem”, afirmou durante debate virtual com especialistas realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) e o Butantan.

Dimas Covas faz parte do Centro de Contingência montado pelo governo de São Paulo e já coordenou o grupo em um dos revezamentos de seus membros. No entanto, apresenta posições diferentes das defendidas pela gestão João Doria (PSDB).

Dimas Covas diz que mudança de cenário da pandemia depende de maior isolamento

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Nesta semana, o governo comemorou o fato de que as mortes semanais no estado tenham caído pela 3ª semana seguida e anunciou a maior flexibilização da quarentena em 9 regiões do estado. Embora os números semanais tenham sido menores no estado, a média móvel de mortes diárias indica uma estabilidade nos registros (platô) no ponto mais alto, acima de 200 mortes por dia, e não uma queda.

De acordo com as projeções apresentadas por Dimas Covas, os números de mortes e casos devem continuar subindo no estado, já que a taxa de transmissão da doença ainda não caiu o suficiente para derrubar o contágio.

“Embora muitos tenham a falsa sensação de que estamos em um momento de inflexão, de platô, na realidade esses casos ainda devem continuar aumentando. Da mesma forma, o número de óbitos deve continuar aumentando”, afirmou.

Brasil registra 1.341 mortes por coronavírus nesta terça-feira (14)

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No mesmo seminário, o matemático Eduardo Massad também criticou a utilização do platô como meta de política pública.

"Alguns dirigentes têm usado esse platô como argumento pra dar sustento às suas políticas de relaxamento das medidas de isolamento social. Na verdade, é o que eu venho dizendo a algum tempo: o platô é a assinatura do fracasso. Toda curva epidêmica que se preze ela tem que atingir um pico e cair", afirmou.

Segundo Dimas Covas, a solução para diminuir as mortes e casos seria aumentar o isolamento social para 70%, o que já era recomendado por especialistas no início da pandemia, mas que deixou de ser o principal critério para a reabertura.

“Considerando o que nós temos mantido de isolamento social, abaixo de 50%, em torno de 45% no estado como um todo, nós vemos essa espécie de platô. A alternativa a isso seria aumentar as medidas de isolamento para 70%, com isso nós seguramente teríamos um comportamento diferente da epidemia”.

"Quando você faz um planejamento, você tem que prever quando é que você vai sair DO (Diário Oficial). Mas nenhum especialista, nenhum infectologista, nenhum epidemiologista fala pra você que você pode sair com curva em ascensão. Quer dizer, isso não faz muito sentido, você tá entendendo? E no estado de São Paulo, nós não temos nenhuma curva em descensão", disse ele na ocasião.

O matemático Eduardo Massad, professor titular da Escola de Matemática Aplicada FGV. — Foto: Reprodução/Youtube

Retomada das aulas

O debate virtual com especialistas realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp) e o Butantan também contou com a participação do matemático Eduardo Massad, professor titular da Escola de Matemática Aplicada Fundação Getúlio Vargas (FGV). No evento, ele afirmou que São Paulo e o Brasil não vivem um bom momento para reabertura de escolas.

"As aulas absolutamente não podem voltar em setembro. Nós temos hoje no Brasil 500 mil crianças portadoras do vírus zanzando por aí. Se você reabrir agora em agosto, mesmo usando máscara, mesmo botando distância de dois metros. No primeiro dia de aula nós vamos ter 1.700 novas infecções, com 38 óbitos. Isso vai dobrar depois de 10 dias e quadruplicar depois de 15 dias. Então, abrir as escolas agora é genocídio", declarou.

Através de fórmulas matemáticas, Eduardo Massad afirmou que, caso aconteça uma reabertura precipitada das escolas no Brasil, o país pode saltar de 300 mortes de criança abaixo de 5 anos para 17 mil até o final do ano.

"300 e poucas crianças abaixo de 5 anos morreram no Brasil. Se a gente reabrir as escolas, nós vamos chegar a 17 mil. São 17 mil crianças que vão morrer e não precisariam morrer. Todo o resto dos problemas vocês consegue dar um jeito e resolver. Nós estamos falando de vidas. Se a gente abrir sem um planejamento muito preciso e um controle muito grande, o que vai acontecer é que vai morrer 17 mil crianças contra 300 e poucas no curso natural da epidemia, com as escolas fechadas", afirmou.

São Paulo planeja a retomada gradual das aulas a partir de 08 de setembro para as cidades que tiverem mais de 28 dias na fase amarela do Plano São Paulo de flexibilização, segundo o governo paulista. A proposta prevê ainda combinação de aulas presenciais e virtuais (veja aqui).

SP tem segundo maior número de mortes em 24 horas

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Terça-feira de recordes

O estado de São Paulo registrou 417 mortes por Covid-19 nesta terça-feira (14), o segundo maior número desde o início da pandemia. O recorde ocorreu em 23 de junho, com 432 mortes em 24h. O número de novos casos também foi o segundo maior nesta terça, com 12 mil novas notificações.

O total de pacientes internados com confirmação ou suspeita da doença bateu recorde nesta terça: são mais de 15 mil pacientes hospitalizados com Covid-19 nos sistemas público e privado de saúde.

O estado também confirmou 12 mil casos novos nas últimas 24 horas. Foram 53.899 casos novos na última semana, o que representa uma média móvel de 7.700 casos novos por dia.

Nos últimos 7 dias, foram registradas 1.849 mortes. Por isso, a média móvel para a última semana é de 264 mortes por dia da doença. É o 48º dia consecutivo com média acima de 200 mortos por dia da doença.

É a terceira vez que SP supera a marca de 10 mil casos confirmados em um único dia desde o início da epidemia. Em 2 de julho foram 12.244 casos confirmados. Em 19 de junho, por causa de um problema de represamento de notificações, o total de registros em um dia foi de 19.030.

Internações e ocupação de UTIs

Segundo dados divulgados pela Secretaria Estadual da Saúde, o estado tem, nesta segunda feira, 6.173 pacientes internados em UTI e 9.116 em enfermaria com sintomas da Covid-19. O total de pacientes internados é de 15.289 pessoas, entre casos suspeitos e confirmados da doença registrados nos sistemas público ou privado de saúde.

O recorde de pacientes internados com coronavírus em SP tinha sido registrado no dia 5 de julho, quando haviam 14.904 pessoas nesta condição.

A taxa de ocupação de leitos de UTI também teve leve alta e foi para 66,2% no estado e 64,9% na Grande São Paulo. Na segunda, os índices eram de 66,1% no estado e 64,7% na Grande São Paulo.

Além das altas hospitalares de pacientes internados com Covid-19, o governo de SP passou a divulgar, desde o início de julho, também o número de recuperados com quadros leves da doença.

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