• Jornal de Negócios do Sebrae-SP
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Teresinha Dotto, é proprietária do Paris Buffet (Foto: Ricardo Matsukawa / Ricardo Yoithi Matsukawa-ME / Sebrae-SP)

Teresinha Dotto, é proprietária do Paris Buffet (Foto: Ricardo Matsukawa / Ricardo Yoithi Matsukawa-ME / Sebrae-SP)

O balcão da loja agora é o WhatsApp. Os produtos novos não estão mais na vitrine, mas no feed do Instagram. A sala de reuniões é o Zoom, e os pedidos não param de chegar nos apps de entrega. Entre os itens de segurança, um túnel de desinfecção. Parece ficção científica, mas essa é a nova realidade dos pequenos negócios durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, que fez com que lojas, escritórios, hotéis e indústrias tivessem de fechar as portas para o público por um tempo e passassem a contar com a tecnologia para reinventar a forma de trabalhar.

Pesquisa recente do Sebrae sobre os impactos da Covid-19 nos pequenos negócios mostra que 32% das empresas estavam funcionando em maio utilizando ferramentas digitais. Mas, quando a “normalidade” começar a voltar, quais dessas novidades vão passar a fazer parte do dia a dia das empresas?

Para a empreendedora Teresinha Dotto, proprietária do Paris Buffet, em Guarulhos, a crise provocada pela Covid-19 fez com que ela tivesse de migrar, quase que da noite para o dia, do analógico para o digital. “O setor de eventos foi a primeiro a ser prejudicado e vai ser o último a retomar. Eu não tenho expectativa de voltar a funcionar antes de 2021”, diz.

Por acaso, ela estava no meio de um curso de marketing digital no Sebrae-SP quando a pandemia chegou ao Brasil, e aproveitou para colocar as ideias em prática: criou uma linha de marmitas fitness e kits para festa em casa e passou a apostar as fichas nas redes sociais.

Agora, além de cozinhar e cuidar do negócio, que existe há 25 anos, Teresinha cria conteúdo para redes sociais, onde posta receitas, faz tours virtuais no salão do buffet de olho em futuros clientes e anuncia seus pacotes de refeições. “Eu sempre pagava para alguém fazer as redes sociais para mim, era um mundo desconhecido, mas eu não quero deixar a empresa sumir, eu preciso estar em contato sempre com o meu cliente”, conta.

As vendas online hoje correspondem a 10% do faturamento que a empresa tinha na época em que o espaço para 150 pessoas ainda estava aberto, e nesse período Teresinha teve de demitir seus três funcionários, mas o contato próximo com os clientes está apontando para novos caminhos. A empreendedora conta que está expandindo a clientela das marmitas e que novos negócios estão surgindo – uma empresa, por exemplo, a contratou para fornecer kits de comes e bebes juninos para uma festa corporativa virtual.

Estratégias

Teresinha começou a usar as redes sociais para se destacar (Foto: Ricardo Matsukawa / Ricardo Yoithi Matsukawa-ME / Sebrae-SP)

Teresinha começou a usar as redes sociais para se destacar (Foto: Ricardo Matsukawa / Ricardo Yoithi Matsukawa-ME / Sebrae-SP)

O salto digital que a empresa de Teresinha deu em pouco tempo é comum entre os empreendedores que tiveram de se reinventar durante a pandemia. “A maioria dos clientes nos procurou no desespero e não tinha estratégia. Eles tiveram que avançar em poucos meses o que levariam anos”, diz o consultor do Sebrae-SP Éder Max. “Há muitos detalhes que as pessoas não levam em conta quando decidem vender pela internet. Isso pode fazer com que o empreendedor queime etapas e tenha de voltar atrás”, afirma.

Entre esses muitos detalhes – que são verdadeiros gargalos para a transformação digital –, o consultor aponta a escolha dos profissionais e fornecedores que vão prestar serviços, a formação de preço para o e-commerce e, principalmente, a falta de planejamento.

A escolha do local para estar presente na internet também é uma questão delicada. Embora marketplaces possam parecer atraentes para quem não quer investir em um site próprio, Max chama atenção para os prazos de pagamento e as taxas de transação – que, em alguns casos, pode chegar a 30%. “O marketplace é um terreno alugado. Você não está levando o cliente para sua loja, mas para o marketplace, está concorrendo lá dentro”, observa. Mesmo assim, um site próprio só vai ser eficiente se o empreendedor estiver atento a itens obrigatórios, como um certificado de segurança e um bom SEO (Search Engine Optimization, ou otimização para mecanismos de busca), que vai garantir que seu negócio esteja bem posicionado nas buscas do Google, por exemplo.

Transmitir segurança para o cliente que vai comprar em uma loja online é um dos pontos-chave para o empreendedor que está migrando para o digital. “Os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre os ciberataques, então é comum ouvir sobre clientes que abandonam o carrinho na hora de inserir seus dados financeiros quando eles não se sentem seguros para dar sequência à compra”, diz  Dean Coclin, diretor sênior de Desenvolvimento de Negócios da Digicert, empresa especializada em segurança na internet. “Sendo assim, ter um site que transmite segurança vai fazer com que mais pessoas deem sequência no processo de compra”, conclui.

O especialista também lembra que com a maior parte das empresas trabalhando em home office, usando aplicativos para reuniões virtuais e utilizando e-mail corporativo em casa, a segurança das redes domésticas também precisa ser levada em conta. “Uma rede hackeada pode significar acesso ao sistema por usuários não autorizados. Funcionários trabalhando de casa precisam eliminar essa possibilidade por meio do controle de quem pode acessar a rede”, afirma.

A transformação digital a toque de caixa provocada pela pandemia também está mexendo com o dia a dia de quem oferece serviços para os empreendedores. É o caso do Balcão Online, solução oferecida pela startup Munddi para varejistas que querem vender pela internet. Em poucas horas, é possível montar uma loja dentro da plataforma, que também é responsável pela transação financeira e pelo delivery. “O lojista precisa só embrulhar o produto e um entregador parceiro passa para pegar e levar até o cliente”, explica Thiago Malpetti, CEO da empresa. A solução também atende quem vende pelo WhatsApp ou mesmo pelo telefone. O lojista paga um valor fixo por mês mais uma taxa de 5% sobre a transação.

Malpetti conta que desde o início das medidas de distanciamento social a procura pelos serviços da empresa deu um salto de 1000%, enquanto que as lojas associadas viram o delivery aumentar em cinco vezes, em média. “Antes da pandemia, nosso foco era o lojista tradicional, agora temos sorveteria, restaurante, açougue. Boa parte dos consumidores não vai voltar tão cedo a fazer compras de maneira presencial”, aponta.

Novos hábitos

Se a mudança de comportamento dos consumidores provocou alterações no mercado, empreendedores que resistiam em adotar “novidades” entenderam que era o momento de inovar. Fundado há 37 anos, o Empório MD, em São José dos Campos, não trabalhava com delivery nem era muito ativo nas redes sociais. Atualmente, no entanto, 20% do faturamento estão vindo do serviço de entregas de pães, frios, doces e demais alimentos produzidos no local. A empresa está com um site e com perfis ativos nas redes sociais, oferecendo cestas e promoções. “Quando a pandemia chegou, foi um susto. Nós nunca trabalhamos com entrega e precisamos agir. Ainda estamos trabalhando na tentativa e erro”, diz o sócio proprietário Dante Ferronato Jr.

Ele conta que para fazer o delivery funcionar, deslocou funcionários do café para a operação – uma vez que os clientes não poderiam consumir no estabelecimento durante a pandemia – e contratou quatro entregadores. Também não precisou demitir nenhum dos 45 funcionários e afastou aqueles em grupos de risco. Outra solução encontrada foi instalar uma espécie de “drive-thru” para os clientes que querem ir escolher os produtos no local. Afinal, conta Ferronato, boa parte dos consumidores é mais velha e tradicional e não quer perder antigos hábitos. “A padaria é um ambiente que as pessoas gostam de frequentar para bater um papo, tomar um café. Há uma ansiedade para as coisas voltarem ao normal, os clientes querem que isso volte, mas nosso delivery certamente vai continuar”, afirma.

Atenção aos "gargalos"

Planejamento: antes de sair contratando serviços, é preciso ter um modelo de negócios e saber aonde você quer chegar com a transformação digital.

Escolha bem o profissional ou fornecedor: mais do que olhar o portfólio, pesquise clientes antigos e atuais. Preste atenção a detalhes do contrato, como quem vai ?car com as senhas.

Formação de preço: não saber preci?car seu produto na internet pode potencializar um eventual prejuízo. É preciso levar em conta os modelos do marketplace escolhido, a taxa de comissão, os prazos de pagamento etc. Tudo isso vai ter impacto no ?uxo de caixa.

Especificações técnicas: o site precisa ter um certi?cado de segurança, ser adaptado ao mobile e utilizar técnicas de SEO (otimização para mecanismos de busca). Sem isso, a página ?cará “escondida” e o cliente não conseguirá nem a encontrar nem terá con?ança para comprar por ali.

Logística: para vender na internet é preciso ter um tempo de resposta rápido para as demandas do comprador e também um tempo de entrega e valor de frete adequados.