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'Faraó dos Bitcoins': conheça quem são as 21 pessoas acusadas pela PF de integrar o bando do ex-garçom Glaidson Acácio

Relatório da polícia acusa supostos consultores e até "laranjas" por crime contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro
Michael Magno aparece ao lado de helicóptero em foto postada nas redes sociais Foto: Reprodução
Michael Magno aparece ao lado de helicóptero em foto postada nas redes sociais Foto: Reprodução

RIO —  Entre as 22 pessoas indiciadas pela Polícia Federal, na última quinta-feira, por crime contra o sistema financeiro nacional, estão o ex-garçom Glaidson Acácio dos Santos e  demais integrantes que se passariam por consultores, além de supostos "laranjas" da organização criminosa. Para a Polícia Federal,  Glaidson e a mulher dele, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, ambos de 38 anos, são sócios da GAS Consultoria e responsáveis por um esquema conhecido como Ponzi, quando se aplica num investimento, sem a necessidade de indicar outras pessoas para o negócio. O grupo usaria criptomoedas, daí o apelido de Glaidson: "faraó dos Bitcoins".
Além do crime contra o sistema financeiro nacional,  todos são acusados de lavagem de dinheiro e gestão temerária ou fraudulenta.

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A organização criminosa foi desarticulada no dia 25 de agosto, quando a PF, com o apoio do Ministério Público Federal (MPF) e da Receita Federal, realizaram a Operação Kryptos. A ação resultou na prisão do ex-garçom, com quem foram encontrados, segundo a polícia, cerca de R$15,3 milhões em dinheiro vivo. Em seis anos, ele teria movimentado cerca de R$ 38 bilhões. A principal área de atuação do grupo era Cabo Frio e algumas cidades da Região dos Lagos. A mulher de Glaidson se encontra foragida. Segundo a PF, ela está nos Estados Unidos.

Foi a apreensão de R$ 7 milhões feita por agentes federais, em 28 de abril deste ano, que colocou Glaidson e Mirelis na mira da PF. O dinheiro foi encontrado com eles, no momento em que embarcavam num helicóptero, em Armação dos Búzios, cidade da Região dos Lagos, com destino a São Paulo. As investigações sobre a origem do dinheiro acabaram revelando a existência do esquema do bando.

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Glaidson Acácio dos Santos

Glaidson Acácio dos Santos está preso desde agosto Foto: Reprodução
Glaidson Acácio dos Santos está preso desde agosto Foto: Reprodução


Até 2014, Glaidson foi pastor na Igreja Universal do Reino de Deus, na Venezuela. Ele voltou do país com a companheira, a venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa era garçom em um restaurante de Búzios, na Região dos Lagos. Naquela ocasião, ele ganhava pouco mais de R$ 800, segundo o Ministério Público do Trabalho. Então, em 2015, o empresário decidiu sair da empresa e abrir o: o Sol e Lua Restaurante – que posteriormente se chamaria a G.A.S Consultoria e Tecnologia LTDA. O comércio ficava no mesmo endereço onde o ex-garçom morava, na Praia do Siqueira, em Cabo Frio. Naquele ano, de acordo com a Receita Federal, a empresa “teve movimentação financeira bastante modesta e compatível com seu porte: R$ 73.799,39 (crédito)”. Em junho de 2018, Glaidson alterou o nome da empresa para GAS Consultoria e Tecnologia e se mudou para um prédio no centro de Cabo Frio. Foi quando a movimentação financeira começou a explodir.De acordo com o MPF, ao citar o negócio de Glaidson, afirmou que “o esquema criminoso está em franca operação e cresce em proporção geométrica”. Segundo o órgão, a GAS movimentou em 2018 pouco mais de R$ 1 milhão. No ano seguinte, o aumento nas contas da empresa foi exponencial: R$ 477.648.698,03 (crédito) e R$ 476.238.943,04 (débito). Já a movimentação financeira relativa a Glaidson, dizem os procuradores, foi de R$ 294.271.823,15 (crédito) e R$ 296.417.678,95 (débito)”. De acordo com a PF, Glaidson movimentou mais de R$ 2 bilhões na GAS. Ele também é dono de outras quatro empresas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Somadas elas têm capital social avaliado em R$ 136 milhões. As companhias — duas em Cabo Frio, no Rio, e duas em Barueri, em São Paulo — juntas somam R$ 136,2 milhões. As empresas são: G.A.S Consultoria e Tecnologia LTDA (R$ 75 milhões), G.A.S Assessoria e Consultoria Digital Eireli (R$ 60 milhões), G.A.S Inovação Tecnologia Artificial LTDA (R$ 1 milhão) e Tronipay Soluções em Pagamentos e Cartão LTDA (R$ 200 mil).

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Mirelis Yoseline Diaz Zerpa

A venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, de 38 anos, esposa e sócia de Glaidson, de 38, na GAS Consultoria Bitcoin, é quem coordena os trades da empresa. É o que consta nas investigações da Polícia Federal e  da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD) da Polícia Civil do Rio. Os investigadores da Polícia Civil concluíram a apuração de um inquérito de lavagem de dinheiro e evasão de divisas e remeteram para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio. Segundo a PF, Mirelis está nos Estados Unidos e é considerada foragida. Seu nome consta na difusão vermelha da Interpol para extradição. O ex-pastor é sócio da mulher em duas empresas: G.A.S Consultoria e Tecnologia LTDA (com capital de R$ 75 milhões) e G.A.S Inovação Tecnologia Artificial LTDA (R$ 1 milhão).



Tunay Pereira Lima e Márcia Pinto

Tunay e  Márcia são casados. Ambos foram presos pela Polícia Federal no último dia 25. Os dois se identificam como consultores na aplicação em criptomoedas. Eles investem o dinheiro no esquema conhecido como Ponzi, quando se aplica no investimento, sem a necessidade de indicar outras pessoas para o negócio. A captação de clientes para o negócio, segundo a denúncia, seria feita num condomínio comercial da Barra da Tijuca, onde era localizada uma empresa de Tunay. O empresário e a mulher foram presos em São Paulo. Tunay estava num aeroporto e disse  que estava embarcando para um congresso da G.A.S em Punta Cana, na República Dominicana. A Consultória em Soluções e Tecnologia Lima Eireli, pertencente a Tunay, sócio de Glaidson, recebeu R$ 224,9 milhões. Por sua vez, na conta pessoal do empresário, as transações ultrapassaram R$ 77 milhões em dois anos. Já a Consultoria e Tecnologia dos Anjos Eireli, da mulher dele, recebeu do ex-garçom o montante de R$ 60 milhões. Passaram pelas contas pessoais da mulher outros R$ 37 milhões. Para os investigadores, dinheiro oriundo de lavagem que, posteriormente, voltaria para Glaidson.

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Felipe José Silva Novais e Kamila Martins Novais

No centro do poder político nacional, a cidade de Brasília, Glaidson também tem negócios com movimentações milionárias e participação de pelo menos 12 pessoas e 10 empresas, aponta o relatório do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF), que pediu a prisão do ex-garçom. Para tocar esse braço na capital federal, de acordo com o documento, as operações tinham a supervisão do casal Felipe José Silva Novais e Kamila Martins Novais. Os dois teriam recebido de Glaidson, aproximadamente, R$ 80 milhões num período de dois anos e meio. O que os procuradores e delegados chamam de Núcleo Brasília existiria, pelo menos, desde 2017. O relatório identificou que a primeira viagem de Glaidson ao Distrito Federal ocorreu em 24 de agosto daquele ano. Em seguida, ele retornou mais sete vezes. Foi também em 2017, segundo o relatório, que as transações entre Felipe Novais e Glaidson passaram a chamar a atenção das instituições financeiras e começaram a ser comunicadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A partir de então, as cifras se multiplicaram. Apenas no segundo semestre de 2018,  segundo os relatório do Coaf, entraram R$ 8,1 milhões nas contas de Felipe Novais, de transferências feitas por Glaidson. Alguns meses antes, em 27 de junho de 2018, o suposto supervisor em Brasília ingressou como sócio da empresa do ex-garçom, a GAS Consultoria & Tecnologia, condição na qual permaneceu formalmente até 2019. E com a instalação do núcleo na capital nacional, de acordo com os investigadores, seus operadores obtiveram um "imenso e injustificado patrimônio". Os dados ressaltam que, entre 2016 e 2020, a movimentação financeira do casal Novais saltou de aproximadamente R$ 217,4 mil para quase R$ 16,9 milhões. No mesmo período, os bens e direitos dos dois, somados, foram de R$ 244 mil para cerca de R$ 2,28 milhões. Kamila, que em 2018 trabalhava como auxiliar de escritório, com salário de pouco mais de R$ 3,3 mil, diz o documento, teve "súbita evolução patrimonial". Quanto ao marido,  segundo trecho de um relatório da Receita Federal transcrito pelo MPF e pela PF, Felipe Novais era "autônomo, trabalhava com venda de grãos, veículos, compra e venda de terrenos, constrói casas no Brasil e fora do Brasil, compra terrenos para Igreja Universal".

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Vicente Gadelha e Andrimar Morayma

Vicente Gadelha Rocha Neto era sócio da DVG Consultória em Tecnologia da Informações Eireli, ativa entre 2018 e 2020, recebeu quase R$ 28 milhões da GAS. De acordo com os investigadores, entre janeiro de 2020 e junho de 2021, o empresário, valendo-se de três contas mantidas em nome da empresa VGR Tecnologia, movimentou R$ 442.430.819 a crédito e R$ 446.422.475 a débito. Segundo apurado pela Receita Federal, e a despeito dessa expressiva movimentação, o homem “não apresentou sinais externos de evolução patrimonial ou financeira, o que, aliado ao perfil de gastos que se retira do exame das notas fiscais emitidas em seu favor, sugere que, diferente de outros investigados, que formaram parceria com Glaidson em condição muito similar a de 'sócios'." O relatório da PF informa ainda que "Vicente tem funcionado verdadeiramente como interposta pessoa deste, colocando suas empresas à disposição e realizando operações no interesse do ex-garçom". Por sua vez, Andrimar Morayma Rivero Vergel é esposa de Gadelha. Os dois são sócios da VGR Agropecuaria LTDA.

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João Marcus Dumas e Larissa Viana Ferreira Dumas

João Marcus Dumas é suspeito de participar de esquema financeiro Foto: Reprodução
João Marcus Dumas é suspeito de participar de esquema financeiro Foto: Reprodução

Mais de R$ 14,7 milhões foi o montante movimentado apenas no ano passado por João Marcus Pinheiro Dumas Viana, um dos alvos da segunda fase da Operação Kryptos,  segundo a Polícia Federal. Ele é apontado pelos como suspeito de ser o operador financeiro do esquema de Glaidson Acácio, preso na primeira fase da ação. As contas bancárias de João Marcus e da mulher dele, Larissa Viana Ferreira Dumas, seriam usadas para receber e movimentar recursos do ex-garçom. Segundo a investigação da PF, foram identificadas operações suspeitas de João Marcus em contas bancárias da GAS Consultoria. No ano passado, de acordo com levantamento feito durante as investigações, ele movimentou R$ 14.712.443,51. Esse valor destoa dos rendimentos declarados à Receita Federal referentes a 2020. Apenas de abril a outubro de 2020, João Marcus movimentou mais de R$ 7 milhões em uma de suas contas bancárias. No entanto, o valor declarado de renda mensal de cerca de R$ 8 mil, proveniente da atuação como técnico em eletricidade, eletrônica, telecomunicações, não condiz com os ganhos informados à Receita Federal.

De acordo com relatório da PF, ao qual O GLOBO teve acesso, no período de novembro de 2019 a junho de 2020, João Marcus movimentou mais de R$ 6 milhões numa conta aberta em Belo Horizonte, Minas Gerais. Desta quantia, foram identificados R$ 2,4 milhões de créditos feitos por Glaidson. Naquele espaço de um ano, João Marcus declarou como atividades trabalho de atendimento a público, caixa, despachante, recenseador e afins, com rendimento mensal de R$ 3.500 (em 2019) e patrimônio de R$ 25 mil. De acordo com as investigações, João Marcus está à frente de uma empresa registrada como da área de tecnologia da informação, mesmo segmento em que sua esposa também é titular de uma segunda firma. Esta com registro no endereço de outras utilizadas no sistema. A PF suspeita que as contas do casal são usadas para receber e movimentar recursos de Glaidson. João Marcus ainda é investigado por ter feito depósitos, desde 2019, em conta cujo titular é o ex-garçom. Em 2021, apenas de março a abril, João Marcus movimentou R$ 1.199.951 em uma conta aberta na capital paulista, valor incompatível com R$ 6 mil declarados de renda mensal ao banco na ocasião.

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Michael de Souza Magno

Conhecido como o "corretor das celebridades", de acordo com o relatório da Polícia Federal. Segundo as investigações, ele seria  operador financeiro do esquema fraudulento montado pelo ex-garçom. De acordo com o relatório da PF, o corretor declarou, em 2021, bens e rendimentos tributáveis de R$ 32.700, além de um patrimônio de pouco mais de R$ 293 mil. "Apesar disso, desde 2017, seu patrimônio e seu padrão de vida aumentaram bastante, o que leva a RFB (Receita Federal do Brasil) a apontá-lo como provável sonegador contumaz", afirma o texto.

Veja a lista completa com os nomes dos indiciados:

1 - Glaidson Acácio dos Santos
2 - Mirelis Yoseline Diaz Zerpa
3 - Tunay Pereira Lima
4 - Márcia Pinto dos Anjos
5 - Felipe José Silva Novais
6 - Kamila Martins Novais
7 - Vicente Gadelha Rocha Neto
8 - Andrimar Morayma Rivero Vergel
9 - Diego Silva Vieira
10 - Mariana Barbosa Coelho
11 - Eliane Medeiros de Lima
12 - Michael de Souza Magno
13 - Arthur dos Santos Leite
14 - João Marcus Dumas
15 - Larissa Viana Ferreira Dumas
16 - Elvis Almeida de Oliveira
17 - Victor Lemos de Almeida Teixeira
18 - Matheus Rodrigues Pereira Bezerra
19 - Guilherme Silva de Almeida
20 - Alan Gomes Soares
21 - Paulo Henrique Rosa de Lana
22 - Kelly Pereira Deo de Souza Lana