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Morre o cineasta Robert Downey Sr, pai do ator Robert Downey Jr

O cineasta tinha 85 anos e enfrentava sintomas ligados ao Parkinson

Robert Downey Sr., pai do ator Robert Downey Jr, morreu nesta quarta-feira em sua casa em Nova York. Ele tinha 85 anos. A causa foi a doença de Parkinson, disse sua esposa, Rosemary Rogers. Downey Sr. foi autor de filmes provocativos que dificilmente faziam sucesso comercial, mas costumavam recever elogios da crítica e sempre chamavam a atenção.

Nas redes sociais, Downey Jr. lamentou a morte do pai. "Ontem à noite, papai fez sua passagem pacificamente, após anos suportando as devastações do Parkinson ... ele era um verdadeiro cineasta independente e permaneceu extremamente otimista o tempo todo", escreveu o ator.

“Putney Swope”, uma comédia de 1969 sobre um homem negro que é acidentalmente eleito presidente de uma agência de publicidade da Madison Avenue, é provavelmente o filme mais conhecido de Downey.

“Para ser o mais preciso possível sobre esse filme”, escreveu Vincent Canby em uma crítica entusiasmada no "New York Times", “ele é engraçado, brilhante, obsceno, desarticulado, maravilhoso, ininteligível e relevante”.

O filme, um sucesso financeiro para os padrões de Downey, arrecadou apenas US$ 2,7 milhões — em comparação, "Butch Cassidy & Sundance Kid", do mesmo ano, arrecadou mais de US$ 100 milhões. No entanto, o longa-metragem alcançou a ponto de, em 2016, ser incluído no Registro Nacional de Cinema,da Biblioteca do Congresso americano.

Outra produção admirada foi "Greaser’s Palace" (1972), citado como influência por  cineastas mais jovens como Paul Thomas Anderson — que deu a Downey um pequeno papel em “Boogie Nights” (1997). No filme, uma figura semelhante a Cristo chega ao Velho Oeste de paraquedas.

Joseph Papp, empresário do teatro, escreveu uma carta ao "Times" após uma crítica pouco entusiasmada: "Robert Downey foi destemidamente ao submundo e ressurgiu com um pesadelo histérico." Vale notar que a avaliação de Papp pode não ter sido inteiramente objetiva. Na época, ele estava produzindo um dos poucos esforços de Downey, uma versão para a televisão da peça de David Rabe "Sticks and Bones", que fez sucesso no Public Theatre, de Papp, em 1971.

Entre “Putney Swope” e “Greaser’s Palace” veio “Pound” (1970), uma sátira política em que os atores retratavam cães de rua. Entre esses atores, interpretando um cachorrinho, estava Robert Downey Jr., futura estrela dos filmes "Homem de Ferro" e muitos outros. Ele tinha 5 anos e fazia sua estreia no cinema. Esse filme, disse Downey ao "Times Union" de Albany, Nova York, em 2000, foi uma surpresa para o estúdio.

"Quando eu entreguei ao United Artists, logo depois da exibição um dos chefes do estúdio me disse: 'Achei que seria uma animação'. Eles pensaram que estavam recebendo um pequeno filme de animação fofo."

Robert John Elias Jr. nasceu em 24 de junho de 1936 em Manhattan e cresceu no Rockville Center, em Long Island. Seu pai era gerente de restaurante e sua mãe, Betty (McLoughlin) Elias, modelo. Anos mais tarde, ao se alistar no Exército ainda adolescente, adotou o sobrenome de seu padrasto, Jim Downey, que trabalhava com publicidade.

Após o exército, ele chegou a jogar beisebol semiprofissional por um ano, e então começou escrever peças. Entre as pessoas que conheceu na cena off-off-Broadway estava William Waering, que tinha uma câmera e sugeriu que tentassem fazer filmes.

O resultado começou a ser filmado quando John F. Kennedy ainda era presidente e foi lançado em 1964: "Babo 73". No filme,  Taylor Mead, um ator que viria a aparecer em muitos filmes de Andy Warhol, interpretava o presidente dos Estados Unidos. Se tornou um clássico do cinema underground.

“Basicamente, fomos para a Casa Branca e começamos a filmar, sem credenciais de imprensa, autorizações, nada disso”, disse Downey em uma entrevista incluída no livro “Vozes do Filme: Entrevistas do Post Script”, de 2004. “Kennedy estava na Europa, então não havia muita rigidez com a segurança. Ficamos do lado de fora da Casa Branca, mas conseguimos até algumas cenas de Taylor com alguns generais de verdade.

O orçamento, disse ele, era de US$ 3 mil.

"Chafed Elbows", de 1966, conta ey, um dia na vida de um homem desajustado, e fez Downey ser descoberto pela imprensa, ganhando uma respeito relutante de Bosley Crowther,  crítico de cinema do "Times".

“Algum dia, Robert Downey, que escreveu, dirigiu e produziu o filme underground 'Chafed Elbows', lançado no Gate Theatre na noite passada, vai se limpar um pouco, abandonar as palavras sujas e fazer algo digno de atenção madura, como uma comédia satírica excêntrica. Ele tem a audácia para isso. E também tem inteligência.”

O filme ficou em exibição por muito tempo em cinemas de arte. Então veio "No More Excuses", em 1968, e depois "Putney Swope", "Pound" e "Greaser’s Palace". Mas, no início da década de 1970, Downey desenvolveu o hábito da cocaína.

“Dez anos de cocaína sem parar”, disse ele à Associated Press em 1997. Seu casamento com Elsie Ford, que havia aparecido em vários de seus filmes, começou a ter problemas e eles eventualmente se divorciaram. O crédito por libertá-lo do vício  ele dá a sua segunda esposa, Laura Ernst. Ela morreu em 1994 de esclerose lateral amiotrófica ou doença de Lou Gehrig. Downey aproveitou essa experiência para seu último longa, “Hugo Pool” (1997).

Os filmes de Downey foram redescobertos nas últimas décadas. Em 2008, os Arquivos de Antologia de Filmes no East Village restauraram "Chafed Elbows", "Babo 73" e "No More Excuses" com o apoio da Film Foundation, uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação de filmes. Na época, Martin Scorsese, um membro do conselho da fundação, chamou-os de "uma parte essencial daquele momento em que um cinema americano verdadeiramente independente nasceu."

“Eles são atuais como poucos filmes”, disse Scorsese ao "Times", “porque foi a empolgação da possibilidade e da descoberta que os trouxe à vida”.

O próprio Downey evitava esse tipo de elogio.

“Eles são irregulares”, disse sobre seus filmes. "Mas eu era irregular."

Além de sua esposa e filho, ele deixa uma filha, Allyson Downey; um irmão, Jim; uma irmã, Nancy Connor; e seis netos.