Por Chinima Campos, André Maciel, Diego Alaniz, Sabrina Oliveira e Paulo Renato Soares, TV Globo e G1 Rio


Funcionários da prefeitura fazem plantão em hospitais para impedir o trabalho da imprensa

Funcionários da prefeitura fazem plantão em hospitais para impedir o trabalho da imprensa

Funcionários da Prefeitura do Rio, pagos com dinheiro público, fazem plantão na porta de hospitais municipais para atrapalhar reportagens e impedir denúncias de problemas na Saúde, como mostrou o RJ2. O esquema era combinado em grupos de aplicativo de mensagens. Um deles foi denominado "Guardiões do Crivella".

A cúpula do governo municipal faz parte de um dos grupos. O telefone do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, consta na relação.

O prefeito assumiu que estava no grupo, mas que nunca participou.Uma testemunha disse ao RJ2 que Crivella enviava mensagens parabenizando as ações.

Telefone de Crivella está no grupo usado para atrapalhar jornalistas em hospitais — Foto: Reprodução/TV Globo

Resumo

Como funciona o esquema

  • os "guardiões" são distribuídos por escalas, postam fotos para "bater ponto" e comemoram quando atrapalham a imprensa
  • O líder do esquema é Marcos Luciano (o ML), que foi missionário com Crivella e é assessor especial do gabinete do prefeito
  • ML teve bens apreendidos, como celular, notebooks e dinheiro
  • há funcionários que têm salário maior do que enfermeiros e técnicos de enfermagem

1º escalão da prefeitura no grupo

  • Marcelo Crivella - prefeito do Rio;
  • Beatriz Busch - secretária municipal de Saúde;
  • Paulo Amêndola - presidente do Instituto Pereira Passos;
  • Adolfo Konder - secretário Municipal de Cultura;
  • Valéria Blanc - assessora que faz a interlocução do prefeito com a imprensa;
  • Marcelo Marques - Procurador-Geral do município;
  • Paulo Mangueira - presidente da Comlurb;
  • Margareth Cabral - chefe de Gabinete do prefeito;
  • Airton Aguiar - presidente da CET-Rio;
  • Paulo Albino - secretário especial do prefeito;
  • Flávio Graça - superintendente de Educação da Vigilância Sanitária.

Nas mensagens obtidas pelo RJ1, eles não se manifestam.

Os 'guardiões' identificados

O RJ2 identificou ao menos 23 pessoas que participam da "tropa" – como eles mesmo se chamam –para atrapalhar as reportagens. São eles:

  1. Marcos Luciano, o ML: cargo especial – R$ 18.513,78
  2. Carlos Roberto da Silva Rocha: cargo especial - R$ 12.589,29
  3. Mariana Angelica Toledo Gonçalves: cargo especial - R$ 10.148,06
  4. Eduardo Gil dos Santos Duarte: cargo especial – R$ 7.895,56
  5. Luiz Felipe Da Silva Ferreira: cargo especial – R$ 7.195,56
  6. Heitor Pereira de Medeiros: cargo especial - R$ 6.772,70 mil
  7. Daniela Rocha Pinto de Jesus: cargo especial – R$ 6.695,56
  8. Hidequilene da Silva de Araújo dos Santos: cargo especial - R$ 5.195,56
  9. Helena Gabriela da Silva Gomes: cargo especial - R$ 4.495,56
  10. Rivaldo Irineu da Silva, o Jogador: cargo especial - R$ 4.384,10
  11. Luiz Carlos Joaquim da Silva, o Dentinho: cargo especial - R$ 4.195,00
  12. David Williams Rocha De Souza: assistente – R$ 3.422,09
  13. Ricardo Barbosa de Miranda: assistente 3 – R$ 3.422,09
  14. José Robério Vicente: cargo especial – R$ 3.229,89
  15. Melissa Sá Moutinho Onofre: cargo especial - R$ 3.000,00
  16. Marcos Aurélio Poydo Mendes, o Marcão Da Ilha: cargo especial – R$ 2.788,40
  17. Gilmar Henrique Aleves De Oliveira: cargo especial – R$ 2.788,40
  18. Marcelo Dias Ferreira: cargo especial – R$ 2.788,00
  19. Elias Lira Guilherme: cargo especial – R$ 2.695,56
  20. Marcio Ribeiro Ramos: cargo especial – R$ 2.695,56
  21. Ariolando Pereira: encarregado 1 - R$ 2.041,81 mil
  22. William de Oliveira, o William da Rocinha: cargo especial - R$ 2.000,00
  23. Josenildo Correia Gonçalves, o Nido da Padaria: cargo especial - R$ 1.695,56

Fotos de funcionários da Prefeitura do Rio que integram esquema de 'guardiões' na porta de hospitais — Foto: Reprodução/TV Globo

Como é feita a abordagem

  • Em uma ação, eles interrompem uma entrevista com agressões verbais e gritam "Bolsonaro"
  • A entrevista era com a filha de dona Vânia, que tem câncer, e estava à espera de transferência
  • Em outra ação, o repórter Ben-Hun Corrêa é hostilizado
  • Na porta do Salgado Filho, um guardião interrompe a entrevista de um homem que perdeu um dedo ao repórter Paulo Renato Soares

Diálogo de abordagem exibida no RJ:

Servidores conhecidos como 'guardiões do Crivella' atrapalham reportagens nos hospitais

Servidores conhecidos como 'guardiões do Crivella' atrapalham reportagens nos hospitais

  • Funcionário da prefeitura: "Fala isso não, meu querido".
  • Entrevistado: "Oi?"
  • Funcionário da prefeitura: "Fala isso não, cumpadre".
  • Entrevistado: "Como, perdi um dedo, não posso falar?"
  • Funcionário da prefeitura: "Fala isso não, meu irmão".
  • Entrevistado: "Não tô falando do hospital, não. Estou falando de Rocha Miranda".
  • Funcionário da prefeitura: "Você foi bem atendido, não foi?"
  • Repórter: “Ele [o entrevistado] não pode falar da saúde?"
  • Funcionário da prefeitura: "Não".
  • Repórter: "O senhor pode deixar ele falar da saúde?"
  • Funcionário da prefeitura: "Está tudo indo bem, meu querido"
  • O repórter, então, começa a confrontar o funcionário:
  • Repórter: "O senhor é o senhor José Robério Vicente".
  • Funcionário da prefeitura: "O hospital está tudo certinho, meu querido. O prefeito está trabalhando correto e bem."
  • Repórter: "Quem está trabalhando bem?"
  • Funcionário da prefeitura: "Com certeza, o prefeito está trabalhando bem. Na saúde. Que negócio é esse, rapaz?"

O que dizem os citados

A prefeitura do Rio mandou uma nota conjunta em nome dos citados na reportagem. Afirmou que funcionários ficam nas portas dos hospitais para esclarecer a população.

Na nota, a prefeitura também lamentou que o Ministério Público tenha recebido a denúncia e reafirmou o propósito de continuar trabalhando em benefício da população.

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