21/07/2014 00h00 - Atualizado em 21/07/2014 16h01

Gravação em carro de polícia liga policiais a morte de menor no Rio

Imagens que mostram policiais levando menores são interrompidas.
Homens são acusados de homicídio e ocultação de cadáver.

Do G1 Rio

Os policiais militares Fábio Magalhães Ferreira e Vinícius Lima Vieira foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio e ocultação do cadáver de um menor de 14 anos, detido com ambos no dia 11 de junho. A Justiça do Rio aceitou a denúncia. Imagens da câmera do carro da PPM, conseguidas com exclusividade pelo Fantástico, mostraram o trajeto através do GPS e como agiram os policiais no dia do crime (veja no vídeo acima).

No dia 11 de junho, os policiais realizavam um patrulhamento na Avenida Presidente Vargas, uma das principais do Centro, onde procuravam por dois menores de idade que estariam cometendo assaltos na região. Encontraram primeiro um, dirigiram por mais um tempo e acharam o segundo. Guardas municipais que estavam próximos à cena trouxeram outra pessoa, um jovem de camisa preta.

Eles, então, decidiram que levariam os três "lá para cima", referindo-se ao Morro do Sumaré, no Parque Nacional da Tijuca, Zona Norte. Às 10h20, eles param pela primeira vez e provocam os jovens, seguindo com o carro para um pouco mais à frente. Às 10h27, um dos homens sai do carro e leva o jovem de camisa preta, deixando os outros dois menores, acusados de cometer assaltos, na caçamba da viatura. Eles são chamados no rádio do carro, mas ninguém responde. Às 10h32, o vídeo é interrompido, com a câmera voltando a funcionar apenas dez minutos depois.

Nesse meio tempo, os policiais haviam matado Matheus de Souza, de 14 anos, e atirado duas vezes contra outro menor, de 15 anos. O rapaz, que sobreviveu aos disparos, contou que só escapou porque se fingiu de morto, após ter sido baleado nas costas e na perna.

"Já me botaram no chão atirando no meu joelho. O outro foi e falou assim: 'Pega lá o fuzil'. Foi já pegando o fuzil e dando nas minhas costas", contou o jovem.Pouco depois de descerem, eles encontram com o jovem de camisa preta, que haviam liberado da cena do crime. Os policiais dão uma carona para ele, o que é proibido por lei, e o ameaçam. "Se houver alguma fofoca na Uruguaiana sobre isso, a gente vai atrás de você, entendeu? Você vai fingir que nada aconteceu", diz o cabo Fábio.

O promotor de Justiça Homero Freitas acredita que, ao cometer o crime, os policiais tinham certeza da impunidade: "Eles não contavam que o outro jovem que levou os tiros permanecessem vivos. Eles tinham certeza que ninguém saberia de nada", avalia o promotor.

As investigações da Polícia Civil vão se focar agora em como as câmeras foram desligadas. Os policiais já receberam uma pena de prisão administrativa, por suspeita de envolvimento no homicídio.

O delegado Rivaldo Barbosa disse que a polícia está trabalhando agora para apurar o desaparecimento do terceiro jovem que foi liberado nos Arcos da Lapa, no Centro do Rio. Por isso, a polícia abriu um segundo inquérito.

Reconstituição
No dia 7 de julho, a Divisão de Homicídios realizou a reconstituição da morte. De acordo com a polícia, dois jovens foram detidos por PMs no dia 11 de junho; um deles foi encontrado morto ao lado da via e o outro ficou ferido. Seis dias depois, no dia 17, dois policiais do 5º BPM (Centro) foram presos administrativamente, suspeitos de envolvimento no homicídio.

Os agentes, identificados como Fábio Magalhães Ferreira e Vinicius Lima Vieira, foram conduzidos pelo chefe da 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) para a Divisão de Homicídios (DH), onde prestaram esclarecimentos. Eles foram identificados através das imagens internas da viatura e o trajeto feito foi verificado pelo sistema de GPS. A corregedoria da Polícia Militar também irá apurar os crimes no âmbito militar.

Relembre o caso
De acordo com as investigações da Polícia Civil e da Corregedoria da PM, Ferreira e Vieira perseguiram os dois menores, que estariam praticando furtos no Centro do Rio. A perseguição aconteceu às 9h30 do dia 11. Às 9h37, um deles foi capturado e colocado dentro do carro da PM, de acordo com o registro da câmera de monitoramento do veículo. Onze minutos depois, o outro adolescente foi apreendido.

O GPS instalado no carro revelou que os policiais continuaram seguindo pela Avenida Presidente Vargas e passaram em frente à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. "Esse procedimento não é aquele que a Polícia Militar preconiza. As normas da Polícia Militar dizem que, em sendo abordada, a pessoa deve ser encaminhada à delegacia", destacou o corregedor da PM, coronel Sidney Carmargo.

Os dois policiais então seguiram direto para o Morro do Sumaré. No caminho, fizeram duas paradas, observaram os locais e seguiram viagem até chegar à outra parte do morro. "Às 10h29, o primeiro adolescente é tirado de dentro do carro, levado para uma ribanceira e lá, ao que parece, executado. Um adolescente é morto, o outro recebe dois tiros, um nas costas e outro na perna", contou o delegado titular da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa.

"Até o momento em que a gente tem as imagens, eles retiram um dos adolescentes da viatura, começam a conversar com eles algumas coisas. Como a gente perde a imagem por um determinado momento, não temos condição de dizer o que efetivamente eles fizeram ou como fizeram, mas posteriormente a gente verifica que eles descem com a viatura sem a presença dos adolescentes", afirmou o coronel Sidney Camargo.

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