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Cultura

'Difícil fazer comédia com medo', diz Tatá Werneck sobre gravar 'Lady night' na pandemia

Atriz e apresentadora fala sobre os bastidores da nova temporada do programa sob rígidos protocolos de segurança contra a Covid-19 e desabafa sobre maternidade, quarentena e autoestima
Tatá Werneck conta ter ficado 'neurótica' com os cuidados contra a Covid-19 em gravaçã de 'Lady night' Foto: Divulgação/ Multishow
Tatá Werneck conta ter ficado 'neurótica' com os cuidados contra a Covid-19 em gravaçã de 'Lady night' Foto: Divulgação/ Multishow

RIO — Tatá Werneck está aliviada. Depois de dias “superneurótica” com os protocolos contra a Covid-19 para gravar com segurança a nova temporada de “Lady night”, ela voltou para a sua “ultra rígida” quarentena. Entocada, edita os 14 episódios do programa que estreia no Multishow dia 3, com convidados como Xuxa, Luciano Huck, Fabio Assunção, entre outros.

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Tatá ficou seis meses sem pisar fora de casa (“quase um cárcere privado”, brinca). Pretende continuar assim até sair a vacina. Detalhe: dividindo o teto com 20 bichos e, claro, o marido, Rafael Vitti, e a filha do casal, Clara Maria, de 1 ano, que Tatá chama de “deusa” (“está na fase de mostrar que veio para nos superar em tudo”). Mas ela não tem coragem de reclamar. Nessa hora, até fala sério no meio da entrevista, feita num misto de troca de vídeos com mensagens de WhatsApp.

— Esse período sublinhou o quanto não estamos no mesmo barco. Tem gente em situações de pobreza inimagináveis — diz ela, reconhecendo os privilégios antes de permitir-se praguejar, com aquele seu humor. — O teto da minha casa caiu, meu cachorro morreu, lidei mal com puerpério, quarentena, medo, depressão pós-parto, além das outras mil neuroses que já carregava.

Xuxa e Tatá Werneck na nova temporada de Lady Night Foto: Divulgação Multishow
Xuxa e Tatá Werneck na nova temporada de Lady Night Foto: Divulgação Multishow

Na entrevista a seguir, ela fala sobre culpa materna, diz se sentir cobrada a ser a mãe perfeita e se define como “bagaceira” no Instagram, onde tem 43 milhões de seguidores.

Como foi gravar “Lady night” sob os novos protocolos?

Difícil, ficava tentando perceber se o convidado estava seguro. Pedia o tempo todo para passar álcool em gel. Testava os convidados duas vezes. Eu fazia teste quatro vezes por semana. Me sentia responsável por cada um. Fazer sem público também é esquisito. Porque a verdade é que eu fazia muito mais pra animar quem estava na plateia do que para a TV. Vim do teatro. O público me alimenta. Faço tudo por eles.

O capacete de proteção, funcionou? O selinho fez falta?

Não dá para gravar com ele, usei só uma vez. Ficávamos sem máscara, mas tínhamos um acrílico separando. Não senti falta. Claro que, quando vem um Fabio Assunção, a gente pensa: “Não terei outra oportunidade” ( risos ).

Pode citar momentos legais?

Estar com a Xuxa foi precioso. Minha estreia na TV foi no programa dela. Minha primeira demissão também. Saber que ela voltou ao Projac pela primeira vez para gravar o “Lady” foi uma benção. Fabio Assunção é encantador, parece um menino se divertindo. Vladimir Brichta é genial. Luciano ( Huck ) é incrível, gentil, disponível e surpreendente. “Lady night” é um encontro genuíno entre duas pessoas comuns. Que na pandemia estão com mais medo, mas estão ali, de verdade, sem assessoria.

Não dá para ficar em cima do muro no seu programa...

Sabem que não funciona se não se soltarem. Aí, melhor nem ir. A plateia ajuda nisso. Sem ela ficamos com medo de parecer um papo intimista no Maracanã. Mas achamos o tom. Fazer comédia com medo é difícil. Mas liberta.

Fabio Assunção e Tatá Werneck Foto: Divulgação Multishow
Fabio Assunção e Tatá Werneck Foto: Divulgação Multishow

Como foi conciliar trabalho com bebê na quarentena?

Acho que tive baby blues ou depressão pós-parto, mas demorei a perceber por nunca ter passado por nada parecido. E porque estava louca de amor pela minha filha. E porque pessoas próximas diziam que era apenas “frescura”, o que fez com que me sentisse mais culpada. Mas descobri que a depressão pós-parto pode potencializar o medo. Comecei a ter medo de tudo. Queria poder proteger minha deusa 24 horas por dia. E tentar cuidar de todo mundo. Ficava nervosa por ver que não conseguia proteger todas as pessoas que amo. Mas já estou bem. Foi no começo da quarentena.

Você chegou a postar sobre a dificuldade em seu arrumar para dar um passeio com a Clara Maria no condomínio... A autoestima ficou em segundo plano?

Eu, verdadeiramente, nunca tive esse tipo de vaidade. Minha vaidade está em fazer um trabalho bem feito, ser boa companhia, estar com a energia boa. Não passa pela estética. Eu cheguei a aparecer no "Encontro com Fátima Bernardes" com toalha na cabeça porque não conseguia tirar o nó do cabelo. Muito white people problem . Me sinto idiota falando isso. Mas só para dizer que não era me arrumar para ficar bonita, era uma questão anterior.. Fazer o básico! Estávamos sozinhos com a bebê, 20 bichos numa casa muito maior do que uma pessoa sensata precisa. Hoje tenho certeza disso.

Luciano Huck é um dos convidados de Tatá Werneck na quinta temporada de 'Lady night' Foto: Divulgação / Multishow
Luciano Huck é um dos convidados de Tatá Werneck na quinta temporada de 'Lady night' Foto: Divulgação / Multishow

E a convivência intensa com o marido, sufocou?

Foi delicado. Ninguém estava no melhor momento nessa quarentena. Não tinha espaço para espairecer, extravasar. Sempre trabalhei fora o dia todo. Rafa também. Nossos momentos juntos eram bons, ríamos o tempo todo. Tinha saudade, amor e paixão. Aí, junta puerpério com quarentena e, quando vê, está brigando por coisas que jamais brigaria: “Você não pode deixar essa batata mais de 20 minutos na água sanitária”, ou “De quantas toalhas precisa para tomar um simples banho?”. Chegamos a nos estranhar, mas nada sério. É que antes era alegria o tempo todo. Estamos bem. Nos respeitamos muito. Não acho que a quarentena seja um retrato fiel dos relacionamentos. E a gente sabe disso.

E a libido com a bebê em casa?

Não sei o que é libido, mas manda um beijo. Brincadeira. Está ótima, mas tô trabalhando muito e sem a ajuda que tinha antes em casa.

Como está a saúde? Na gravidez você teve diabetes...

A gravidez deu uma sensação de fragilidade. Eu emendava, sem nenhum exagero, três anos com só 10 dias de folga e me sentia ótima. Não dormia, não fazia exercícios. A gravidez me deu a vontade de ser a pessoa mais saudável do mundo para ver minha deusa crescer. Se pudesse, seria atriz e personal.

Você disse que teve medo de reclamar da gravidez por receio de acharem que não amava a sua filha. Sentiu-se cobrada?

Só tinha a visão romântica da gravidez. As mulheres têm medo de falar que engravidar pode ser duro e serem julgadas. Na maternidade, uma pessoa comentou: peça desculpas a sua filha por tudo que reclamou. Passei duas semanas chorando e pedindo perdão. Até perceber que essa pessoa não tinha o direito de julgar minha maternidade. Que o amor pela minha filha nada tem a ver com o fato de não ter lidado bem com vômitos de 15 a 30 vezes por dia até os nove meses, por ter ficado dois meses deitada pelo descolamento, por ter tido urticária no corpo inteiro e diabetes. Não podia reclamar porque me olhavam como se fosse a pior mãe do mundo. Vinham homens dizendo: “Calma, pensa positivo”. Minha vontade era dizer: “Vomita mais de 15 vezes por dia, fica dois meses deitado para você ver, babaca”. Mas o mais chato era quando mulheres me criticavam, julgavam e faziam acreditar que eu era péssima mãe. O mundo ainda não sabe o que é empatia.

A maternidade é diferente do que imaginava? Não te contaram metade da treta...

Não contaram. Porque, de fato, quando eu vi a minha deusa, esqueci metade das coisas que passei e já pensei em ter outro. Mas hoje, quando fico minimamente enjoada,  penso: como aguentei passar por isso nove meses? E gravando. Só penso nas mulheres que passam por isso e não têm nenhum tipo de privilégio. Que têm medo de falar para os chefes que precisam de ajuda. E que não têm ninguém para ajudar. Já tive crises de choro pensando nelas.

E agora, como tem lidado com a culpa materna?

A culpa materna bateu desde o momento em que engravidei. Comecei a me sentir culpada por não enxergar a gravidez como o conto de fadas que haviam me contato. Algumas mulheres tentavam fazer com que eu acreditasse que era péssima mãe por estar achando perrengue estar grávida. Quando minha filha nasceu eu percebi que a gente se basta. Rafa, ela e eu. Essas são as opiniões que me importam. A minha mãe é super sensata. Ela dá conselhos com todo amor e cuidado. Mas há mulheres que acham que se não formos do jeito que elas imaginam, estamos erradas. Sou a melhor mãe que posso ser. Amo minha deusa mais que tudo! Farei tudo por ela. Da minha maneira. Não dá maneira que as pessoas gostariam. Eu sou uma mãe maravilhosa. E por mais que tenham tentado, não me abalam mais.

Você tem 43 milhões de seguidores no Instagram. Sente uma responsabilidade?

Lido com a mesma seriedade de quem vai para o vestibular sem estudar. Nunca penso em quantos seguidores tenho. Sou bagaceira. Não sou controlada. Não penso se a foto combina com feed . Só penso se estou influenciando negativamente alguém. Se meu comentário magoa. Aí não faço. Fora isso, eu posto sem pensar em absolutamente nada.