Por G1 SP e TV Globo — São Paulo


Protesto de donos de escolas e creches particulares de SP e ABC ocupa uma das faixas da Ponte Estaiada, na Zona Sul de São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo

Um grupo de cerca de 70 donos de escolas infantis e creches particulares de São Paulo e do ABC Paulista fizeram nesta sexta-feira (31) um ato na Ponte Estaiada, na Zona Sul da capital, reivindicando o retorno às aulas nas unidades de ensino particular das regiões onde atuam.

O ato teve concentração na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, na Zona Oeste da cidade, onde os manifestantes exibiam faixas pregadas aos veículos pedindo para que as autoridades públicas ouçam o segmento na tomada de decisão sobre o retorno às atividades das escolas na capital e na região metropolitana.

"Nós queremos que o retorno seja autorizado não para todo mundo, mas para os pais que precisam voltar ao trabalho e não sabem com quem deixar os filhos", disse o organizador da manifestação, Leandro Medeiros Romano.

Ato de donos de escolas particulares na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, na Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Após a concentração no Pacaembu, os donos de escolas seguiram em carreata para a Ponte Estaiada, onde ocuparam uma das faixas de rolamento da via. Segundo a CET, a manifestação não causou prejuízo ao trânsito da região e, após as 15h30, o protesto não estava mais ativo na ponte.

"Nosso pedido é que os prefeitos autorizem a retomada das aulas para garantir a sobrevivência do setor, que teve redução de até 80% dos alunos em algumas escolas de ensino infantil e creches, com crianças de 0 a 5 anos. Se as aulas não voltarem, já há pesquisa apontando que 70% do nosso segmento vai ter que fechar as portas", afirma Leandro Romano.

Ato de donos de escolas particulares na Ponte Estaiada, Zona Sul de São Paulo. — Foto: Acervo Pessoal

Divergências

Em junho, o governo do estado anunciou que aulas serão retomadas gradualmente a partir do dia 8 de setembro, caso os municípios estejam a mais de 28 dias na fase amarela do Plano SP de flexibilização da economia.

As escolas particulares da cidade de São Paulo, no entanto, estão apreensivas sobre o retorno às aulas e divergem sobre o melhor momento.

O Sinpro-SP, entidade sindical que representa os professores da rede privada do estado, de todos os níveis e graus, considera que ainda não há segurança para pensar no retorno às aulas, e é contra a reabertura sem a discussão de um protocolo mais amplo, multidisciplinar, que não se restrinja a critérios sanitários.

Donos de escolas particulares exibem faixas nos carros durante protesto em favor do retorno às aulas em São Paulo. — Foto: Reprodução/Redes Sociais

O posicionamento é diferente do Sieeesp, que representa as escolas particulares de educação básica no estado de São Paulo (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). O segmento, 80% composto por pequenas escolas e creches de bairro, teme a necessidade de fechar as portas definitivamente

Já o Semesp, sindicato que engloba as mantenedoras dos estabelecimento de ensino superior, acompanha as decisões do governo. Uma pesquisa do sindicato indicou que mais de 90% dos alunos de faculdades particulares querem continuar os estudos normalmente e informou que a taxa de evasão têm aumentado em relação ao ano passado, chegando a 31,3% em abril.

Projeto de lei sobre retomada de aulas presenciais é aprovado na Câmara

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Divergência entre mães e pais

Trabalhando com a data de 8 de setembro, indicada pelo governo do estado, uma escola particular da Zona Norte de São Paulo prepara o retorno dos alunos, mas não de todos os 2.300 estudantes.

A escola conversou com as mães e pais e sabe que 35% não querem que os filhos voltem. Outros 38% não sabem e 27% já disse que com certeza mandariam os filhos para o colégio.

"Vamos precisar escalonar. Aí, mesmo que a intenção do retorno presencial não seja de vir todos os dias, ele continua com o ensino remoto junto", disse Gislene Naxara, coordenadora pedagógica da escola.

Uma resolução do Conselho Municipal de Educação, que deve ser liberada até 10 de agosto, prevê que os pais assinem um termo se os filhos devem ou não voltar às aulas presenciais. Essa resolução deve valer para a rede pública e algumas poucas escolas particulares de educação infantil.

A representante das famílias no conselho, que também é mãe de estudante, é contrária à medida. "Quando meu filho sai da minha casa, ele está na responsabilidade da escola, e não na minha. Não tem como eu garantir o distanciamento social dele lá na escola. Eu garanto a vida dele aqui, comigo. Na escola - ontem eu falei com o secretário - na escola, quem garante a vida dele é a escola. Então como que eu vou assinar um termo de responsabilidade para o outro cuidar do meu filho?", questionou Fernanda Machado.

Divergência entre políticos

Na noite desta quarta-feira (29), a Câmara Municipal aprovou em primeira votação o projeto de lei da Prefeitura que prevê, entre outros pontos, a aprovação automática e a compra de vagas na rede privada para as crianças.

"Nós vamos garantir a recuperação do ensino nesse ano, se voltar, e para o ano que vem, para esses alunos que tiveram déficit de aprendizado, que ficaram em aulas on-line", disse Fábio Riva, líder do governo na Câmara.

O texto recebeu críticas da oposição. "Os recursos públicos serão mal gastos, mal aplicados com esse projeto de lei aqui, que visa a privatização da educação infantil", disse o vereador Celso Giannazi (PSOL).

Experiência internacional

Enquanto as aulas presenciais não são uma realidade, mas um desafio em São Paulo, a experiência de países que passaram pela pandemia do coronavírus antes do Brasil pode ser útil.

Casos considerados pelos epidemiologistas como sucesso internacional mostram que os países priorizaram, na reabertura, as crianças menores.

Eles também adotaram medidas de controle, como limitação do número de estudantes, escalonamento de horários, distanciamento, atividades em espaço aberto e reforço nas medidas de higiene. Nesses países, as escolas ficaram menos tempo fechadas do que estão em São Paulo.

"Certamente, as escolas precisam garantir questões de segurança sanitária para as crianças, e isso não é simples porque as crianças têm dificuldade de fazer o distanciamento social. A escola precisa receber orientação, recursos e equipamentos para garantir que a possibilidade de contágio seja a menor possível", ponderou Priscilla Tavares, especialista em economia da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).

"Do ponto de vista pedagógico, acompanhar e identificar os atrasos, as deficiências, e fornecer os recursos necessários para que as crianças, em primeiro lugar, retornem, não abandonem a escola, isso é um ponto importante, e depois para que retomem o nível de aprendizado que tinham antes da pandemia", orientou.

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