Em reunião fechada, deputados dão 'puxão de orelha' em ministro da Educação por falas sobre alunos com deficiência

Em entrevista há duas semanas, Milton Ribeiro afirmou que estudantes com deficiência 'atrapalhavam' em sala de aula
Atuação de Milton Ribeiro, titular da Educação desde julho de 2020, é criticada por falta de sentido de urgência Foto: Jorge William / Agência O Globo / 15-9-2020

BRASÍLIA- Em uma reunião a portas fechadas na Câmara dos Deputados, que durou cerca de três horas, o ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, foi duramente repreendido por deputados a respeito de suas declarações sobre estudantes com deficiência. O "puxão de orelha" coletivo criou um clima de constrangimento entre os presentes.

Há cerca de duas semanas, em uma entrevista ao programa "Sem Censura", na TV Brasil, Ribeiro afirmou que alunos com deficiência "atrapalham" em sala de aula. Após a forte reação da opinião pública acerca da fala, o ministro se retratou. Em nota, o Ministério da Educação (MEC) reforçou o pedido de desculpas de Ribeiro.

A reunião na qual Ribeiro foi "enquadrado" por parlamentares teve a presença de membros de três comissões da Casa: Educação; Direitos Humanos; e dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Inicialmente, a ideia era que Milton Ribeiro falasse em uma audiência pública sobre o tema, mas a pedido do MEC, o encontro com parlamentares acabou sendo uma reunião fechada.

Segundo fontes, diante da artilharia dos deputados, Ribeiro tentou novamente se explicar, mas acabou se atrapalhando. A impressão foi de que o ministro encara a questão sob um viés assistencialista e não como uma política pública que deve ser colocada de pé para atender a essa população.

Na companhia de técnicos da pasta, Ribeiro mostrou números a respeito de investimentos na área e pediu que deputados oficializassem o pleito de alteração do decreto que institui a  Política Nacional de Educação Especial. O decreto publicado no ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro gerou polêmica ao permitir a volta das "escolas especiais", destinadas especificamente a alunos com deficiência. Atualmente a norma está suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

—  A reunião foi muito proveitosa. O ministro iniciou pedindo desculpa, ele reconhece que a fala dele foi infeliz e extremamente equivocada — minimizou a presidente da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência, deputada Rejane Dias (PT-PI).—  Deixamos claro que nossa luta é intransigente pela inclusão dos alunos com deficiência nas escolas regulares.

De acordo com o deputado Israel Batista (PV-DF), membro da Comissão de Educação e presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, os parlamentares argumentaram que o MEC deve investir na área para garantir as condições adequadas para inclusão dos estudantes.

— É importante que a prioridade seja para escolas inclusivas, o ministério deve focar energia e evitar polêmicas. O MEC deve trabalhar pela formação de docentes capazes de lidar com as dificuldades das pessoas com deficiência. Pedimos também que houvesse investimento nas salas de recurso —  afirmou Batista.