Brasil e Política

Por Anaïs Fernandes, Valor — São Paulo

O resultado do emprego formal em agosto surpreendeu positivamente, mais uma vez, mas o balanço de riscos para o cenário do mercado de trabalho brasileiro nos próximos meses é misto, avalia Lisandra Barbero, economista da XP.

A casa esperava saldo líquido positivo de 207 mil vagas em agosto, mas foram criados 249.388 postos, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados mais cedo pelo Ministério da Economia. O resultado superou ainda a mediana das estimativas colhidas pelo Valor Data, que apontava geração de 150 mil vagas.

Lisandra destaca como ponto positivo o número de admissões. Foram 1.239.478 contratações, alta de 10% ante julho, mas ainda 10% inferior a agosto de 2019. Os desligamentos, por outro lado, trazem uma sinalização que reforça a percepção de situação delicada para os trabalhadores formais e que já havia sido observada mais cedo na divulgação da Pnad, do IBGE, referente a julho, diz a economista. Foram registradas 990.090 demissões em agosto, ligeira alta de 1% ante o mês anterior.

"O balanço do Caged apontou melhora acelerada das admissões, com participação dos contratos temporários, mas desligamentos razoavelmente fragilizados pelo prazo de validade que o BEm começa a atingir”, diz a economista. Lisandra se refere ao Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que permitiu a suspensão de contratos e redução de salário/jornada.

"O BEm ajudou a evitar demissões de funcionários em massa na pandemia, enquanto as contratações estão se recuperando a passos graduais", diz ela. O governo sinalizou que o BEm deve ser estendido por mais dois meses, mas não deve extrapolar 2020. "Pode ser que nos próximos meses a gente continue vendo a tendência de desligamentos sendo amenizada, mas o risco permanece. Os desligamentos continuam sendo a principal fonte de risco para o mercado de trabalho brasileiro", afirma Lisandra.

Se, por um lado, os trabalhadores formais podem ter certa dependência do programa para manter seus empregos, por outro os trabalhadores informais devem prosseguir retornando à busca por trabalho, sobretudo com a diminuição e posterior encerramento do auxílio emergencial, o que pressionará a taxa de desemprego, observa Lisandra. "A questão é o que vai acontecer quando o BEm e as fontes de incentivo começarem a ser retiradas", afirma a economista, reforçando que o balanço de riscos é misto.

Ela observa também que o setor de serviços ainda apresenta dificuldades para retomar. Pela primeira vez na pandemia, o segmento saiu do vermelho ao abrir 45,4 mil postos em agosto. No ano, porém, o saldo é negativo em 489.195 vagas. "O setor de serviços chama a atenção porque é intensivo em mão de obra e ainda apresenta bastante dificuldade para se recuperar. Isso é negativo para esse ano, mas, por outro lado, para o ano que vem, se ele melhorar, pode puxar o número de admissões", diz Lisandra.

Para 2020, a XP projeta um saldo negativo de cerca de um milhão de vagas no mercado de trabalho formal medido pelo Caged.

Análise cautelosa

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) tem apresentado resultados "excelentes" para o emprego com carteira assinada nos dois últimos meses, mas os números precisam ser analisados com cuidado, pois podem ocultar "uma realidade menos alvissareira do mercado de trabalho formal", alerta a MCM Consultores.

Os dados do Caged apontam que o Brasil abriu 249.388 postos com carteira assinada em agosto, conforme divulgou mais cedo o Ministério da Economia. O resultado veio acima da mediana das estimativas colhidas pelo Valor Data, de geração de 150 mil vagas. O saldo de agosto resulta de 1.239.478 contratações, alta de 10% ante julho, contra 990.090 demissões, que avançaram apenas 1% em relação ao mês anterior.

O ajuste sazonal da consultoria indica um saldo positivo de 161 mil vagas em agosto, com crescimento de 13,9% nas admissões ante julho. Segundo a MCM, as contratações atingiram 90,5% do patamar médio do primeiro bimestre (pré-pandemia) - em abril, o pior mês da série histórica, eram menos de 45%.

Já as demissões avançaram, pela dessazonalização da MCM, 14% em agosto ante julho, mas "sobre base mais baixa", pondera a consultoria. Os desligamentos haviam registrado em junho e julho os menores níveis desde 2006, lembra a consultoria, “provavelmente por mérito do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que permitiu a suspensão temporária de contratos trabalhistas ou redução proporcional de jornada e salário", afirma a equipe, acrescentando que não descarta também a hipótese de subnotificação ou atraso nas notificações.

A MCM destaca número do Ministério da Economia, segundo o qual acordos celebrados no âmbito do programa já contemplaram mais de 9,7 milhões de trabalhadores, "mais do que um quarto de todo o mercado celetista do país, embora o ritmo de novas adesões tenha desacelerado após os meses iniciais do programa", diz a consultoria.

"O avanço dos desligamentos no mês talvez esteja ligado ao término do período de carência imposto pelo programa, para empresas que aderiram nos primeiros meses e optaram por não prorrogar o prazo. Este movimento deverá ganhar tração nos próximos meses", afirma a equipe.

Os resultados “excelentes” do Caged nos dois últimos meses, motivados pela recuperação “praticamente em ‘V’” das admissões e os desligamentos historicamente baixos, como notou a MCM, contrastam com os resultados da Pnad Contínua divulgados hoje, “mostrando uma queda da ocupação formal muito superior à registrada no Caged, e tendem a piorar com o término das carências impostas pelo programa - o que talvez esteja começando a acontecer, sugere o avanço, ainda modesto, dos desligamentos no mês”, diz a consultoria.

(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)

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