Brasil

Brasil recicla apenas 1% do lixo plástico produzido

Média global é de 9%; WWF alerta que fabricação do material dobrará até 2030
Tartaruga marinha presa em um saco plástico na Grande Barreira de Coral, na Austrália; material foi removido pelo fotógrafo antes que o animal o ingerisse
Foto: Troy Mane / WWF/Divulgação
Tartaruga marinha presa em um saco plástico na Grande Barreira de Coral, na Austrália; material foi removido pelo fotógrafo antes que o animal o ingerisse Foto: Troy Mane / WWF/Divulgação

RIO — Uma pesquisa do WWF baseada em dados do Banco Mundial indicou que, entre os 15 países que mais geram lixo plástico no mundo, o Brasil é o que menos recicla. Das 11,3 milhões de toneladas do material produzidas anualmente, apenas 1,2% — ou 145 mil toneladas — têm o destino correto. Trata-se de um índice muito inferior à média global, que é de 9%.

O país é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, atrás de EUA (que recicla 34,6% do material gerado), China (21,9%) e Índia (5,7%). A comunidade internacional despeja cerca de 10 milhões de toneladas de plástico nos oceanos por ano, uma quantidade que preencheria 23 mil Boeing 747.

Estima-se que a produção de plásticos dobre até 2030, sendo os oceanos os mais visivelmente afetados por essa poluição — haverá cerca de 26 mil garrafas de meio litro no mar a cada quilômetro quadrado. Além de contaminar a água, a presença dos resíduos plásticos causa danos a diversos habitats, como as frágeis colônias de corais, além do estrangulamento de mais de 200 espécies de animais, que ingerem os produtos.

Diretora de engajamento do WWF-Brasil, Gabriela Yamaguchi atribui a popularidade do plástico ao baixo custo de produção e à facilidade para descartá-lo.

— É um material barato, e nunca houve incentivo para que fosse substituído ou consideração ao impacto social provocado pela poluição, inclusive à nossa saúde — condena. — Não existe disposição para discutir a Política dos Resíduos Sólidos, que abordaria o manejo adequado destes produtos. Por enquanto, presenciamos apenas iniciativas isoladas, como a lei que baniu os canudos de plástico no Rio.

O levantamento do WWF enumera medidas que devem ser adotadas por todos os governos, como o estabelecimento de metas nacionais para a redução, reciclagem e controle de plástico. O poder público também deve fornecer incentivos para que indústrias e grupos da sociedade civil controlem a gestão de resíduos.

— Precisamos usar a ciência e a tecnologia para criar novos materiais, cuja fonte de produção seja 100% reutilizável — reivindica Yamaguchi. — Não existe atualmente uma forte alternativa ao plástico. No Brasil, é ainda pior, porque a maioria do plástico passa por catadores, onde eles mesmos repassam o descarte às cooperativas. É um método informal, que envolve pessoas de baixa instrução e mal remuneradas.

Segundo o estudo, o plástico não é inerentemente nocivo. É uma invenção criada pelo homem que gerou benefícios significativos para a sociedade: “Infelizmente, a maneira com a qual indústrias e governos lidaram com o plástico e a maneira com a qual a sociedade o converteu em uma conveniência descartável de uso único transformou essa inovação em um desastre ambiental mundial. Aproximadamente metade de todos os produtos plásticos que poluem o mundo hoje foram criados após 2000”.

Pesquisa feita em 2016 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente constatou que a poluição por plástico gerou um prejuízo de mais de US$ 8 bilhões ao mundo, atingindo principalmente os setores pesqueiro, de comércio marítimo e turismo.