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Gritando 'morte aos árabes', israelenses de ultradireita deixam mais de 100 palestinos feridos em Jerusalém

Polícia deteve mais de 50 pessoas durante confrontos, que ocorrem em meio ao Ramadã, mês muçulmano de jejum e oração
Policiais israelenses tentam dispersar confrontos entre palestinos e ultranacionalistas israelenses, em Jerusalém Foto: AMMAR AWAD / REUTERS
Policiais israelenses tentam dispersar confrontos entre palestinos e ultranacionalistas israelenses, em Jerusalém Foto: AMMAR AWAD / REUTERS

JERUSALÉM — Depois de uma noite de violência, mais de 100 palestinos e cerca de 20 policiais israelenses ficaram feridos na madrugada desta sexta-feira, durante confrontos entre judeus de extrema direita, palestinos e agentes das forças de segurança. A polícia deteve mais de 50 pessoas nos distúrbios, que ocorrem em meio ao Ramadã, mês muçulmano de jejum e oração.

Na noite de quinta-feira, centenas de ultranacionalistas israelenses marcharam pelo centro de Jerusalém em direção ao Portão de Damasco, que fora bloqueado pela polícia como medida de precaução. Enquanto marchavam, muitos gritavam "morte aos árabes!" e "morte aos terroristas!".

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Os confrontos da madrugada  começaram quando a polícia israelense escoltou o protesto, organizado pelo movimento judaico de extrema direita Lahava, conhecido pela sua ideologia antipalestina, na entrada da Cidade Antiga de Jerusalém. Centenas de policiais foram enviados para o local e bairros próximos com o objetivo de proteger "a liberdade de expressão" e "o direito ao protesto". Os agentes israelenses tentaram dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo e canhões de água.

— Era como uma zona de guerra, muito perigoso. Fui rapidamente embora de lá — disse à AFP uma testemunha palestina.

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Um participante da marcha ultranacionalista, que se identificou apenas como David, de anos 40, disse que morava longe de Jerusalém, mas decidiu "apoiar seu próprio povo".

— Sou judeu e patriota e tenho orgulho de meu país — afirmou.

O Crescente Vermelho palestino informou que houve ao menos 105 feridos, dos quais 20 tiveram que ser hospitalizados.

Houve confrontos e outros incidentes violentos entre palestinos e israelenses todas as noites desde o início do Ramadã, em 13 de abril. De um lado, palestinos acusam a polícia de tentar impedi-los de realizar suas reuniões regulares em frente ao Portão de Damasco, um marco histórico no lado norte da Cidade Velha. Do outro, vídeos publicados nas redes sociais mostravam jovens palestinos agredindo judeus ultraortodoxos na cidade, gerando protestos de israelenses e apelos de políticos de extrema direita por uma ação policial mais dura.

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— Os palestinos adoram relaxar nesta área depois das orações noturnas na Mesquita de al-Aqsa, mas a ocupação (Israel) não gosta. É uma questão de soberania —  disse Mohammad Abu al-Homus, morador palestino de Jerusalém.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, denunciou os distúrbios e pediu nesta sexta-feira à comunidade internacional que proteja os palestinos de Jerusalém Oriental, o setor árabe da cidade, ocupado por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Em um discurso pronunciado na quinta-feira no Conselho de Segurança, o enviado especial da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, também pediu que a tensão seja contida.

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Nesta sexta, a violência pareceu dar lugar a uma relativa calma, com cerca de 60 mil fiéis muçulmanos passando pela polícia na Cidade Velha para assistir às orações do meio-dia na Mesquita de al-Aqsa. Mas são esperados novos confrontos que ameaçam interromper um período de relativa tranquilidade na cidade sagrada.

Em entrevista ao canal de TV israelense Kan, o prefeito de Jerusalém, Moshe Lion, disse que estava conversando com líderes palestinos de Jerusalém Oriental para encerrar "a violência inútil" que ocorre a um mês das eleições legislativas palestinas.

Os últimos confrontos desta magnitude em Jerusalém aconteceram em agosto de 2019, quando duas importantes festas judaica e muçulmana coincidiram, e houve embates entre policiais israelenses e palestinos. Naquele momento, foi registrado um saldo de 60 feridos na Esplanada das Mesquitas, lugar sagrado do Islã e que os judeus também veneram como Monte do Templo, apesar de só estar autorizado o culto muçulmano em seu interior.