O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira que considera baixo o valor de R$ 200 para as próximas parcelas do auxílio emergencial, como foi defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, mas que os atuais R$ 600 “pesam muito para a União”.
Em discurso durante cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que achará um “meio termo” sobre o benefício para estendê-lo por “mais alguns meses”.
“Hoje tomei café com o Rodrigo Maia [presidente da Câmara]. Os R$ 600 pesam muito para a União, isso não é dinheiro do povo, que tá guardado. Isso é endividamento. E, se o país se endivida demais, acaba perdendo sua credibilidade para o futuro”, afirmou o presidente.
“Então, os R$ 600 é muito, o Paulo Guedes [ministro da Economia], alguém da Economia falou em R$ 200, eu acho que é pouco, mas dá para chegar a um meio termo e nós buscarmos que ele seja prorrogado mais alguns meses, talvez até o final do ano”, disse.
Integrantes do governo sinalizaram aos parlamentares que o auxílio deve ser prorrogado em R$ 250 até dezembro, num meio termo entre os R$ 200 defendidos por Guedes, e os R$ 300 sugeridos pela ala política do governo. Essa seria uma transição para a reformulação do Bolsa Família que o governo prepara com a unificação de outros programas sociais.
Em seu discurso, Bolsonaro afirmou que, somado a outras medidas do governo durante a pandemia de covid-19, o auxílio emergencial chegou a 65 milhões de pessoas e transformou parte dos municípios. “Em municípios mais pobres, chegou a triplicar, quadruplicar ou quintuplicar o dinheiro que chegava na ponta da linha.”
Internamente, o governo avalia que o auxílio foi responsável por impulsionar os índices de popularidade do presidente, apontadas em pesquisa Datafolha na semana passada.
Presente no evento, Guedes repetiu que não há como manter o auxílio emergencial em R$ 600, mas que a instrução do presidente é para fazer “o máximo possível” dentro dos recursos disponíveis.
“Estamos estudando isso. O presidente estava hoje nos instruindo exatamente para lançar essa camada de preservação para frente”, disse o ministro. “O presidente está dizendo: vamos tentar fazer o máximo possível dentro dos recursos que temos, para ir esticando isso", acrescentou.
Bolsonaro utilizou seu discurso para reforçar o apoio a Guedes, que nos últimos dias protagonizou um embate com outros ministros sobre o teto de gastos.
“Estou tão ligado ao Paulo Guedes que eu moro na Alvorada e ele mora no Torto”, brincou, referindo-se às residências oficiais, que ficam próximas, na capital federal. “Não sei qual ministro vai ser demitido na semana que vem pela grande mídia”, provocou.
Isolamento social
Diante de mais de 111 mil mortes pela covid-19 no país, o presidente disse considerar que sempre esteve certo ao pregar a necessidade de limitar o isolamento social para diminuir o impacto econômico da crise.
“A turma do ‘fica em casa’ e a turma do contra disseram que eu sou insensível, que a economia se recupera e a vida não”, afirmou. “Hoje em dia já se começa a notar que, lá atrás, o governo estava no caminho certo. Enquanto se fechava quase tudo no Brasil, nós aqui não paramos”.
“Não vi no mundo quem enfrentou melhor essa questão do que o nosso governo”, emendou. O Brasil é o segundo país do mundo em número de casos e de mortes pela covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos.
Medidas provisórias
No evento no Planalto em que discursou, Bolsonaro assinou duas medidas provisórias (MPs) destinando crédito a micro, pequenas e médias empresas.
A MP 944 institui o Programa Emergencial de Proteção ao Emprego (Pese), voltado à folha de salários. A linha teve baixa demanda e, por isso, R$ 12 bilhões foram realizados para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que teve um aporte inicial de R$ 15,9 bilhões esgotado rapidamente.
Já a MP 975 regula o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (Peac-FGI), voltado para pequenas e médias empresas. O programa autoriza o governo a aportar até R$ 20 bilhões no Fundo Garantidor de Investimentos (FGI), administrado pelo BNDES, que dará uma garantia suplementar aos empréstimos.
A medida ganhou um acréscimo na tramitação para viabilizar até R$ 10 bilhões em empréstimos via maquininhas de cartão, no chamado Peac-maquininhas.
(*Com Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro)