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Cinema; auditório (Foto: Pexels)

Cinema; auditório (Foto: Pexels)

Publicado na noite desta quarta (19) em edição extra do Diário Oficial, um decreto estadual flexibilizou medidas contra a Covid-19 para alguns equipamentos, como cinemas, teatros e centros culturais. A medida, que passou a valer nesta quinta-feira, é voltada a regiões onde é considerado baixo o risco de contaminação — pela avaliação desta quarta, quase todo o estado já estaria na bandeira amarela (risco baixo) e somente as regiões Centro-Sul e do Médio Paraíba estariam na bandeira laranja (risco moderado).

Pelo decreto, os cinemas poderiam receber 40% da lotação original, mantendo dois metros de distanciamento entre as poltronas ocupadas, e observando os protocolos sanitários desenvolvidos pela Federação Nacional Das Empresas Exibidoras Cinematográficas (FENEEC). Já os teatros, salas de concerto e centros culturais estariam aptos a funcionar com um terço dos espaços ocupados, seguindo as orientações e as normativas elaboradas pela Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ). No caso de eventos com a presença de público, que incluem os shows, permanece a suspensão ao menos até 4 de setembro.

A revisão das medidas de controle do contágio, contudo, foi publicada pelo governo estadual em caráter de recomendação, com os municípios tendo "autonomia para manter suas determinações e regras".

No caso da cidade do Rio, as orientações definidas pela Prefeitura no domingo para a Fase 6 do Plano de Retomada devem prevalecer, como ressalta a Secretaria Municipal de Cultura: "A prefeitura informa que o regramento é dado pelo município. O que o estado faz é a recomendação, que normalmente é seguida por cidades que não têm regramento próprio".

Assim, os espaços culturais ainda mantêm o fechamento pelo prazo determinado de 15 dias, até, ao menos, o início de setembro. "Quanto às atividades culturais, incluindo os cinemas, a retomada estava prevista para a Fase 6. Conforme informado na coletiva do último domingo (16/08), a vigência da Fase 5 de flexibilização foi prorrogada por 15 dias. A prefeitura fará a divulgação das novas liberações assim que elas forem definidas e sempre ouvindo o Comitê Científico do município", informa a SMC.

A divergência entre estado e município gerou muitas dúvidas entre produtores e gestores dos espaços. Presidente da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio), Eduardo Barata conta que desde ontem vem sendo procurado para saber se os teatros poderiam abrir ou não na cidade e qual a posição da entidade.

— Ouvindo infectologistas e outros especialistas da saúde, entendemos que há um risco em reabrir agora. Nao é uma questão de ser a favor ou contra, mas sim de ouvir o que diz a ciência e a medicina — ressalta Barata. — Há casos específicos, como o do Teatro Pudential e o Oscar Niemeyer (de Niterói), que têm uma configuração arquitetônica que possibilita abrir o palco para fora, que poderiam funcionar já. Mas e os outros? Como seguir protocolos que orientam deixar portas e janelas abertas? E se um espectador que tenha ido ao teatro se contamine, quem vai garantir que o produtor não será responsabilizado?

No caso dos cinemas, que já tentavam junto à Prefeitura manter o cronograma anterior de reabertura (as salas voltariam a funcionar dia 27), a posição do estado foi vista como mais um fator para convencer as autoridades municipais que os riscos serão controlados pelos protocolos adotados. Na manhã desta quinta, o Sindicato dos Exibidores do Estado do Rio de Janeiro se reuniu com o Secretário Municipal de Cultura, Adolfo Konder; o presidente da Riofilme, Cesar Miranda Ribeiro; e representantes do comitê científico da Prefeitura para detalhar o plano de retomada da atividade no estado.

— Não houve um compromisso, mas conseguimos expôr nossos argumentos e mostrar que os cinemas estão sendo reabertos com segurança em várias partes do mundo — conta Gilberto Leal, presidente do Sindicato. — Ainda não temos notícia de reabertura nos outros municípios do estado, mas estamos orientando os exibidores a procurarem as prefeituras e apresentarem os protocolos que serão adotados.

Especialistas alertam para riscos

Na avaliação da pneumologista da Fiocruz Margareth Dalcomo, a reabertura dos espaços culturais ainda é precoce: seria necessário testar regularmente todos os funcionários para minimizar os riscos de infecção. Ela relata ter conversado com representantes do setor, que disseram não ter ainda condições para realizar testes nessa intensidade. Ela afirma que não é possível hierarquizar as atividades culturais de acordo com os riscos à saúde que podem oferecer, mas lembra que, em casos como apresentações de teatro e dança, há mais chances de infecção devido à interação entre pessoas nos bastidores.

— É um risco muito grande que está sendo assumido. São espaços fechados; se alguém estiver contaminado, há muita chance de contágio — frisa Margareth. — Uma exposição de arte num museu, com número pequeno de visitantes e controle rígido na entrada, ofereceria um risco menor. No teatro, é claro que os atores não vão transmitir o vírus diretamente para a plateia, ou vice-versa, já que eles não têm contato entre si e existe uma relativa distância entre o público e o palco. A questão é o camarim, os bastidores, onde há mais interação.

O infectologista Alberto Chebabo, diretor-médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, também avalia que não é o momento de reabrir os espaços culturais. Segundo Chebabo, o hospital está abrindo novos leitos de Covid-19 neste exato momento: o número de pacientes com coronavírus que dão entrada na unidade cresceu nos últimos dias.

— No caso das atividades culturais, o problema não são as pessoas que estão performando, mas o próprio público, que vai ficar por horas dentro de um ambiente fechado. Eventos ao ar livre têm menos impacto, mas, neste momento, não é a hora de abrir nenhuma atividade. A transmissão no Rio de Janeiro está aumentando outra vez. Daqui a duas semanas, é provável que vejamos uma piora no número de óbitos — alerta.