Um Só Planeta

Garimpo ilegal dobra em um ano na reserva indígena Raposa Serra do Sol de RR

Estimativa do Conselho Indígena de Roraima é que quatro mil garimpeiros estão área, que foi palco de duas operações da PF em 2020
Garimpo conhecido como 'Serra do Atola' Foto: Caique Pinho/02-03-2021
Garimpo conhecido como 'Serra do Atola' Foto: Caique Pinho/02-03-2021

RIO - A Terra Indígena Raposa Serra do Sol, ao norte de Roraima, é o mais novo foco de garimpeiros ilegais. O Conselho Indígena de Roraima (CIR) estima que a presença deles tenha dobrado no último ano, totalizando quatro mil pessoas.

Área cobiçada pelas jazidas de ouro, diamantes e outros minerais, a região já recebeu duas operações da Polícia Federal em março de 2020, quando foi estimada a presença de dois mil garimpeiros ilegais. A terra indígena abriga mais de 209 comunidades e mais de 25 mil pessoas.

Lideranças locais atribuem o problema à falta de fiscalização e incentivo simbólico do governo federal:

— No espaço de um ano vimos o resultado do incentivo institucional para a prática de uma atividade ilegal. O que já atingia outras regiões, agora toma conta dos rios Maú, Cotingo e Kinô, onde as atividades seguem a pleno vapor durante a pandemia. Além da poluição dos rios pelo uso de mercúrio e o impacto na fauna aquática, o garimpo ilegal já fez o tráfico de drogas e o trabalho escravo virarem uma realidade na região indígena — afirma o macuxi Edinho Batista de Souza, vice coordenador do CIR.

Em uma lista com 19 iniciativas prioritárias para o governo do presidente Jair Bolsonaro está um projeto de lei que trata da regulamentação da exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas.

Bandeira antiga do presidente, o garimpo em áreas demarcadas é defendido por ele como liberdade de escolha e oportunidade de trabalho para os povos indígenas. Em uma live no Palácio do Planalto, em 2019, Bolsonaro afirmou:

— Vocês estão em cima de trilhões de reais. Não podem continuar sendo pobres em cima de uma terra rica.

Imagens aéreas produzidas pelo CIR mostram a situação atual no garimpo conhecido como Serra do Atola, mesmo local visitado pela PF um ano atrás. Dezenas de barracas se espalham pela região onde é feito o garimpo de barranco. Nessa modalidade, as calhas dos rios são exploradas em busca de ouro, tendo como consequência prática o desmatamento e contaminação da água por mercúrio. Segundo o CIR, já faltam peixes que antes eram um dos principais meios de autossuficiência dessas comunidades indígenas.

Após denúncias feitas para o Ibama, Exército, MPF e outros órgãos de controle não surtirem efeito, o CIR aguarda retorno do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, para onde enviou um relatório denunciando ameaças sofridas por líderes indígenas, ocupações ilegais e crimes ambientais na Raposa Serra do Sol.