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Olimpíada de Tóquio está marcada para acontecer de 24 de julho a 9 de agosto (Foto: Getty Images)

Olimpíada de Tóquio está marcada para acontecer de 24 de julho a 9 de agosto (Foto: Getty Images)

A Olimpíada de Tóquio começou na última sexta-feira, 23, quando foi realizada a abertura oficial dos jogos. Pela primeira vez na história, a festa foi realizada sem a presença de público, e a maioria das mobilidades esportivas também não estarão abertas à plateia devido ao estado de emergência vigente nas regiões japonesas mais afetadas pela pandemia de Covid-19.

Os gastos do país com os jogos eram estimados, inicialmente, em torno de US$ 7,3 bilhões. Mas, em 2019, antes mesmo da pandemia do novo coronavírus, uma auditoria pública do governo japonês constatou que seriam desembolsados US$ 28 bilhões na realização da Olimpíada.

A situação sanitária levou a maior parte da população do país a reivindicar o adiamento ou o cancelamento dos Jogos Olímpicos, mas os organizadores decidiram realizá-los sem a presença do público, o que aumenta ainda mais os custos, já que não haverá receita proveniente de ingressos.

Contudo, segundo um estudo feito pela Universidade de Oxford, todos os Jogos Olímpicos realizados desde 1960 excederam o orçamento previsto, com o ajuste da inflação, em uma média de 172%. De acordo com reportagem publicada no jornal The New York Times, a pesquisa concluiu que esses dispêndios eram “o maior transbordamento já registrado para qualquer tipo de megaprojeto”, muito superior a estradas, pontes e barragens, por exemplo.

Segundo dados coletados pelo Conselho de Relações Exteriores, os Jogos de 2016, realizados no Rio de Janeiro, tinham um orçamento de US$ 14 bilhões, mas os gastos estimados foram de US$ 20 bilhões. Já os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sochi, na Rússia, previam gastos da ordem de US$ 10,3 bilhões, mas tiveram uma despesa de mais de US$ 51 bilhões. Por sua vez, as Olimpíadas de Londres, em 2012, pretendiam gastar US$ 5 bilhões, mas o custo foi de US$ 18 bilhões.

Uma outra pesquisa, publicada no Journal Of Economic Perspectives, examinou como as projeções econômicas otimistas sobre o impacto dos Jogos Olímpicos se comparam à realidade. Neste estudo, concluiu-se que os efeitos "são próximos de zero ou uma fração do previsto antes do evento".

Andrew Zimbalist, professor do Smith College e pesquisador sobre os impactos econômicos dos Jogos Olímpicos, acredita que serão gastos valores mais altos na Olimpíada de Tóquio do que fora previsto pela auditoria de 2019. Ele também prevê que o prejuízo será de pelo menos US$ 35 bilhões.

O professor comentou à reportagem do jornal norte-americano que o comitê de organização dos jogos separa o orçamento para ser gasto durante os 17 dias do evento, além de despesas com locais temporários, que foram incluídas nos últimos anos. Porém, os principais custos – como as construções do estádio nacional, da Vila Olímpica, da vila de mídia e de infraestrutura de transportes, comunicações e hospitalidade – não fazem parte daquela quantia determinada. “O número em si é muito fungível, dependendo do que você deseja incluir”, argumentou Zimbalist.

Mesmo com as adversidades econômicas apresentadas, o pesquisador explicou que as indústrias da construção civil são as principais lobistas na disputa entre as diversas cidades do mundo para sediar uma Olimpíada.

“A principal resposta é que você tem os executivos da indústria de construção decidindo que isso seria uma coisa maravilhosa para seu setor. Eles vão conseguir bilhões de dólares em contratos. Eles podem alinhar, é claro, os sindicatos e alguns banqueiros de investimento. Eles contratam uma empresa de consultoria para fazer um estudo de impacto econômico, que usa uma metodologia falha e faz algumas suposições irrealistas. E eles dizem ‘Nossa, isso vai colocar nossa cidade no mapa’", afirmou o professor ao The New York Times.

Zimbalist também acrescentou que, desde que cidades europeias se retiraram da concorrência nos últimos anos para a realização dos Jogos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) tornou o processo de licitação secreto.

Para o estudioso, o Japão aceitou fazer parte da competição em sediar a Olimpíada para demonstrar ao resto do mundo que havia se recuperado economicamente e também em relação ao desastre nuclear de Fukushima.

“Em 1964, uma das coisas que deixou o Japão tão feliz quando sediou as Olimpíadas foi a oportunidade de dizer ao mundo: ‘não fazemos mais parte das potências do Eixo. Somos uma sociedade capitalista jovem e em crescimento’. Até certo ponto funcionou, pois eles estavam se transformando dramaticamente", afirma Zimbalist. Segundo ele, a ideia de que a Olimpíada poderia gerar um novo efeito positivo foi propagada na licitação em 2013.

O pesquisador também defende que os Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno fossem realizados em uma única cidade. “Se vivêssemos em um mundo racional, teríamos a mesma cidade sediando os Jogos a cada dois anos. Não há razão para reconstruir o Shangri-La Olímpico a cada quatro anos. Não faz sentido para as cidades. Certamente não faz sentido do ponto de vista das mudanças climáticas. Quando as Olimpíadas modernas foram criadas em 1896, não tínhamos telecomunicações internacionais e [nem] viagens internacionais a jato. Então, para que o mundo participasse e aproveitasse as Olimpíadas, era necessário movê-lo. Não precisamos mais fazer isso”, defendeu Zimbalist.

Por fim, o estudioso comentou sobre as construções desnecessárias nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que serão realizados no início do ano vem.

“Eles estão fazendo coisas realmente malucas. Eles selecionaram dois locais a 96,5 km e 193,1 km ao norte de Pequim para sediar os eventos de esqui nórdico e alpino. Ambas as áreas são áridas – não muito longe do deserto de Gobi. Eles têm que investir dezenas de bilhões de dólares em um sistema de transferência de água porque vão ter de usar neve artificial. Nada disso vai aparecer no orçamento olímpico. É extremamente estúpido gastar tanto dinheiro para promover o esqui no norte da China quando não é um esporte muito popular. Eles admitiram ter gastado US$ 44 bilhões para os Jogos de Verão de 2008”, concluiu Zimbalist.

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