Rio Bairros

Fechado há três anos, teleférico faz falta para moradores do Complexo do Alemão

Sem previsão de reabertura, estruturas de metal usadas no transporte se deterioram a céu aberto
Uma das mais altas, estação do Morro do Adeus está depredada e com lixo despejado de forma irregular Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Uma das mais altas, estação do Morro do Adeus está depredada e com lixo despejado de forma irregular Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

RIO — Imagine subir ladeiras por quase uma hora para chegar em casa todos os dias e conviver rotineiramente com a falta de transporte no bairro. Esta é a reclamação dos moradores do Complexo do Alemão após o fechamento do teleférico há três anos. Resultado de um investimento de R$ 328 milhões, o sistema transportava, em média, dez mil passageiros por dia (em 2012) e ligava seis comunidades da Zona Norte através de estações, totalizando a travessia do circuito em 16 minutos. Os moradores lamentam o abandono das estruturas e estações.

A operação durou cinco anos até que, em 2016, a Secretaria de Estado de Transportes (Setrans) anunciou que faria uma paralisação de seis meses para manutenção devido ao desgaste de um dos cabos de aço utilizados. Antes mesmo da intervenção, o sistema foi interrompido por falta de pagamento à empresa que administrava o transporte. Depois disso, todos os serviços foram suspensos.

Estruturas de metal deixadas ao tempo

Roldanas e cabos de metal largados na estação do Morro do Adeus Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Roldanas e cabos de metal largados na estação do Morro do Adeus Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

Na região, quem olha para o alto gostaria de ver uma das 152 gôndolas que transportavam os passageiros do Teleférico do Alemão. Ao contrário do almejado, as estações de Bonsucesso, Morro do Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Palmeiras seguem sem manutenção. Sob ação do tempo, roldanas e carretéis gigantes de cabos de metal foram deixados para trás. Os equipamentos que eram usados no circuito permanecem presos às estações.

— Se algo se romper, pode cair em cima das casas. Depois que o teleférico parou, as comunidades não recebem atenção. Não há nem limpeza — diz o vice-presidente da Associação de Moradores do Morro do Adeus, Luiz Henrique Soares.

Leia mais: Violência e falta de verba travam o teleférico do Alemão, parado há três anos

Morador há 48 anos do Adeus, uma das comunidades mais altas do Alemão, o aposentado João Francisco Nunes, de 78 anos, lembra de atravessar a comunidade pelo alto. Sem condições físicas de encarar as ladeiras, alugou um apartamento na parte baixa para que a mulher, de 75 anos, não sofra.

— Era uma maravilha justamente para quem está numa idade como a nossa. A dificuldade é muito grande sem transporte — lamenta ele.

Com o abandono das estruturas do teleférico, medo dos moradores é que os cabos se rompam e causem acidentes Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Com o abandono das estruturas do teleférico, medo dos moradores é que os cabos se rompam e causem acidentes Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

A retomada do teleférico foi uma das metas do governador Wilson Witzel para os 180 primeiros dias de seu mandato. Passado um ano, o projeto permanece estagnado depois de um diagnóstico das condições operacionais do sistema feito em setembro. Em entrevista ao site oficial do Estado, o secretário de Transportes, Delmo Pinho, classificou a reativação do modal como um desafio. Em nota, a Setrans limitou-se a responder que emprega esforços visando à reativação, sem informar datas.

— A esperança é que o teleférico volte a funcionar, pois sabemos que muito dinheiro foi gasto para ele ficar assim abandonado — diz Nunes.

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