• Mariana Fonseca
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Lara Lemann e Mônica Saggioro, da Maya Capital (Foto: Maya Capital/Divulgação)

Mônica Saggioro e Lara Lemann, da Maya Capital (Foto: Maya Capital/Divulgação)

Para alguns empreendedores brasileiros, o desejo de resolver grandes problemas vem de experiências logo no começo da vida. É o caso dos estudantes Vinícius Garcia e Igor Marinelli. Os alunos de graduação e pós-graduação, respectivamente, buscam resolver dores como diagnóstico preciso na saúde e manutenção inteligente nas indústrias. E um fundo de investimento já está de olho em suas empreitadas.

Os empreendedores foram os ganhadores da segunda edição do Pitch Competition. O evento é organizado pelo fundo de estágio inicial Maya Capital. Criado por Lara Lemann e Mônica Saggioro, a Maya escreve o primeiro cheque para startups na América Latina.

O fundo já investiu em 22 empreendimentos de setores como finanças, logística, mobilidade, propriedades e saúde. Também fornece apoio aos empreendedores para atingir tração comercial e para rodadas futuras, inclusive com follow on da própria Maya.

O Pitch Competition é voltado para estudantes de graduação e pós-graduação com ideias de negócio na cabeça. Desta vez, participaram alunos de instituições como FGV, Insper, PUC, UFSCar e USP. Além das fundadores da Maya Capital, participaram da banca de avaliação. Camilla Junqueira, diretora da Endeavor; Renata Favale, codiretora do Cubo Itaú; e Renato Freitas, cofundador da 99 e da Yellow.

"Para a Maya ser bem-sucedida, precisa atuar em um ecossistema maduro, com gente boa encarando problemas grandes por meio de soluções ousadas. Somos parcialmente responsáveis por fomentar esse ecossistema no país, sendo o Pitch Competition uma dessas frentes. Vimos muitos alunos de férias na pandemia, sem poder sair de casa, e decidimos incentivá-los a pensar em dores de forma inovadora", afirmou Lara a Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Por mais que sejam jovens, os empreendedores selecionados demonstraram experiências prévias no problema, soluções inovadoras mas viáveis e um grande mercado potencial. Todos os participantes do Pitch Competition foram divulgados pela Maya. Os primeiro e segundo lugares em graduação e pós-graduação escolheram um mentor dentre os jurados. Já os vencedores em cada categoria receberam também R$ 2 mil cada.

DiagoNow: diagnóstico preciso de doenças
A DiagoNow foi a vencedora no grupo de graduação. A healthtech tem uma ferramenta com algoritmos próprios para auxiliar no diagnóstico e no prognóstico de covid-19. O fundador Vinícius Garcia lidou com desafios de saúde na adolescência, como quimioterapia. Tendo pais empreendedores, criou há dois anos um aplicativo para reduzir acidentes no trânsito causados pelo uso do celular.

O Arquimedes chegou a receber um aporte da Renault, mas um nódulo no pulmão fez Garcia parar o projeto. Enfrentou um diagnóstico falho: um fungo foi tratado como outro caso de câncer, levando a um procedimento mais agressivo do que o necessário. Daí surgiu a ideia de aplicar a inteligência artificial no diagnóstico de saúde. O estudante de engenharia da computação na USP de São Carlos começou o negócio em março deste ano.

"Existem pessoas boas e inteligentes nas universidades brasileiras, que acabam indo trabalhar fora e se destacam internacionalmente. Faltam pessoas que acreditam no país, e acho vem da falta de iniciativas como essa competição de pitches. É preciso apoiar quem está tentando empreender", afirmou Garcia.

Vinícius Garcia, da DiagoNow (Foto: DiagoNow/Divulgação)

Vinícius Garcia, da DiagoNow (Foto: DiagoNow/Divulgação)

A DiagoNow processa exames laboratoriais e os compara a uma base de dados de 13 mil pacientes. Sua IA percebe padrões que médicos não conseguiriam enxergar no tempo de uma consulta, diminuindo erros médicos. Alguns parceiros são Albert Einstein, Beneficência Portuguesa e Fleury.

Nos próximos dois meses, a startup estará com seu diagnóstico de covid-19 em 15 hospitais. A DiagoNow está melhorando sua tecnologia não apenas para indicar casos prováveis e improváveis de covid-19, mas sugerir passos como internação em UTI. A mentora da DiagoNow é Camilla Junqueira, diretora geral da Endeavor. Ela ajudará a healthtech a definir seus passos depois da pandemia, como a expansão para diagnósticos de outras doenças.

Tractian: manutenção 4.0 de indústrias
O grupo de pós-graduação foi liderado pela Tractian. A startup de indústria 4.0 ajuda profissionais de manutenção a gerir ativos e a realizar a manutenção antes que as falhas aconteçam. O negócio foi criado pelos empreendedores Igor Marinelli e Gabriel Lameirinhas. Eles se conheceram durante a faculdade, também na USP de São Carlos. Antes da Tractian, abriram a ONG Somos Todos Heróis. "Tínhamos interesse em fazer coisas que pareciam difíceis. Tivemos 10 pessoas e foi uma experiência fundamental para empreender", diz Marinelli.

Igor Marinell e Gabriel Lameirinhas, fundadores da Tractian: startup oferece solução para prever falhas em equipamentos (Foto: Divulgação)

Igor Marinell e Gabriel Lameirinhas, fundadores da Tractian: startup oferece solução para prever falhas em equipamentos (Foto: Divulgação)

Os pais dos dois sócios trabalham com manutenção. Marinelli programava desde os 13 anos de idade e testou algumas programações para ajudar a reduzir as longas horas de trabalho do pai. Depois, foi trainee na indústria de papel e celulose para viver o dia a dia de uma fábrica. "Queria fazer um código produtizável na área de manutenção, então fui escalado para isso ainda como trainee".

A experiência virou a Tractian, que instala sensores de temperatura e vibração em bombas hidráulicas e elevadores, por exemplo, para indicar falhas atuais e futuras. A startup tem 70 sensores instalados em 12 clientes, entre provas de conceito e soluções com mensalidade já cobrada. O plano é chegar a 500 sensores até o final deste ano. O mentor da Tractian é Renato Freitas, cofundador da 99 e da Yellow. Os conselhos serão focados em como preparar a startup para a próxima captação -- a Tractian já recebeu R$ 175 mil em investimento anjo.

Lara afirma que os empreendedores podem inclusive virar uma oportunidade de investimento para a Maya. "Continuamos buscamos ótimos negócios, que resolvam os problemas mais relevantes da América Latina. Durante esta crise, só surgirão ainda mais problemas a serem resolvidos -- e suas soluções estarão na inovação."