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Por Nabil Ghorayeb

Médico cardiologista do HCor, doutor em Cardiologia (FMUSP), fundador do CardioEsporte do Instituto Dante Pazzanese, Prêmio Jabuti (Literatura, Ciência e Saúde)

São Paulo


O mês de novembro, que chegará em alguns dias, é o da prevenção do câncer de próstata, glândula exclusiva do gênero masculino. O melhor para prevenir a doença ainda é fazer um diagnóstico precoce pela combinação de alguns exames: homem precisa se acostumar em ter seu urologista como a mulher tem o seu ginecologista. Parece algo simples de se convencer, mas existe um grande problema, a resistência ao exame do toque retal, associado à falta de exame mais eficiente do que a simples dosagem do PSA. Mudanças estão em andamento, ainda temos muito que fazer. O câncer de próstata é o mais frequente no homem, mas perfeitamente curável sem sequelas se descoberto em tempo. Uma grande vantagem para os homens é que seu crescimento em geral é lento e o risco de morte é baixo: em 10 anos não passa de 7%. Essas características nos dão grande chance de cura total.

Convidei o urologista Marcelo Wroclawski, do HCor, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo, para nos atualizar sobre esse importante tema:

Exercícios aeróbicos como caminhadas, corridas e ciclismo são indicados como complemento ao tratamento do câncer de próstata — Foto: iStock Getty Images

“Nos dias de hoje, a tendência é que estratégias individualizadas de rastreamento, adaptadas ao risco de cada paciente, devam ser empregadas. Para isto, cada vez mais surgem dados que justificam a dosagem do PSA por volta dos 40 anos; e naqueles com PSA acima de 0,7 ng/ml durante a quinta década de vida, um esquema mais rigoroso de rastreamento deve ser utilizado, pois eles constituem grupo de maior risco. Por outro lado, nos indivíduos com PSA abaixo da mediana para a idade, protocolos com rastreamento menos intenso talvez possam ser adequados. A idade para se interromper o rastreamento também é bastante questionável. Com pacientes cada vez mais longevos, parece ser inapropriado o estabelecimento de 70 anos como data definitiva para encerrar o rastreamento. A utilização da expectativa de vida como balizador para a realização do rastreamento em pacientes mais idosos parece ser um critério mais adequado.

Novas ferramentas, que buscam melhorar a eficiência da biópsia prostática, vêm sendo desenvolvidas e ganham mais espaço na prática clínica. Biomarcadores tumorais, como o 4K Score, o Prostate Health Index (PHI) e o PCA3 (dentre outros), podem selecionar melhor os pacientes que realmente precisam de biópsia. A Ressonância Magnética multiparamétrica de próstata consegue estratificar o risco da presença de câncer de próstata clinicamente significativo e, quando associada à biópsia por fusão, diagnostica de maneira mais precisa os casos de risco intermediário e alto, que realmente precisam de tratamento ativo. As informações fornecidas por estes testes devem ser incorporadas aos protocolos de rastreamento, a fim de reduzir o diagnóstico exagerado (overdiagnosis), principalmente de tumores que não são clinicamente significantes e não irão interferir na sobrevida do paciente.

O tema realmente é complexo. Se por um lado o rastreamento indiscriminado pode trazer malefícios à qualidade de vida, o não rastreamento certamente provoca piora da sobrevida. Portanto, um esquema individualizado de rastreamento para câncer de próstata com base no risco de cada homem deve ser empregado para que se atinja o equilíbrio nessa balança e se encerre essa controvérsia”.

E importância do exercício físico?

Se descoberto precocemente, o câncer de próstata tem 90% de chance de cura — Foto: Istock Getty Images

As várias pesquisas demonstraram diferenças nos homens ativos quando comparados com sedentários no aparecimento e cura desse problema, e isso tem números importantes: chegou a 30% a porcentagem de diminuição de morte pelo câncer em homens fisicamente ativos. Mesmo as pesquisas em animais demonstraram que o exercício físico regular diminuiu o crescimento de tumores digestivos e outros, estabelecendo um verdadeiro efeito protetor contra vários tipos de câncer. Outra boa notícia é que a Hiperplasia Benigna da Próstata teve quase 60% a menos de chance de ocorrer nos indivíduos mais ativos fisicamente antes dos 65 anos, isso passando a acontecer só com mais idade.

E quanto aos melhores exercícios indicados?

Segundo Stacey Kenfield grande pesquisador da Universidade de Harvard e do Centro de Pesquisas do Brigham and Women’s Hospital, ambos de Boston, os portadores de câncer de próstata, depois de serem diagnosticados, ao fazer no mínimo 15 minutos diários de exercícios aeróbicos moderados como caminhadas, corridas e ciclismo tiveram mudança positiva na qualidade de vida; isto é, a atividade física funcionou como verdadeira química antidepressiva comum nesses casos. Mais tempo de atividades físicas e mais intensas como no trote, isto é, mais de três horas por semana, foi importante na prevenção desse tipo de câncer, como também na saúde em geral.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do ge / EuAtleta.com.