Por Lucas Figueira, G1 Triângulo e Alto Paranaíba


Lixo nas ruas pode favorecer enchentes e atrair animais peçonhentos, diz consultor ambiental — Foto: G1

Mais de 170 mil toneladas de lixo descartado de forma irregular foram recolhidos em 2019 em Uberlândia, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Serviços Urbanos. E um dos locais onde os flagrantes são mais registrados é na região central da cidade.

O comportamento das pessoas em relação ao lixo é o tema da terceira reportagem da série "Na rota do lixo", que mostra também iniciativas do poder público, destinação do que é descartado, trabalhos de reciclagem e ações sociais.

A reportagem percorreu o Centro de Uberlândia, principalmente na Praça Tubal Vilela. Segundo quem trabalha na região, muitas pessoas são flagradas jogando lixo nas calçadas e ruas. A reportagem também encontrou bons exemplos de pessoas que se preocupam com a limpeza da cidade.

A antropóloga Lídia Maria Meirelles falou ao G1 sobre o comportamento das pessoas que "não pensam na geração futura" e o consultor ambiental Eduardo Bevilaqua pontuou quais consequências esse hábito pode gerar ao meio ambiente (veja abaixo).

Descaso

Lixeiras ficam disponíveis nas calçadas da região central de Uberlândia — Foto: Lucas Figueira/ G1

Quem trabalha com limpeza na região central da cidade relata sobre flagrantes e situações de descarte de lixo no chão. Como o Lázaro Pereira, que é funcionário da empresa responsável pela limpeza na Tubal Vilela. Ele contou sobre momentos de desrespeito pelo cidadão.

“Eu estava varrendo a praça, aí um cara jogou uma caixa cheia de cascas onde eu tinha acabado de varrer. Ele ainda falou que estava me ajudando, sujando a praça pra me dar serviço”.

Ele também desabafou dizendo que ao serviço de varredor de rua e coletor de lixo costuma ser desvalorizado. “Eu fico meio chateado, por que é um trabalho digno também. Pessoas, as vezes, até sente nojo da gente, é muito triste. Varredor, é desvalorizado em qualquer lugar”, completou.

Maria das Graças, de 62 anos, também realiza a limpeza na praça. Ela conta que, mesmo sempre vendo o descarte irregular, nunca fala nada ou dá bronca em ninguém.

“Eu sempre vejo o povo jogando lixo na minha frente, mas a gente não pode falar nada, tem que deixar jogar e recolher depois”, explicou.

Hábito

Lixo jogado nas ruas de Uberlândia vão parar nos bueiros — Foto: Reprodução/TV Integração

Segundo a antropóloga Lídia Maria Meirelles, o hábito de jogar lixo no chão é um problema causado pela sociedade na qual as pessoas estão inseridas.

“O descaso com o meio ambiente é um costume absorvido socialmente, o ser humano se esquece de se incluir na natureza”.

Ela ainda cita que a população não pensa no futuro. “Ainda vivemos de forma imediatista, pensando na natureza como celeiro inesgotável. O momento atual é o que importa, não pensamos no futuro, nas novas gerações e o que vamos deixar”, disse.

Lídia lista duas características que podem reverter a falta de educação das pessoas como sendo a sustentabilidade e consumo consciente. "É uma questão que diz respeito a todos e não somente de uma parte da sociedade. O consumo consciente pressupõe compreender que tudo que se consome, seja um serviço ou produto, pode gerar efeitos negativos no ambiente natural e social”, completou.

Ainda segunda antropóloga, apesar de tudo, as pessoas têm noção do que fazem. “Temos consciência dos desdobramentos que o lixo provoca com as enchentes e inundações. Mas, aquele papelzinho de bala que jogamos na rua ainda parece inocente”.

Bons exemplos

Manoel 'do Picolé' leva um lixo junto com o carrinho de sorvete em Uberlândia — Foto: Lucas Figueira/ G1

Por outro lado, a reportagem flagrou pessoas que dão bons exemplos quando o assunto é recolher lixo. Para evitar sujeira nas ruas, o vendedor de picolé Manoel Fernando leva a própria lixeira. "Eu tenho minha sacolinha separada para que os clientes coloquem o lixo. Mas mesmo assim o povo joga o lixo no chão", explicou o profissional que trabalha na praça há nove anos.

Irene Nunes, que trabalha há 14 anos na praça, vai além e leva até outros objetos para ajudar na limpeza, como vassoura. "Eu sempre recolho o lixo que o pessoal que compra aqui joga no chão, trago até minha vassourinha para ajudar na limpeza, explicou a comerciante”.

Ela conta que as vezes as pessoas até jogam no lixo, mas alguns caminham um pouco e jogam no chão.

Vendedora Irene Nunes leva vassoura para limpar a Praça Tubal Vilela, em Uberlândia — Foto: Lucas Figueira/ G1

O vendedor Kainan Cardoso contou que roda por diversas praças há pelo menos 10 anos e sempre leva com ele a lata de lixo. E quando flagra alguém jogando no chão, chama a atenção da pessoa.

"Eu sempre tive consciência, afinal, sempre trabalhei em praça pública. Toda a praça que eu vou, junto com a barraca, eu levo uma lixeira para poder manter nosso próprio lixo", ressaltou.

Consequências

O consultor ambiental Eduardo Bevilaqua também falou sobre o mau hábito do cidadão que joga lixo em locais inapropriados.

“As pessoas têm uma relação utilitarista muito desconectada das consequências dos seus atos. Ele pega um copo descartável para beber agua, usa apenas uma vez e joga fora. O copo descartável demora um segundo para ser feito e ficam 50 anos na natureza”, explicou.

O consultor ainda explicou quais são os resultados do descarte irregular. “De imediato, quando você descarta, prejudica a qualidade de vida, facilita a proliferação de animais peçonhentos e favorece inundações”.

Uma das questões explicadas por Bevilaqua é de que, em médio prazo, a educação das pessoas sobre o assunto também é prejudicada.

“Fortalece os fatores negativos de educação da população, passa a ser natural ter saco de lixo na rua ou terreno mal cuidado. É a banalização da degradação ambiental”, finalizou.

Ambientalista afirma que hábito das pessoas em jogar lixo nas ruas passa a ser natural e fala sobre as consequências para a natureza — Foto: Reprodução/TV Integração

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!