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Rio

Estado do Rio tem quatro das dez cidades do país com pior tratamento de esgoto

De acordo com ranking do saneamento básico, o Estado do Rio caiu nove posições desde 2020
Sistema de esgoto de São Gonçalo entra em colapso sanitário. Na foto: Rua Maria Rita, São Gonçalo, anunda toda vez que chove, inúmeros boeiros coberto de esgoto. Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Sistema de esgoto de São Gonçalo entra em colapso sanitário. Na foto: Rua Maria Rita, São Gonçalo, anunda toda vez que chove, inúmeros boeiros coberto de esgoto. Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RIO — Às vésperas do leilão da Cedae, embates políticos e judiciais pelo futuro da companhia levantam questões sobre os serviços prestados pela companhia à população do Rio. O último ranking do saneamento básico, produzido pelo Trata Brasil, não deixa dúvidas sobre o tanto que os serviços de água e esgoto precisam melhorar. O Estado do Rio caiu para o 43º lugar na avaliação da situação do setor entre os cem maiores municípios do país. E, entre as dez cidades com os piores indicadores, estão quatro fluminenses: Belford Roxo, Duque de Caxias, São Gonçalo e São João de Meriti — à exceção da última, todas atendidas atualmente pela Cedae , conforme informações das prefeituras.

Falta de Saneamento básico em Belford Roxo, no bairro Vila Maia Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo
Falta de Saneamento básico em Belford Roxo, no bairro Vila Maia Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

Lançados em março deste ano, os dados são referentes ao ano de 2019. De acordo com o relatório, junto a outras seis cidades do Norte, o Rio foi o único estado do Sudeste que ficou nos últimos dez lugares do ranking. Na capital, o cenário também não é dos melhores. Cerca de 34% do total de esgoto gerado pela população carioca ficam sem tratamento.

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O biólogo Mário Moscatelli, que há anos fiscaliza a poluição da Baía de Guanabara, observa que municípios como São Gonçalo devem usar os 3% a que terão direito da outorga para melhorar as condições de vida da população, que também contribuíram para a ocupação desordenada que ameaça o meio ambiente.

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— Não é possível que uma metrópole no século XXI ainda viva com problema de saneamento. Todo o entorno da Baía de Guanabara é esgoto puro. Os principais cartões-postais do Rio foram transformados em cartões-fecais — critica.

Em nota, a Cedae afirma que não realiza os serviços de coleta de esgoto em São João de Meriti, apenas de abastecimento d’água. Ainda segundo o comunicado, em relação ao esgoto dos municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias, a companhia atende somente nas áreas de sistemas de separador absoluto Ja no município de Saõ Gonçalo, os serviços de esgotamento sanitário são oferecidos integralmente pela Cedae, que afirma que o Estado está investindo, atualmente, cerca de R$ 450 milhões em sistemas de esgoto do municípios.

É preciso “oxigenar”

De acordo com o pesquisador Igor Lopes, da Fundação Getulio Vargas, oxigenar o setor de saneamento ao trazer a iniciativa privada se faz necessário:

— A concessão entra para melhorar a eficiência, gerar emprego e universalizar o saneamento pelo estado. Se empresas públicas funcionam de maneira adequada, elas devem continuar. Mas, no caso da Cedae, é fazer uma mudança em algo que não está dando certo. Do jeito que está, não dá.

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A disputa pela concessão da Cedae vai reunir grandes grupos econômicos do país , fundos de investimentos internacionais e até a estatal paulista Sabesp, controlada pelo governo de São Paulo. Segundo fontes do GLOBO, a Sabesp integra o consórcio liderado pela Iguá Saneamento, interessado nos lotes 1 e 2. A Iguá é controlada por um fundo de investimentos (63,48%) e tem entre os sócios o Bndespar (10,89%), fundo de investimentos do BNDES, que fez a modelagem da concessão. A Iguá tem 18 contratos de saneamento no país, sendo quatro parcerias público-privadas.

Estação de tratamento de água e esgoto da Cedae Foto: Brenno Carvalho / Agencia O Globo
Estação de tratamento de água e esgoto da Cedae Foto: Brenno Carvalho / Agencia O Globo

O consórcio Egea (que disputa os lotes 1, 2, 3 e 4) é liderado por uma empresa fundada em 2010 e tem contratos de concessão de água e esgoto em 126 municípios, onde vivem 11,2 milhões de pessoas. Com 47 empresas, o grupo atende a cidades como Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia (RJ). O controle acionário é da Equipav (70,72% das ações), fundada nos anos 60, que tem mais dois acionistas: o Fundo Soberano de Cingapura (19,08%) e o grupo Itaú (Itaú/SA), que, na terça-feira, aportou R$ 1,3 bilhão para obter 10,20% de participação na empresa.

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O Consórcio Redentor (que concorre aos lotes 1, 2 e 4) tem à frente o Grupo Equatorial (Squadra Investimentos, com 9,84%; Opportunity, 9,66%; e o fundo americano Black Rock, 5,67%; entre outros). O grupo faz a gestão de empresas de energia no Maranhão, no Pará, no Piauí e em Alagoas. E tem participações em companhias de distribuição e termoelétricas. Com representação no Brasil, o Black Rock cuida de ativos de mais de US$ 20 bilhões em todo o mundo.

O Consórcio Rio Mais Saneamento (que se candidatou aos lotes 1, 2 e 4) tem entre os participantes a BRK Ambiental, que opera concessões e PPPs em mais de cem cidades. O controle acionário é do canadense Brookfield Business Partners LP (70%). Segundo fontes, a BRK participa da concorrência ao lado do Grupo Águas do Brasil, que opera em Niterói e na Zona Oeste.