Blog do Octavio Guedes

Por Octavio Guedes

Comentarista de política da GloboNews e eterno repórter. Participa do Estúdio I, Em Ponto e Edição das 10h


Policiais civis durante operação na manhã da quinta-feira (6) no Jacarezinho, no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

O que aconteceu na quinta-feira (6) no Rio de Janeiro, do ponto de vista político, foi o batismo de sangue do governador Cláudio Castro (PSC). A operação no Jacarezinho é a mais letal da história do RJ.

Castro agora tem uma chacina para chamar de sua, e isso o credencia a se apresentar como um candidato raiz do bolsonarismo, da lógica do abuso da força policial.

A conversão de Claudio Castro ao bolsonarismo profundo se choca com uma sinalização feita à oposição durante as tratativas do impeachment de Witzel. No primeiro semestre de 2020, parte da oposição cogitava mandar o governador e seu vice para casa. Impeachment duplo. Emissários de Castro sinalizaram, principalmente para a bancada do PSOL que, uma vez no cargo, não seguiria a política do tiro, porrada e bomba de Witzel. Alinhamento rompido ontem com 25 cadáveres.

VÍDEO: Veja as imagens mais impactantes da operação policial no Rio

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O batismo

É fato que os policiais enfrentaram bandidos com armas e lógica de guerra. O arsenal apreendido impressiona. O policial do Rio trabalha em situação excepcional, de guerra, que não se vê em outras metrópoles. E ninguém pode afirmar, sem conhecer a investigação, que houve execuções, apesar do histórico de truculência da polícia fluminense.

Então, pergunta o leitor: em que momento entra o batismo político de Castro, o batismo de sangue?

Na sua postura pós-chacina. Em nota, Castro se colocou incondicionalmente ao lado da polícia, como manda o figurino de seu chefe político. Não mandou nenhuma sinalização para frear a letalidade policial. Nem o protocolar anúncio de "investigações rigorosas". Castro avalizou o trabalho policial sem ter certeza do que aconteceu. E, absurdo dos absurdos: chamou a maior matança da história da polícia fluminense de "trabalho de inteligência. "

Ora, em qualquer lugar do mundo, uma operação que resulta na morte de um policial é um fracasso de inteligência. Se essa operação, além do policial morto, deixa dois civis que viajavam de metrô baleados, é um ultraje. No mínimo, cai o chefe da polícia e o governador vem a público se desculpar.

Na lógica bolsonarista, essa operação é um sucesso. Um policial morto e dois civis baleados são efeito colateral. O bom é dizer que 24 vagabundos foram para a vala. É esse o discurso implícito na nota de Castro.

Vamos olhar, ainda, por outro ângulo: a polícia cumpriu apenas três dos 21 mandados de prisão que deveria cumprir. Outros três alvos foram mortos. Se consideramos os três mandados cumpridos, a taxa de sucesso da operação policial foi de 14%. Se consideramos que seis foram cumpridos (o que não ocorreu), o sucesso da operação chega a 28%.

Se isso é trabalho de inteligência policial, o que seria uma operação burra? Com a palavra, o governador Castro. Que até ontem era Castro, o Improvável. E agora é Castro, o bolsonarista raiz.

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