Circula pelas redes sociais um vídeo em que um homem que se apresenta como Robert Malone, virologista e imunologista, afirma que criou a tecnologia que deu origem à vacina de mRNA e que o imunizante provoca danos ao organismo de crianças. É #FAKE.
— Foto: g1
Legendas do vídeo enganoso afirmam que um gene viral será injetado nas células-mãe e forçará o corpo da criança a produzir proteínas tóxicas. Afirmam ainda que essas proteínas costumam causar danos permanentes nos órgãos críticos das crianças, incluindo o cérebro e o sistema nervoso. As alegações são falsas.
Ana Paula Herrmann, professora do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul explica que as vacinas de mRNA carregam apenas uma parte da informação genética do vírus, que é um pedaço de RNA mensageiro (mRNA) que vai ser de fato usado para produzir a proteína spike. Mas isso não vai ser incorporado aos nossos genes (DNA) e não vai gerar uma produção contínua e indeterminada.
"A proteína spike produzida é justamente o que vai possibilitar a produção de anticorpos específicos e a aquisição de imunidade pelo indivíduo vacinado. E conforme os anticorpos são produzidos, o nível de proteína spike que consegue ser detectado no sangue vai caindo", afirma.
A especialista explica que o corpo é exposto apenas a um pedaço do vírus, que é eliminado depois que o sistema imunológico foi treinado.
"A vacina gera uma resposta inflamatória momentânea que faz parte da aquisição de imunidade, e isso é obtido sem causar a doença que o vírus inteiro causa, pois somos expostos justamente a apenas um pedaço do vírus. É o vírus inteiro com sua proteína spike replicando descontroladamente nas células que causa dano, e não a vacina", complementa Ana Paula.
As posições exibidas no vídeo são rebatidas também por autoridades mundiais em pesquisa e controle sanitário.
De acordo com a explicação dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o mRNA e a proteína spike não duram muito no corpo. Nossas células quebram o mRNA e se livram dele alguns dias após a vacinação. Os cientistas estimam que a proteína spike, como outras proteínas que nosso corpo cria, pode permanecer no corpo por algumas semanas. O mRNA nunca entra no núcleo da célula onde nosso DNA (material genético) está localizado, portanto, ele não pode alterar ou influenciar nossos genes.
O CDC explica que mRNA entra nas células musculares e instrui máquinas das células para produzir uma versão inofensiva da proteína spike, que está presente no vírus, para treinar nosso sistema de defesa a entrar em ação quando qualquer ameaça parecida surgir no horizonte. Depois que o pedaço de proteína é feito, nossas células quebram o mRNA e o removem.
"As vacinas de RNA não são feitas com partículas de patógenos ou patógenos inativados, portanto, não são infecciosas. O RNA não se integra ao genoma do hospedeiro e a fita de RNA da vacina é degradada assim que a proteína é produzida, diz artigo da Fundação PHG, ligada à Universidade de Cambridge.
Vacinas contra Covid são seguras, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autorizou a aplicação da vacina da Pfizer contra Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos. Também participaram da avaliação feita pela Anvisa especialistas das sociedades brasileiras de Infectologia (SBI), de Imunologia (SBI), de Pediatria (SBP), de Imunizações (SBIm) e de Pneumologia e Tisiologia.
A mesma autorização de uso já foi concedida pelo FDA e pela EMA (agências regulatórias de saúde dos Estados Unidos e União Europeia), além de países como Costa Rica, Colômbia, República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, Panamá, Peru e Uruguai.
Malone contribuiu com evidências de que o mRNA poderia ser entregue e produzir proteínas nas células, mas não pode ser considerado o inventor da tecnologia do mRNA, porque esse descoberta se deve ao trabalho de muitos outros pesquisadores.
Um artigo da revista Nature explica com detalhes o papel que ele teve na história do mRNA. Malone descobriu que era possível transferir mRNA protegido por uma pequena camada de gordura para orientá-las a produzir proteínas e mais tarde aplicou sua teoria em animais. Mas isso ocorreu em 1989 e muitas outras pesquisas antes e depois foram realizadas para chegar à situação atual.
A alegação de que ele foi o inventor das vacinas já foi alvo de reportagens e checagens pelo mundo e em todas elas, considerada falsa. Ele se tornou uma estrela dos veículos que disseminam desinformação a respeito das vacinas.
É #FAKE que vacinas são tóxicas para crianças e que autor de vídeo seja inventor das vacinas de mRNA — Foto: Reprodução
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Como identificar se uma mensagem é falsa
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