O líder do Estado Islâmico que se matou antes de ser capturado por forças dos Estados Unidos durante um ataque na madrugada desta quinta-feira no noroeste da Síria era, para muitos, um mistério. Evitava ser fotografado em público e aparecer em vídeos publicados pelo grupo terrorista.
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Ele foi morto na província de Idlib, a mesma onde seu antecessor no posto, Abu Bakr al-Baghdadi, foi caçado e morto em uma operação militar americana em 2019, e a alguma distância das áreas no leste da Síria e no Iraque onde o grupo proclamou um califado há alguns anos.
Militante extremista desde a invasão do Iraque em 2003, ele assumiu o nome de Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi quando tomou a liderança do Estado Islâmico em outubro de 2019. Cabia a ele liderar os remanescentes do grupo após a morte de Baghdadi e a queda do califado, enquanto a organização entrava na clandestinidade para promover a insurgência no Iraque e na Síria.
A morte de Qurayshi ocorre em um momento em que os militantes do Estado Islâmico voltam a realizar ataques mais ousados e de maior visibilidade, após anos de emboscadas sem grande expressão. No mês passado, combates do grupo atacaram uma prisão no nordeste da Síria para libertar seus companheiros presos — uma batalha de 10 dias com as forças lideradas pelos curdos que deixou cerca de 500 mortos.
O nome verdadeiro de Qurayshi era Amir Mohammed Saeed Abdul-Rahman al-Mawala, um cidadão iraquiano com pouco mais de 40 anos. Ele teria nascido em Tel Afar, no norte do país, e se formado em Direito Islâmico pela Universidade de Mossul. A adoção do nome Al-Qurayshi ao se tornar “califa” do Estado Islâmico sugere que, como seu antecessor, ele reivindicou ter ligações com o profeta Maomé.
Qurayshi passou seus últimos dias na província de Idlib, uma área controlada por grupos insurgentes hostis ao Estado Islâmico. Ele estava hospedado em um edifício na cidade de Atmeh, perto da fronteira com a Turquia. Ao se explodir, o terrorista matou outras 12 pessoas, incluindo membros de sua família, de acordo com organizações sírias.
Após o ataque de hoje, poucas pessoas em Athmeh sabiam quem era a família que alugava o imóvel. Jornalistas no local ouviram vizinhos dizendo que o homem que morava no prédio se identificava como Abu Ahmad, um sírio que havia fugido da província de Aleppo por causa da guerra que assola o país.
Desde que assumiu o comando do Estado Islâmico, Qurayshi estava no topo da lista de procurados dos EUA e de outros governos que lutam contra os extremistas.
Em março de 2020, o Departamento de Estado incluiu Qurayshi em uma lista de terroristas procurados internacionalmente. Alguns meses depois, os EUA elevaram para US$ 10 milhões a recompensa por informações que levassem a sua identificação ou localização. O líder do grupo também era conhecido por outros dois nomes de guerra, Abu Omar al-Turkmani e Abdullah Qaradash.
O Departamento do Tesouro dos EUA disse que Qurayshi liderou o sequestro, o massacre e o tráfico de integrantes da minoria religiosa yazidi do Iraque e que supervisionava as operações globais do Estado Islâmico. Milhares de homens da minoria yazidi foram mortos pelo grupo e milhares de mulheres foram levadas como escravas, em ações que grupos de direitos humanos classificam como genocídio.
Qurayshi começou a militar entre os extremistas logo depois da deposição do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Um ano após a invasão do país pelos EUA, ele se juntou à Al-Qaeda no Iraque, na época comandada pelo jordaniano Abu Musab al-Zarqawi.
O líder morto do Estado Islâmico foi preso por tropas americanas em Mossul em 2004, onde permaneceu detido por dois anos. Durante o período na prisão, ele se tornou um dos principais seguranças de Baghdadi.
Após a morte de Zarqawi em um ataque dos EUA em 2006, Qurayshi se tornou uma figura importante no grupo que sucedeu a Al-Qaeda e posteriormente se tornaria o Estado Islâmico, sob o comando de Baghdadi.
Quando o Estado Islâmico invadiu grande parte da Síria e do Iraque, declarando um califado em 2014, Qurayshi tornou-se um dos comandantes do grupo. Com a ruína do grupo na guerra contra uma coalizão liderada pelos EUA, ele se escondeu, até retornar ao posto de líder.