Edição do dia 14/06/2011

14/06/2011 21h32 - Atualizado em 15/06/2011 12h17

Grupo de idosos se oferece para tentar conter vazamento de usina no Japão

Eles querem trabalhar em uma zona de alto risco. E defendem que um estudo sobre vítimas das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki mostra que casos de câncer só apareceram, no mínimo, dez anos depois.

No Japão, a cidade de Fukushima vai distribuir medidores de radioatividade a 34 mil crianças a partir de setembro para tranquilizar as famílias que moram na região. A cidade fica a 60 quilômetros do local dos reatores nucleares. Passados três meses desde o acidente, a usina atômica ainda libera radiação na atmosfera.

Um grupo de engenheiros e de técnicos se ofereceu, voluntariamente, para tentar conter o vazamento. Veja na reportagem do correspondente Roberto Kovalick.

O quartel-general dos candidatos a heróis-veteranos anda agitado ultimamente: todo o dia tem novas inscrições. Já são 220 voluntários. Outras 2 mil pessoas foram aceitas apenas como simpatizantes, porque não preenchem um requisito básico para a missão: ter mais de 60 anos de idade.

Eles querem trabalhar em uma zona de alto risco: a usina nuclear de Fukushima, atingida pelo tsunami de março. Para se ter uma ideia do perigo da tarefa, a direção da usina descobriu que oito técnicos, na faixa de 30 e 40 anos de idade, absorveram radioatividade acima do permitido. Isso pode provocar câncer e outras doenças.

Nada que assuste o grupo. Eles citam um estudo sobre vítimas das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, feito pela Fundação de Pesquisas sobre Efeitos da Radiação, mantida pelos Estados Unidos e Japão. Os casos de câncer só apareceram, no mínimo, dez anos depois.

Kasuko Sasaki e o marido são voluntários. "Quando chegar a época de meu corpo apresentar os efeitos da radiação, eu nem estarei mais aqui", diz ela.

Por enquanto, eles passam boa parte do tempo na frente do computador. Eles criaram uma página na internet e participam de redes sociais. Foi assim que conseguiram tantos voluntários para essa missão heróica.

Eles garantem que têm a qualificação para o trabalho: do grupo fazem parte engenheiros, físicos, médicos aposentados. Argumentam que os jovens que trabalham na usina de Fukushima têm filhos para criar e um longo futuro pela frente.

O fundador do grupo, o engenheiro Yaseturo Yamada, de 72 anos, diz: "Nos mandar no lugar dos jovens é apenas o mais sensato a fazer".

Eles já tiveram uma reunião com o governo japonês, que respondeu: é inviável usar todos os voluntários, mas os mais qualificados poderão ser convocados para o que muitos chamam de "a última missão".