Após promessa de Crivella, Parque Realengo está ameaçado

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Após promessa de Crivella, Parque Realengo está ameaçado

Moradores de Realengo protestam contra ocupação do local por residências
Moradores de Realengo protestam contra ocupação do local por residências Foto: Roberto Moreyra / Roberto Moreyra
Geraldo Ribeiro
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Uma grande área verde de 142 mil metros quadrados na Rua Professor Carlos Wenceslau, bem no coração de Realengo, onde a prefeitura anunciou no começo do ano passado que construiria um parque nos moldes do de Madureira, vai virar um empreendimento residencial. Moradores estão se mobilizando para tentar evitar que isso aconteça. Eles conseguiram o apoio de parlamentares das três esferas de poder e até de celebridades, como o ator Mário Gomes.

No começo do mês, a Comissão de Políticas Urbanas da Assembleia Legislativa do Rio entrou na briga e anunciou que pediria ao Ministério Público avaliação sobre a proposta de construção de moradias no local. A deputada estadual Zeidan (PT), presidente da comissão, também elaborou com outros colegas um projeto de lei tornando o espaço patrimônio histórico e cultural do estado, evitando assim a alteração de uso.

Nesta segunda-feira, nova audiência pública envolverá vereadores. Em Brasília, lideranças do Movimento Parque Realengo Verde 100% conseguiram apoio deputado Otavio Leite (PSDB), que elaborou projeto de decreto legislativo suspendendo os efeitos do ato que autorizou a permuta do imóvel entre a União e a Fundação Habitacional do Exército, que tem direito a uso do terreno onde planeja construir os imóveis. A proposta ainda vai a votação.

— A Zona Oeste não tem opção de lazer. Por isso, o parque é fundamental e não abrimos mão de ele ser 100% ecológico — defende o professor de História Leandro Fraga, de 47 anos, ao se referir à destinação de apenas parte do local para o parque público.

Foto: Roberto Moreyra / Fotos de Roberto Moreyra

Segundo o músico Wagner Thomaz, de 45 anos, representante do movimento, a área, que até 1978 foi ocupada pela Fábrica Realengo de Cartuchos, abriga três mil árvores de várias espécies da mata nativa, além de rica fauna e duas construções tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) — uma chaminé e a casa administrativa. Ele disse ainda que a população se preocupa com os impactos que o empreendimento trará para o trânsito e a infraestrutura do bairro.

Uma nova versão

O anúncio da implantação do parque foi feito pelo prefeito Marcelo Crivella em 25 de março do ano passado, em visita ao bairro, onde se reuniu no Colégio Pedro II com representantes da comunidade. O encontro foi para discutir qual projeto a população defendia para o local.

— Com a escolha do Parque de Realengo feita pela maioria, nós estaremos contribuindo para toda a região. Porque vai ser uma área de lazer espetacular, uma área democrática, uma área que vão os jovens, os idosos, os pobres, os ricos. Algo extraordinário que vamos deixar também para os nossos netos, bisnetos e pósteros como uma realização da nossa geração — prometeu Crivella, na ocasião.

Agora, a prefeitura diz que “a área nunca foi parque, pois sempre foi um terreno particular, pertence à Fundação Habitacional do Exército (FHE)”. Segundo a Secretaria municipal de Conservação e Ambiente, que seria a responsável pelo projeto inicial, “o proprietário fará um empreendimento no local e já deu entrada com processo de pedido de demolição de algumas partes de antigas e danificadas edificações existentes no terreno e corte de árvore.”

Imóveis para militares

A Fundação Habitacional do Exército confirmou o plano de construir no local os imóveis destinados, inicialmente, a militares das Forças Armadas. Informou ainda que, conforme entendimento com a Prefeitura do Rio, mais da metade da área será destinada ao parque público.

Ainda segundo a fundação, o levantamento da vegetação existente já foi realizado. “O projeto do parque e do complexo residencial está sendo estudado com a Secretaria municipal de Meio Ambiente e o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), de modo a mitigar a remoção de árvores e preservar o patrimônio histórico das edificações”. Não há previsão para o início das obras.

Moradores do bairro como a professora Vera Lúcia de Souza, de 63 anos, defendem a ocupação total da área pelo parque. Ela acredita que o condomínio vai gerar mais engarrafamentos e sobrecarregar a rede de esgotos daquela região.

— Nossa busca é por qualidade de vida — resumiu.

Menos árvores

A Secretaria municipal de Conservação e Ambiente informou que emitiu licença e autorização para a remoção de 72 árvores e o corte de 15 que estão mortas e com risco de queda. Para compensar o corte, 511 outras, de espécies nativas da Mata Atlântica, deverão ser plantadas preferencialmente, em ruas de Realengo e bairros adjacentes.

A secretaria ressalta que, no terreno, continuarão preservadas 1.316 árvores, não havendo, portanto, prejuízo à fauna (aves que frequentam o local) ou à flora.

O Ministério do Panejamento informou que o terreno foi cedido por tempo indeterminado ao Exército e está sob sua administração.

O deputado Otavio Leite contesta os termos em que foi feita a permuta entre a União, dona do terreno, e o Exército, que detém o uso.

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