3R capta fundo ligado à educação com selo social

Objetivo em primeira tranche é levantar R$ 65 milhões para comprar títulos de universidades comunitárias que têm programas próprios de financiamento

Por Adriana Cotias — De São Paulo


Bernardi, da 3R: universidade comunitária sentiu mais saída de cena do Fies — Foto: Divulgação

A 3R Investimentos começou a fazer a captação de um fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC) com lastro em recebíveis de educação. A diferença em relação a estruturas do gênero é que esse é o primeiro que vem a mercado com carimbo social. O objetivo, numa primeira tranche, é levantar R$ 65 milhões para comprar títulos de universidades comunitárias que têm programas próprios de financiamento.

A primeira carteira será composta por ativos originados pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), no Rio Grande do Sul, e pelo Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio de Barros, de São João da Boa Vista, interior de São Paulo.

O alvo são 68 entidades filiadas à Associação Brasileira das Instituições Comunitárias de Educação Superior (Abruc), com potencial de R$ 2,5 bilhões de financiamento. Nesse grupo estão a maioria das católicas, metodistas e salesianas, por exemplo. Em comum, não têm fins lucrativos, contam com benefício fiscal e convertem os resultados para a própria instituição ou para a comunidade.

Esse foi um segmento mais afetado pelo enxugamento do fundo de financiamento estudantil (Fies) do que o das entidades privadas, segundo Adriano Bernardi, sócio da 3R. “A saída do Fies acabou criando uma competição um pouco desigual, porque as companhias de capital aberto conseguem financiar o aluno, funcionam como se fossem mini bancos. E financiam para não ter evasão”, afirma.

Progressivamente, as comunitárias vêm modelando seus próprios programas, em lugar de recorrer apenas à antecipação de boletos com os bancos, que privilegiam os melhores créditos e cobram alto por isso, acrescenta Bernardi - com taxas de desconto que rondam os 15% a 20%, em média, cita. “Eu acabo tendo um custo mais atraente tirando a instituição financeira do meio.” O executivo diz já ter mapeado o equivalente a R$ 300 milhões em recebíveis com outras três instituições, mas a ideia é crescer devagar e deixar uma folga para nova captação em janeiro.

Como garantia ao investidor, as instituições de ensino que originam os créditos investem 20% do volume em cotas subordinadas, sendo remuneradas a 100% do CDI por isso. E também assumem o compromisso de recomprar recebíveis com atraso de 180 dias, afirma Bernardi, a fim de manter a inadimplência sob controle.

O executivo não abre a meta de remuneração da cota sênior, mas gestor de patrimônio a quem o investimento foi apresentado fala numa taxa entre 3,5% e 4% ao ano acima do CDI. Esse é um período de grande concorrência pelo bolso do investidor porque tem muita empresa antecipando captação neste ano temendo que a janela se feche com a eleição de 2022.

A 3R compra apenas carteiras que já vêm performando e em que consegue fazer a avaliação prévia do risco por auditoria especializada. Bernardi diz que o índice de inadimplência nas comunitárias fica entre 3% e 4% porque o aluno não se rematricula se estiver devendo o semestre. Na prática, o percentual de créditos não honrados acaba sendo igual à taxa de evasão, diz. Não há financiamento direto ao aluno.

O FIDC 3R Educacional foi enquadrado no Social Bond Principles (SBP) pela característica de mobilidade social que o estudante obtém após a formação universitária, diz Bernardi. Foi modelado sob a supervisão da Sitawi, organização brasileira que mobiliza capital para impacto socioambiental positivo. A consultoria baseia seu método de avaliação na regulação da Sustainable Finance Disclosure Regulation, da União Europeia. O veículo também está alinhado ao artigo 11 do pacto internacional sobre direitos econômicos, sociais e culturais das Nações Unidas.

Com R$ 800 milhões sob gestão, a 3R tem um FIDIC que financia produtores agrícolas e, na classe líquida, tem fundos de ações e multimercados.

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