• Rennan A. Julio
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Com mais de 60 anos de atuação no país, trabalhando em áreas de fomento ao comércio e atração de investimentos entre o Japão e o Brasil, a Japan External Trade Organization (Jetro) nunca esteve tão atenta ao ecossistema brasileiro de inovação. Em janeiro deste ano, a entidade fechou uma parceria com a Apex-Brasil e a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, garantindo sua participação no programa ScaleUp in Brazil (SUIB), iniciativa global que ajuda startups de fora do país a trazer suas soluções para o Brasil.

Hiroshi Hara, diretor-presidente da Japan External Trade Organization (Jetro) (Foto: Divulgação)

Hiroshi Hara, diretor-presidente da Japan External Trade Organization (Jetro) (Foto: Divulgação)

O programa, que abrirá suas inscrições em março, trará startups japonesas para o país no segundo semestre. Essas empresas passarão por uma imersão, a fim de entender mais sobre pontos como legislação, impostos, regulações bancárias e marketing. Além disso, essas empresas terão a oportunidade de fechar negócios com startups e grandes empresas brasileiras por meio de encontros e conexões com hubs de inovação, fundos de investimento e mais agentes do ecossistema.

Para entender o interesse da organização no país – e as oportunidades escondidas para empreendedores brasileiros nesta ofensiva –, PEGN conversou com Hiroshi Hara, diretor-presidente da JETRO. “O Brasil é foco de muita atenção, um dos países em que mais enfatizamos a nossa atuação pelo mundo e que conta com um trabalho impressionante por parte das startups”, afirma. Segundo Hara, o ecossistema do país se tornou um celeiro de oportunidades nos últimos anos. “Reconhecemos a existência de uma cadeia que viabiliza transformações, seja ela formada por aceleradoras, incubadoras, mas sobretudo no tocante aos investimentos recebidos pelas empresas brasileiras”, diz Hara.

De acordo com o diretor-presidente, o Brasil se tornou uma potência de mercado em áreas como finanças, e-commerce, varejo e agronegócio. E são nessas áreas que a Jetro mais aposta suas fichas. Para Hara, o trabalho das startups japonesas é complementar às soluções oferecidas por companhias brasileiras. Na sua visão, o desenvolvimento tecnológico é o maior exemplo disso. Ou seja, startups que atuam em campos como robótica, inteligência artificial, indústria 4.0, biotecnologia, internet das coisas e deeptech têm muito a crescer no Brasil.

“Acredito que as nossas startups têm o potencial de contribuir para as empresas brasileiras crescerem e acelerarem o seu desenvolvimento a partir da tecnologia japonesa”, afirma Hara. Outro campo de interesse é o das fintechs, mercado em que o Brasil é globalmente reconhecido. “As oportunidades estão aí com o open banking, um potencial de mercado para inovações tecnológicas avançarem”, conta.

Iniciativas como o ScaleUp in Brazil serão importantes também para a adaptação cultural dos empreendedores japoneses. Segundo Hara, questões como sistema tributário, custos trabalhistas e juros altos são desafios que costumam inibir empresas do Japão a operarem no país. O diretor-presidente acredita que conhecer o ecossistema de dentro, com o apoio de atores locais, seja o caminho para superar tais questões. “Compartilhar o conhecimento nos ajudará a tomar decisões mais conscientes para entrar no mercado”, afirma Hara.

Já para startups brasileiras interessadas em fechar negócios com players japoneses, o executivo tem apenas uma dica: “Um comentário que ouvimos muito é que as decisões são demoradas, muito lentas. Então a minha recomendação é que startups brasileiras entendam o tempo deste mercado, porque em geral isso não impacta o desenvolvimento de produtos ou tecnologias. Busquem parcerias cientes dessa peculiaridades.”