Morreu neste sábado, aos 80 anos, o ambientalista americano Thomas Lovejoy, um dos principais nomes da defesa da conservação de biomas, como a Amazônia, e apontado como um dos primeiros cientistas a popularizar o termo “diversidade biológica” além do meio científico.
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Biólogo formado pela Universidade de Yale, com ênfase na biologia tropical e em ações de conservação de biomas, estabeleceu uma relação mais que próxima com o Brasil ainda na década de 1960, quando esteve na Amazônia durante seus estudos de doutorado. Mais tarde, nos anos 1970, ajudou na elaboração de estudos sobre o impacto do desmatamento sobre a diversidade da fauna e flora amazônicas.
— A Amazônia era esse mundo selvagem inacreditável e tropical. Era como se tivesse morrido e chegado ao Paraíso. Era fascinante, e aos poucos passei de simplesmente fazer ciência a fazer ciência e conservação ambiental — declarou, em 2015, à revista Pesquisa Fapesp. — A Amazônia é um dos lugares mais importantes para trabalhar no mundo.
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Nas décadas seguintes, passou a trabalhar em programas de organizações de conservação, como o WWF e o Instituto Smithsonian, sempre colocando ênfase na necessidade da proteção do bioma amazônico. Nesta época, se notabilizou por popularizar o uso da expressão “diversidade biológica” ou “biodiversidade”, que passaria a ser incorporada ao meio acadêmico e políticas públicas no futuro.
— Fui o primeiro a usar o termo “diversidade biológica”, ainda nos anos 1980. A comunidade científica discutia sobre a variedade de seres vivos na natureza, mas não tínhamos esse termo definido. Na época, ninguém prestou atenção em quem foi o primeiro, só depois as pessoas perceberam de fato. — revelou em entrevista ao GLOBO, em 2017 .
Ao longo de sua carreira, atuou como conselheiro para biodiversidade para o Banco Mundial, entre 1999 e 2002, para o Banco Interamericano de Desenvolvimento, além de posições exercidas na Fundação das Nações Unidas, a Associação de Conservação da Amazônia e a Sociedade pela Conservação Biológica. Em abril, foi eleito para a Academia Nacional de Ciências dos EUA.
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Ele ajudou a fundar o Centro de Biodiversidade da Amazônia e o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, em 1979, baseado em Manaus e que levou à produção de centenas de artigos, dissertações e teses nas décadas seguintes — ao longo de sua carreira, se pautou em levar ao mundo a urgência de preservar a Amazônia.
— É uma grande floresta, reconhecida no cenário mundial, mas muitos brasileiros não sabem disso. Mesas de discussão e congressos sobre sustentabilidade são essenciais. Viajei mais uma vez ao Brasil porque mantenho interesse muito grande pela infraestrutura sustentável que, acima de tudo, respeita o meio ambiente — disse em 2017 ao GLOBO.
Lovejoy ainda atuou em funções oficiais nos governos de Ronald Reagan (1981-1989), George H.W. Bush (1989-1993) e de Bill Clinton (1993-2000), em funções de assessoramento em questões ambientais. Em 2016, no governo de Barack Obama (2009-2017), foi indicado pelo Departamento de Estado como um dos enviados dos EUA para questões científicas. No Brasil, foi reconhecido com a Ordem do Rio Branco, em 1988, e com a Ordem do Mérito Científico, em 1998.
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A morte de Thomas Lovejoy foi recebida com profunda tristeza no meio ambiental e político. No Twitter, André Guimarães, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), destacou o legado deixado pelo pesquisador.
"O Ipam lamenta profundamente a perda do Tom Lovejoy, esta tarde em Washington, DC. Um dos maiores estudiosos e conhecedores da Amazônia, região que frequenta e estuda a mais de 50 anos. Amigo querido, sempre com um sorriso e uma palavra otimista. Insubstituível. Saudades Tom", escreveu Guimarães.
Também na rede social, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), disse "lamentar profundamente" o falecimento de Thomas Lovejoy, o chamando de "um dos maiores cientistas e estudiosos da Amazônia".
"Ele deixa um legado incomparável de conhecimento sobre a Amazônia para esta e futuras gerações. Que Deus conforte os corações de seus familiares e amigos", escreveu.
Em nota, a Conservação Internacional (CI) afirma que ele foi “um lutador pelas causas da proteção da biodiversidade, um grande amigo e colaborador da CI-Brasil” e que “seguirá eternizado pelo legado científico que é, hoje, mais atual e necessário que nunca”.
A National Geographic, com quem Thomas colaborava desde 1971, também se declarou “profundamente entristecida” com a notícia sobre seu falecimento.
“Ao longo de sua carreira, Tom deu uma impressionante contribuição ao campo da biologia da conservação, e deu destaque ao frágil estado de nosso meio-ambiente”, diz a empresa, em comunicado.
Thomas Lovejoy tinha 80 anos e morreu em Washington, onde vivia. As causas da morte não foram reveladas.