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Ensino remoto na rede municipal tem sido feito com material impresso e aula no WhatsApp, mostra pesquisa

Ainda de acordo com o estudo da Undime com o Itaú Social e o Unicef, a maioria dos municípios (78,6%) afirma que o maior desafio foi o acesso de estudantes à internet
Alunos da Escola Municipal Suiça, na Penha, já retornaram presencialmente às aulas em 2021 Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Alunos da Escola Municipal Suiça, na Penha, já retornaram presencialmente às aulas em 2021 Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

RIO — Pesquisa divulgada nesta terça-feira mostra que o ensino remoto no Brasil foi, majoritariamente, uma combinação de aulas por whatsapp com materiais impressos.

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O estudo foi realizado pela  União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) em parceria com o Instituto Itaú Social e a Unicef. Os dados foram coletados entre janeiro e fevereiro de 2021.

O levantamento foi respondido por 3.672 municípios brasileiros, que concentram14,7 milhões de estudantes. Desses, 91,9% passaram o ano letivo de 2020 completamente remotos após o início da pandemia — o restante (8,9%) adotou modelo híbrido.

Segundo o estudo, mais de 90% dos municípios utilizaram aulas por WhatsApp e materiais impressos para as atividades remotas.

— Isso exige muito esforço do professor. Mas há limites com (o uso majoritário dessas) duas ferramentas. Imagine uma criança tentando viver um processo de alfabetização assim — diz Patricia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social.

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As aulas gravadas foram utilizadas por 60% dos municípios e pouco mais da metade (54%) tiveram orientações on-line por aplicativos.

Já vídeo-aulas ao vivo aconteceram em apenas 21% das redes municipais que responderam à pesquisa.

— As redes com maiores capacidade de financiamento conseguiram oferecer mais plataformas estruturadas. Quem não tem essa possibilidade, se limitou a fazer com o que podia. O MEC fez falta nesse sentido e agora se fala internamente em uma produção de uma plataforma de apoio geral. Mas isso (ainda) está no começo, vamos ver como vai evoluir — afirma Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime.

Ainda de acordo com o estudo, a maioria das secretarias (78,6%) afirma que o maior desafio foi o acesso de estudantes à internet.

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"A constatação reforça a importância de se ampliar a conectividade no país por meio de, entre outras ações, a sanção do PL 3447/2020. Ele permite que recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (FUST) sejam direcionados para estados e municípios para garantir a conectividade de crianças e adolescentes da rede pública que vivem em famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), bem como daqueles matriculados nas escolas das comunidades indígenas e quilombolas, e professores da rede pública", diz o material de divulgação da Undime.

Para 2021, 63,3% das redes planejaram começar o ano letivo de forma remota; 26,3% pretendem iniciar de forma híbrida; 3,8% de forma presencial e  6,6% ainda não definiram. As aulas estão sendo retomadas na maioria das redes entre os meses de janeiro e março.

—  Corremos o risco de voltar dez, 15 anos no número de crianças fora da escola, seja porque nem se matricularam em 2021 ou não conseguiram fazer as aulas remotas —  afirma Italo Dutra, chefe de Educação do Unicef no Brasil.

Maior parte das redes ainda não tem procolo sanitário

A pesquisa mostrou que a maior parte das redes ainda não tem protocolo sanitário construído para o retorno às aulas. Entre os municípios que responderam ao estudo, 33,9% já os concluíram, 59,6% estão em processo de discussão e 6,5% ainda não iniciaram esse processo.

—  Cada estado e seus municípios devem levar em consideração a situação da pandemia em seus territórios para decidir quando e de que maneira se dará a volta às aulas presenciais. Enquanto não houver um número suficiente de vacinas para todos, precisamos confiar no ensino remoto como uma estratégia de suporte importante, mas sem negligenciar uma proposta de retorno gradual às atividades presenciais — afirma Mota Guedes, do Itaú Social.

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Ainda segundo Guedes, "é urgente a construção de um planejamento coordenado, com protocolos bem estabelecidos, a partir de forte diálogo com as equipes, famílias e muito apoio aos professores, sob pena dos prejuízos ainda maiores à educação e à garantia de direitos de crianças e adolescentes".

Já o chefe de Educação do Unicef no Brasil, Italo Dutra, afirma que os municípios precisam estar preparados para o momento que as condições sanitárias estiverem favoráveis ao retorno presencial aos colégios.

—  Será preciso muito planejamento, tempo e investimento de recursos.  Precisamos estar prontos para retornar o mais rápido possível assim que as condições epidemiológicas derem essa possibilidade —  afirma.

Já os protocolos pedagógicos para a volta às aulas presenciais estão sendo discutidos por 70,4% das redes, já foram concluídos em 22,7% delas e não foram iniciados em 6,9%.