Política Jair Bolsonaro

'Estou morrendo. A coisa está ruim', disse Bolsonaro ao médico sobre a dor que sentiu da obstrução intestinal, antes da internação

Em entrevista ao GLOBO, o cirurgião Antônio Luiz Macedo fala das mudanças na rotina do presidente que deverão ser feitas para evitar a volta do problema
O presidente Jair Bolsonaro internado em hospital em São Paulo Foto: Reprodução/Twitter
O presidente Jair Bolsonaro internado em hospital em São Paulo Foto: Reprodução/Twitter

SÃO PAULO — Na manhã desta quarta, o presidente Jair Bolsonaro deixou o Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, depois de tratar uma nova obstrução intestinal . Desde 2018, ano que recebeu a facada na barriga, ele já passou por seis cirurgias . Desta vez, assim como a ocorrida há apenas seis meses, a cirurgia foi descartada . Mesmo assim, o caso “foi perigoso”, segundo o médico responsável pela internação do presidente, o cirurgião Antônio Luiz Macedo . Em entrevista ao GLOBO, Macedo conta o que levou à obstrução e o que deve mudar na rotina de Bolsonaro para evitar o problema.

Leia também: 'É maldoso falar que eu estava de férias', diz Bolsonaro ao ter alta de hospital

O que causou a obstrução intestinal?

O camarão que ele consumiu na véspera. Ele não foi mastigado. No caso dele, não mastigar muito bem os alimentos, aumenta o risco do problema.

Já leu essa? Após receber alta, Bolsonaro alfineta Ivete Sangalo: 'Está chateada porque acabou a teta gorda' da Lei Rouanet

Desde 2018, quando levou a facada, o presidente tem sido internado com obstruções intestinais com frequência. O que ele deveria fazer para evitar esse tipo de complicação?

Caminhar absolutamente todos os dias. Meia hora de manhã, meia hora de tarde. Isso melhora o peristaltismo intestinal (os movimentos involuntários realizados pelo órgão que facilitam a digestão) e deverá ser feito para sempre. Deve mastigar 15 vezes os alimentos também.

Distante: Com internação de Bolsonaro e férias de ministros, 2022 começa com cúpula do governo longe de Brasília

O que ele não deve fazer?

Tem que evitar alimentos como carne, castanha de caju e amendoim, que formam um bolo que passa com mais dificuldade pelo intestino. Deve também evitar subir em caminhões ou lugares altos. Se o impacto de uma queda atingir a região fragilizada, que é o lado esquerdo na altura do umbigo, pode romper o intestino.Nesta semana especialmente os cuidados têm de ser ainda maiores. Aconselhei a dona Michelle (Michelle Bolsonaro) a botar um cadeado na moto dele. Não pode fazer força também por um bom tempo — a força pode fazer o abdome torcer.

Descubra: Cientistas de Oxford identificam 23 sintomas associados ao câncer de pâncreas

Hoje, logo depois da alta hospitalar, Bolsonaro disse que "vai ser difícil seguir" a dieta recomendada. E se ele não seguir?

O risco de nova obstrução é considerável.

O tipo de obstrução que acometeu o presidente desta vez foi mais delicado em relação à última internação há seis meses?

Foi menos grave. Ele se recuperou rapidamente. Mas não existe “pequena obstrução” no caso do presidente. O intestino está todo colado na parede devido a vários fatores — a própria facada, as cirurgias, os sangramentos e infecções já ocorridos. É sempre perigoso, portanto. Na hora que passamos a sonda nele, saiu um litro de suco gástrico do estômago. Se ele vomitasse o líquido entrava nos pulmões e ele morria.

Em casa: Enquanto Bolsonaro se recupera, Michelle monta quebra-cabeça de Romero Britto

Se ele não tivesse procurado ajuda médica, corria risco de morrer?

Não existe essa possibilidade de não procurar socorro médico. A dor é pavorosa. É como alguém bater com um martelo na barriga com força. O presidente é forte.

Entenda: De quanta água você realmente precisa? Cai o mito de beber 2 litros por dia

Como o senhor foi comunicado sobre a nova obstrução intestinal?

O clínico do presidente, Ricardo Camarinha, me ligou para falar da situação e, então, me comuniquei com o presidente. O Bolsonaro me falou “estou morrendo, Macedo. A coisa está ruim”. Mandei ele ir na hora para o Vila Nova Star, liguei para o Pedro (Pedro Henrique Loretti, diretor do hospital), que orquestrou tudo com muita competência. Quando cheguei, analisei a tomografia, os exames de sangue e toquei na barriga dele. Quando apalpei, vi que o intestino não estava rasgando e estava mais molinho. Foi muito bom. Porque qualquer cirurgia que for feita nessa região dificilmente vai durar menos de 12 horas.