Política

Morre Francisco Weffort, cientista político e ex-ministro da Cultura do governo Fernando Henrique, aos 84 anos

Weffort participou da fundação do Partido dos Trabalhadores
O cientista político e ex-ministro da Cultura Francisco Weffort Foto: Leo Pinheiro / Valor
O cientista político e ex-ministro da Cultura Francisco Weffort Foto: Leo Pinheiro / Valor

RIO — Morreu o cientista político e ex-ministro da Cultura Francisco Weffort, aos 84 anos. Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Weffort participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sigla na qual ocupou o cargo de secretário-geral. A informação foi confirmada pelo hospital Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, onde Weffort estava internado. A morte, ocorrida na noite de domingo, foi em decorrência de um infarto do miocárdio.

O cientista político foi filiado à legenda até 1994, quando foi convidado a assumir o cargo de ministro durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Antes de ser nomeado ministro, Weffort participou ativamente da campanha das Diretas Já, mobilizações populares em prol do restabelecimento das eleições diretas para Presidência no Brasil.

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No ano de 1984, foi aprovado como professor titular do Departamento de Ciência Política da USP, onde permaneceu até 1995. Na banca examinadora, estava Fernando Henrique, que foi seu professor no curso de graduação. O pesquisador já havia lecionado na USP de 1961 até o golpe militar, em 1964.

Weffort também foi fundador e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), pesquisador do Centro de Estudos da Cultura Contemporânea (Cedec) e lecionou em instituições de pesquisa estrangeiras, como o Wilson Center e o Helen Kellogg Institute, ambas nos EUA, além da Universidade de Essex, na Inglaterra.

Weffort em sua casa no Rio de Janeiro Foto: Leo Pinheiro / Valor
Weffort em sua casa no Rio de Janeiro Foto: Leo Pinheiro / Valor

Weffort integrou ainda o grupo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Ao longo de sua trajetória acadêmica, dedicou-se a estudar a democracia no Brasil e em outros países do mundo e o populismo. Entre seus principais livros publicados estão “Por que Democracia?”, de 1984, “Qual Democracia?”, de 1992, e “Formação do pensamento político brasileiro”, de 2006.

Recentemente, lançou com o cientista político José Álvaro Moisés o livro “Crise da Democracia Representativa e Neopopulismo no Brasil”, que aborda os impactos do neopopulismo na atual crise da democracia.

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Gestão no MinC

Na década de 1990, ao ser convidado por Fernando Henrique para assumir o cargo de ministro da Cultura, Weffort deixou o PT para não entrar em conflito com a ala de oposição ao governo tucano no partido. O cientista político permaneceu no cargo de ministro da Cultura de 1995 a 2002. Na pasta, defendeu o aumento do orçamento para Cultura e fez alterações na Lei Rouanet, ampliando a dedução no imposto de renda de empresas com investimento em projetos culturais. Teve ainda papel importante na retomada da produção cinematográfica no país, com a implementação da Lei do Audiovisual, criada ainda no governo Itamar Franco. Após deixar o Ministério da Cultural, Weffort se dedicou à vida acadêmica.

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O ex-presidente Fernando Henrique fez nesta segunda uma homenagem a Weffort em suas redes sociais. “Hoje minha homenagem e minhas considerações estão voltadas especialmente ao caro Weffort, que deixa um vazio imenso em todos os que lhes eram próximos. Saudades”, escreveu.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, divulgou uma nota na qual o partido manifesta solidariedade aos amigos e familiares de Weffort. Também peio de uma nota, o ex-presidente Lula destacou a importância do ex-ministro na estruturação do PT. “Francisco Weffort foi um cientista político que marcou a academia brasileira, um professor por vocação, e um intelectual público dedicado a pensar sobre a democracia e o Brasil, não só estudando e refletindo sobre nossa realidade, mas também atuando como cidadão pelas causas que acreditava para um país melhor”, escreveu o petista.

Ex-ministros da Cultura também manifestaram pesar pela morte de Weffort. Sérgio Sá Leitão, que ocupou o posto no governo Temer, destacou que o cientista político “ajudou a consolidar o MinC, valorizou as instituições federais da área e potencializou a Lei Rouanet”. Marcelo Calero afirmou nas redes sociais que Weffort foi “um grande nome na construção de políticas públicas culturais”.