Por Fantástico


Crianças yanomami sofrem com desnutrição e falta de atendimento médico

Crianças yanomami sofrem com desnutrição e falta de atendimento médico

Crianças doentes, desnutridas e sem atendimento médico. O Fantástico passou duas semanas dentro da terra Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil, e constatou um cenário desolador.

No meio da Amazônia, garimpeiros ilegais estão em ação, em busca de ouro. E tudo acontece perto de uma aldeia do povo tradicional Yanomami.

Os garimpeiros destroem a Floresta Amazônica, contaminam suas águas e espantam a caça e a pesca, principal fonte de alimentação dos povos tradicionais. E quando os indígenas precisam de socorro urgente, faltam até remédios.

Crianças yanomami sofrem com desnutrição e falta de atendimento médico — Foto: Reprodução/Fantástico

Eles vivem na maior reserva indígena do Brasil. São nove milhões de hectares dentro da Floresta Amazônica – uma área do tamanho de Portugal.

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Este ano, fotografias de meninas e meninos muito magros, desnutridos, correram o mundo. Um pequeno retrato de um colapso gigantesco.

O Fantástico recebeu uma carta-convite da Associação Hutukara, a maior representante Yanomami, e do Conselho Distrital de Saúde Yanimami (Codisi), que tem entre suas atribuições fiscalizar o atendimento nas aldeias.

“Estamos sofrendo nas aldeias. Precisamos de alguém, equipe filmar, e demonstrar nossa realidade”, diz Dario Kopenaua, vice-presidente da Associação Hutukara.

Este ano, fotografias de meninas e meninos muito magros, desnutridos, correram o mundo — Foto: Reprodução/Fantástico

Cerca de 30 mil indígenas vivem na reserva, em mais de 300 comunidades. Junior Yanomami, presidente do Condisi, acompanhou nossa equipe em três comunidades: Surucucu, Heweteu e Xaruna.

Surucucu tem posto de saúde e hospital de internação, com capacidade para 20 pacientes. Indígenas de 23 comunidades vão até lá quando precisam de socorro. No dia em que a equipe do Fantástico esteve no local, faltavam remédios e sobravam leitos, mesmo tendo muitos indígenas doentes nas comunidades, segundo as lideranças Yanomami.

Em toda reserva, a responsabilidade do atendimento é da Secretaria Especial de Saúde indígena (Sesai) e do Distrito Sanitários Especial Indígena (Dsei), ambos ligados ao Ministério da Saúde.

Com chão de terra, paredes de madeira e telas rasgadas, os pacientes são atendidos na sala de internação do posto de saúde de Surucucu. A estrutura é precária, com pequenas fogueiras para proteger do frio da noite e dos mosquitos.

O medo é do mosquito que transmite a malária.

Um menino de 2 anos chegou ao posto com mais de 39 graus de febre e pesando nove quilos. Fraco, mal conseguia ficar em pé. O diagnóstico: malária e desnutrição.

A mãe conta que a família vive em outra comunidade, a 60 km de Surucucu, onde não aparece um agente de saúde há pelo menos oito meses. E que depois de pedidos insistentes das lideranças indígenas, ela e o filho foram levados no único helicóptero que presta socorro na reserva inteira.

A malária tem avançado de maneira persistente na terra Yanomami: são mais de 16 mil casos só este ano — lembrando que há 30 mil indígenas na reserva.

"Quanto mais desnutrida a criança é, maior a chance de ela ter infecção por qualquer causa. Pode ser respiratória, intestinal. infecções de pele", diz Maria Paula de Albuquerque, pediatra e nutróloga da Unifesp.

Os Yanomami vivem na maior reserva indígena do Brasil. São nove milhões de hectares dentro da Floresta Amazônica – uma área do tamanho de Portuga — Foto: Reprodução/Fantástico

Os indígendas reclamam da falta de atendimento médico.

"Várias crianças morreram. Várias mães sofreram. Então a gente quer saúde aqui, equipe de saúde", afirma uma líder da comunidade Heweteu.

Ameaça do garimpo

Atualmente, estimativas apontam a presença criminosa de 20 mil garimpeiros. De 2019 para cá, os garimpos são a principal causa do crescimento expressivo do desmatamento na terra Yanomami. O aumento chegou a 140%, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

“Esse desmatamento tem se concentrado nessas regiões ao longo de rios. Tem uma série de consequências de problemas de saúde pública também, que pode afetar, por conta dessa atividade ilegal”, diz Antônio Victor Galvan Fonseca, pesquisador do Imazon.

Paulo César Basta, médico e pesquisador em saúde pública da Fiocruz, também comenta esse impacto do garimpo para os povos indígenas:

"Estudamos 19 comunidades e detectamos a presença de altos níveis de mercúrio no cabelo dos participantes. As populações tradicionais vão ser afetadas por intermédio do consumo do pescado contaminado. Garimpo quando entra, a primeira providência é provocar uma devastação. Impacta diretamente nas fontes alimentares dessa população."

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