Babá que se jogou de 3º andar de prédio em Salvador relata momento das agressões
“Quando eu vi o basculante do banheiro, aí eu tentei sair. Achava que alcançava a outra janela, mas não alcancei e me soltei. Fiquei pendurada em um 'degrauzinho' onde estende roupa, mas não alcancei a outra janela, me soltei e caí”.
O relato angustiante é da babá Raiana Ribeiro da Silva, de 25 anos. Ela se jogou do terceiro andar de um prédio, para fugir da patroa na quarta-feira (25), em Salvador. Segundo relatos da vítima, a mulher identificada como Melina Esteves França agredia a babá e a mantinha em cárcere privado, e Raiana chegou a pedir socorro aos familiares em uma mensagem de áudio.
O caso é investigado pela 9ª Delegacia Territorial (DT/Boca do Rio). Segundo a Polícia Civil, a patroa foi intimada e será ouvida nesta quinta-feira (26). Essa não seria a primeira agressão cometida por Melina Esteves França. Segundo uma vizinha da mulher, ela já agrediu outra funcionária com um "murro no olho". O G1 tentou falar com Melina, mas até a última atualização desta reportagem, não havia conseguido contato.
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Agredida após pedir demissão
Raiana sobreviveu à queda, mas sofreu uma fratura no pé. Ela recebeu alta médica ainda na quarta-feira (26), mas terá que ficar alguns dias sem sair da cama. Foi nessas condições que a jovem concedeu entrevista e relatou o ocorrido.
Babá se joga de 3° andar de prédio em Salvador; polícia investiga cárcere privado cometido
A jovem morava na cidade de Itanagra, a cerca de 150 km de Salvador, encontrou a vaga de emprego através de um site e mudou-se para Salvador. Ela contou que trabalhava havia cerca de uma semana no local, cuidando de três crianças, e que as agressões começaram após ela comunicar à patroa que queria deixar o emprego.
“Ia fazer oito dias hoje [que estava trabalhando lá], mas a agressão começou na terça-feira. Começou porque eu falei para ela que não dava mais para mim, que eu ia sair na quarta-feira. Aí ela falou: ‘Vou te mostrar, vagabunda, se você sai’. E aí começou a me agredir”, disse a jovem.
“Ela me batia, puxava meu cabelo, me mordeu. Várias agressões... Dava tapa”, detalhou.
Sem poder sair da cama, Raiana relatou todo o ocorrido — Foto: Reprodução/TV Bahia
Raiana destacou que, além de já estar querendo sair do trabalho, encontrou uma oportunidade melhor e, por isso, comunicou à patroa que iria sair.
“Eu já estava querendo ir embora e apareceu uma oportunidade melhor pra mim, e eu queria agarrar a oportunidade e pedi a ela para sair”, disse a babá, sem saber que a situação iria piorar na quarta-feira.
“Ela me trancou no banheiro ontem pela manhã, e foi quando bateu o desespero de fugir de alguma forma”, disse ela.
Foi neste momento em que, segundo a jovem, ela tentou sair pelo basculante do banheiro, não conseguiu acessar a outra janela e se jogou do terceiro andar.
Ela ainda revelou que não se alimentava direito na casa da patroa. “Desde terça-feira que eu não comia nem bebia água. Vim comer alguma coisa quando cheguei aqui, ontem de noite", relatou a mulher.
Advogado de Raiana contou que, segundo ela, há câmeras em todos os cômodos da casa onde o caso ocorreu — Foto: Reprodução/TV Bahia
O advogado Bruno Oliveira, que representa a babá, contou que o caso se enquadra no crime de cárcere privado, com agravante.
“É identificado o cárcere privado, onde no artigo 148 do Código Penal diz que privar alguém da liberdade mediante sequestro ou cárcere privado é detenção de um a três anos. Ainda no mesmo Código Penal, no mesmo artigo, parágrafo segundo, tem um agravante, que foi o que aconteceu com ela: se desse cárcere privado gerar-se sofrimento físico ou moral, a pena vai de dois a oito anos. É o que a gente vai requisitar para que a autoridade policial faça essa denúncia”, disse.
O advogado contou ainda que, segundo Raiana, o imóvel onde ela era mantida tinha câmeras em todos os cômodos, e que isso foi informado à polícia, para que eles requisitem as imagens dessas câmeras e as do condomínio.
Áudios revelam aflição
Babá que se jogou no 3º andar de prédio pediu ajuda por aplicativo de mensagens
Antes de pular do terceiro andar do prédio, Raiana chegou a enviar uma mensagem de áudio pedindo ajuda aos familiares em um aplicativo de mensagens; ouça.
“Oh meu Deus, chama a polícia. Eu estou sendo agredida aqui. Estou sendo agredida aqui, nega, no trabalho, no Imbuí. Chama a polícia, chama a polícia, por favor, por favor”, disse.
Segundo a defesa de Raiana, ela conseguiu mandar o áudio para família com pedido de ajuda, mas depois o aparelho celular foi recolhido pela patroa. Os familiares foram até Salvador em busca da vítima e não conseguiram encontrar o condomínio.
"A gente começou a mandar mensagens para ela, mas ela não estava respondendo. Ontem eu tornei a ligar para ela, ela falou que a patroa estava perto dela e ela não podia falar", disse a mãe da jovem.
Uma amiga de Raiana acrescentou que a babá contou que foi agredida com tapas e com uma colher de pau.
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Após o caso, o Sindicato das Domésticas afirmou que acionou a Superintendência Regional do Trabalho.
"Não é permissível mais, em uma época dessa, acontecer essas violências. Têm aparecido muito, durante a pandemia, casos de trabalhadoras que são obrigadas a ficarem confinadas no local de trabalho", disse uma integrante do sindicato.
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