RIO - No carnaval deste ano, se estiver em Copacabana, alguém pode estar de olho em você. A Polícia Militar confirma que o projeto piloto do sistema de reconhecimento facial e de leitura de placa de veículos será implantado no bairro, em caráter experimental, na próxima sexta-feira. Para que isso seja viabilizado, cem policiais estão sendo capacitados, em curso intensivo realizado esta semana no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC).
Utilizando de forma integrada as câmeras instaladas em Copacabana, o programa consiste no envio de informações online e on time para uma central que ficará instalada no CICC. As imagens faciais e das placas dos veículos serão analisadas por operadores que utilizarão os bancos de dados Polícia Civil (caso de reconhecimento facial) e do Detran. A gestão operacional do sistema ficará restrita ao Estado, que terá o controle do banco de dados.
Copacabana teve um crescimento de 66,7% dos roubos a traseuntes em janeiro deste ano, comparado a igual período de 2018: passou de 99 para 165 registros. De roubos em geral, o aumento foi de 48,5% (de 231 para 343 casos).
De acordo com especialistas, a análise da distância entre os olhos, o tamanho do crânio e outras características é o princípio básico dos sistemas de detecção facial. Cada indivíduo tem uma combinação única dessas características que, após ser captada pelas câmeras, é armazenada por meio de softwares como um RG digital de quem foi filmado. Comparada em um banco de dados, essa identificação pode ser capaz de dizer se aquele pessoa tem alguma pendência judicial.
Com diferenças entre si, os sistemas de detecção facial na área de segurança seguem princípios básicos de funcionamento
A câmera registra a imagem do rosto da pessoa e suas características,
como a distância entre os olhos, a largura do nariz e o tamanho do crânio
- entre outros aspectos.
Aspectos analisados
Distância
entre os olhos
Tamanho
do crânio
Marcas e
cicatrizes
Largura
do nariz
Comprimento
da linha da mandíbula
Distância da
boca ao queixo
Contorno da face e
formato da extremidade
do rosto
Um software recebe as imagens e compara as características registradas com
dados de procurados disponíveis no banco de dados da polícia. Tudo isso acontece
em questão de segundos.
Em caso de identificação, a polícia é acionada
e aborda o suspeito para averiguações.
Reconhecimento Facial:
como funciona
Com diferenças entre si, os sistemas de detecção facial na área de segurança seguem princípios básicos de funcionamento
A câmera registra a imagem do rosto da pessoa e suas características,
como a distância entre os olhos, a largura do nariz e o tamanho do crânio
- entre outros aspectos.
Aspectos analisados
3
1
2
8
4
6
5
7
1
Distância entre os olhos
2
Largura do nariz
3
Tamanho do crânio
4
Comprimento da linha da mandíbula
5
Distância da boca ao queixo
6
Contorno da face
7
Formato da extremidade do rosto
8
Marcas e cicatrizes
Um software recebe as imagens e compara as características registradas com
dados de procurados disponíveis no banco de dados da polícia. Tudo isso acontece em questão de segundos.
Em caso de identificação, a polícia é acionada e aborda o suspeito para averiguações.
Já na Inglaterra, são mais de 30 mil câmeras e 14 aeroportos brasileiros já contam com sistemas do tipo. Na Zona Norte do Rio, o Norteshopping conta com um equipamentos de reconhecimento facial desde janeiro de 2017 e dois foragidos já foram detidos pela polícia com a ajuda do recurso. Apesar da adoção cada vez maior, essa tecnologia ainda enfrenta resistências por conta de questões relacionadas à privacidade.
"Sem limites restritivos, seria relativamente fácil para o governo e companhias privadas construir bancos de dados de imagens da vasta maioria das pessoas que vivem nos Estados Unidos", afirma Eletric Frontier Foundation em estudo sobre o tema.
Meta é reduzir o crime
Especilizada em tecnologia, a chinesa Huawei trabalha em parceria com a Oi no piloto. De acordo com Hong-Eng Koh, especialista global em Segurança Pública da Huawei, um dos objetivos do sistema é usar a tecnologia de reconhecimento facial para reduzir o crime. Segundo ele, o modelo conecta todos os sistemas tradicionais de vídeo, mesmo os mais antigos e até os analógicos, que podem pertencer à polícia e até mesmo a empresas privadas.
— Após conectar tudo, uma plataforma especial consegue analisar todas as informações em conjunto, como o reconhecimento facial, o reconhecimento de comportamento e até de objetos. E como a rede é aberta é possível que empresas tenham seus próprios sistemas de análise e que trabalhem em conjunto — afirmou Koh.
Mas se a pessoa usa uma máscara? O executivo afirma que há outras formas de reconhecimento, como os acessórios que estão sendo usados, o jeito de andar e a cor da roupa de quem anda na rua. Ele cita países da Europa e da Ásia que já usam o sistema. Um exemplo citado por ele foi na Inglaterra que passou a adotar a tecnologia de reconhecimento facial para reduzir a violência em jogos de futebol.
— Tem diferentes formas de analisar e ver quem é. O reconhecimento facial é importante, mas sozinho não é suficiente. Assim, a plataforma permite interpretar os dados cruzando as informações, já que centenas de câmeras estão conectadas. É possível marcar uma pessoa de forma que as câmeras consigam detectar em tempo real onde ela está. O sistema pode ainda ver o histórico nos arquivos das imagens, mas isso depende da legislação de privacidade de cada país - explicou Koh.
Segundo o diretor de Operações da Oi, José Cláudio Moreira Gonçalves, a solução é voltada para o chamado mercado corporativo, como empresas e poder público.
— O segmento corporativo tem uma dinâmica que exige essas novas soluções tecnologicas. A iniciativa que estamos lançando com a Huawei é mais uma demonstração neste sentido. Por isso, estamos oferecendo serviços em linha com este tipo de demanda no mercado -- afirmou Gonçalves.
Por sua vez, Koh garantiu que uma preocupação das empresas é com a segurança na informação. O executivo destacou que as imagens que vêm das câmeras são criptografadas e contam com recursos de segurança. Um exemplo é a tecnologia chamada "deep fake", que substitui um rosto por outro. Por isso, as imagens captadas nas câmeras contam com um software que deixam uma marca de segurança, que, se for manipulada, é destruída.
— Muitas empresas (que vendem serviços de segurança) usam seus próprios algoritmos para criptografar. Como esse algoritmo não é da Huawei, não temos esse controle e não temos acesso aos dados dos clientes. O que fazemos é oferecer ferramentas para introduzir esse algoritmo na solução.