Mundo

Macri diz que vai pedir a suspensão da Venezuela ao Mercosul

Novo presidente eleito evitou antecipar medidas econômicas que serão adotadas por seu governo
Presidente da Argnetina, Mauricio Macri Foto: Ricardo Mazalan / AP
Presidente da Argnetina, Mauricio Macri Foto: Ricardo Mazalan / AP

BUENOS AIRES — O presidente eleito da Argentina, Maurício Macri, deu na manhã desta segunda-feira sua primeira coletiva após confirmado o resultado das urnas e reafirmou que irá buscar a suspensão da Venezuela do Mercosul devido a acusações de abusos de direitos e perseguições a políticos da oposição por parte do governo de Nicolás Maduro. Mesmo evitando antecipar as medidas econômicas que serão adotadas por seu governo ao assumir no próximo dia 10 de dezembro, ele anunciou que a pasta terá uma equipe de seis ministros. Ele também deu algumas diretrizes sobre suas primeiras iniciativas em outras áreas, entre elas políticas externas, combate à insegurança, formação do gabinete e relação entre governo e meios de comunicação.

— É evidente que a cláusula (democrática) do bloco deve ser invocada porque as acusações são claras e sem dúvidas não foram inventadas — disse Macri.

Ele assegurou que essa iniciativa será apresentada por seu governo na próxima cúpula do bloco, prevista para o dia 21 de dezembro no Paraguai. Na noite de domingo, o chefe de Estado eleito esteve alguns minutos com Lilian Tintori, mulher do dirigente opositor venezuelano Leopoldo López preso desde fevereiro de 2014. Lilian viajou especialmente a Buenos Aires para acompanhar as eleições argentinas.

Comemoração ocupou um dos principais pontos do Centro de Buenos Aires, na noite de domingo

O presidente eleito disse já ter conversado por telefone com o chefe de Estado do Chile, Michelle Bachelet, e do Uruguai, Tabaré Vázquez. É esperada para esta segunda-feira uma comunicação com Dilma Rousseff, já que o assessor da presidente, Marco Aurélio Garcia, entrou em contato com a secretária privada de Macri para agendar uma conversa entre os dois.

Também em matéria de relações internacionais, Macri se dispôs a rever o memorando de entendimento com o Irã e a promover uma aproximação do Mercosul com o bloco Aliança Pacífico, formado por Chile, Colômbia, México e Peru. O presidente eleito disse ainda que seu governo declarará a emergência em matéria de insegurança, uma das principais preocupações dos argentinos, e reiterou seu desacordo com a polêmica Lei de Meios, embora não tenha mencionado a possibilidade de revogação ou mudança legislativa.

Em um clima de forte expectativa e preocupação pela situação econômica, principalmente sobre o mercado cambial e prováveis medidas para normalizar as operações com a moeda americana, Macri assegurou que, antes de fazer anúncios sobre esse tema, quer ver “qual será a herança, os verdadeiros números da economia”.

Macri, apesar das pressões, ainda não revelou o nome de grande parte de seu gabinete, mas deixou claro que na área econômica haverá uma equipe de seis ministros. Ele também apontou que o chefe da Fazenda terá a mesma importância que os funcionários escolhidos para estar à frente de outras pastas consideradas estratégicas como Energia e Produção.

O novo chefe de Estado se mostrou satisfeito com o convite da presidente Cristina Kirchner de reunir-se nesta terça-feira às 19 horas (20h de Brasília) na residência oficial de Olivos para discutir a transição política. Perguntado sobre as denúncias de corrupção que envolvem funcionários kirchneristas, entre eles a própria presidente, Macri deixou claro “que a impunidade deve acabar”.

— A Justiça terá toda a liberdade que corresponde — disse ele.


Mauricio Macri cumprimenta Lilian Tintori após as eleições em Buenos Aires
Foto: IVAN ALVARADO / REUTERS
Mauricio Macri cumprimenta Lilian Tintori após as eleições em Buenos Aires Foto: IVAN ALVARADO / REUTERS

Macri aproveitou para pedir que autoridades como o presidente do Banco Central e a procuradora-geral renunciem a seus cargos, já que, segundo ele, deixaram claro ser “militantes” kirchneristas. Ambos são designados pelo Congresso e seus mandatos não vencem no final do governo Kirchner. No entanto, o novo presidente espera que Alejandro Vanoli, à frente do BC, e Alejandra Gils Carbó, que comanda grande parte da estrutura judicial, “aceitem voluntariamente” sair.

O “La Nación” provocou forte polêmica pela divulgação de um editorial intitulado “Não mais vingança” — onde defendeu “terminar com as mentiras dos anos 70” e a necessidade de “debater sobre os que semearam a anarquia no país” — Macri garantiu que em seu governo continuarão avançando os julgamentos sobre crimes cometidos pela última ditadura (1976-1983). Nas redes sociais, jornalistas que trabalham no “La Nación”, entre eles o secretário de redação, Hugo Alconada Mon, expressaram divergências com o editorial.

— A impunidade deve terminar — frisou o presidente eleito, referindo-se aos processos da ditadura e, também, à suposta corrupção cometida por funcionários e ex-funcionários kirchneristas. — A Justiça terá liberdade para ir fundo.

O presidente eleito reiterou suas críticas à polêmica Lei de Meios kirchnerista, mas não disse se pedirá sua revisão ou reforma ao Parlamento. E se mostrou disposto a ter “um relacionamento construtivo com o peronismo”, principalmente com os 14 governadores que a futura oposição terá em províncias como Salta e Santa Cruz.