Tecnologia
"Economia do compartilhamento" deverá ser responsável por 30% do PIB de serviços
No mundo, setor vai movimentar US$ 335 bi em 2025. No Brasil, só o Airbnb fatira R$ 2,5 bi
3 min de leituraProjeções da consultoria PwC mostram que a economia compartilhada deverá movimentar mundialmente US$ 335 bilhões em 2025 — 20 vezes mais do que se apurou em 2014, quando o setor movimentou US$ 15 bilhões.
O Brasil ainda carece de dados locais. Mas estimativas de especialistas indicam que a economia de compartilhamento tem potencial para contribuir, a médio e longo prazos, com mais de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do setor de serviços no Brasil.
O Airbnb, um dos exemplos mais citados quando o assunto é economia compartilhada, é responsável por R$ 2,5 bilhões do PIB brasileiro.
Os números de um estudo feito pela Fipe a pedido do serviço on-line de hospedagem, referentes a 2016, dão uma amostra da força dessa tendência mundial, que atende a uma demanda interessada mais em economizar, reutilizar e partilhar recursos do que em adquirir bens.
No Brasil, está consolidada em hospedagem e transporte e, aos poucos, ganha espaço em outros segmentos: o setor imobiliário já oferece imóveis em condomínios onde bicicletas, carros e lavanderias são compartilhadas pelos moradores. No campo, agricultores podem alugar máquinas de outros produtores em uma plataforma on-line.
— O aluguel de temporada já era uma realidade muito forte. A plataforma deu escala a essa oportunidade, acesso e segurança numa transação que geralmente era feita por terceiros ou com imobiliárias — afirma Leila Suwwan, relações públicas do Airbnb para a América Latina.
Essa é a expectativa de Roberto Kanter, professor de marketing da FGV-Rio e diretor executivo da consultoria Canal Vertical:
— O Uber só começou a ter sucesso quando passou a contar com um número considerável de carros para oferecer. O Cabify não consegue fazer o mesmo sucesso por ter oferta menor de carros e motoristas. O acesso à tecnologia, à internet móvel, não só pela elite, também é pré-condição para a economia colaborativa. O fato de o Brasil ter passado por uma profunda recessão também colaborou para os negócios se expandirem no país, por ser nova oportunidade de investimento e por ter barateado o acesso aos serviços.
Pesquisa do SPC com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) vai ao encontro da análise do especialista. Quando perguntados sobre as vantagens de alugar, em relação a comprar, os motivos mais citados foram os preços, por 40% deles, a redução de desperdício (46%), e o combate ao consumo excessivo (45%). Os serviços mais usados são aluguel de casas e apartamentos (citado por 40%), caronas para trabalho ou faculdade (39%) e compra de roupas usadas (31%). Foram 607 entrevistados nas 26 capitais e no Distrito Federal.
Mas há obstáculos na expansão. A maioria deles está relacionada à confiança.
— Muita gente pensa: “essa é a minha casa de praia. Se eu alugar, vão estragar alguma coisa”. Em diversos outros países não existe essa cultura do “meu”. E também há um problema crônico de falta de segurança. O Uber pool, por exemplo, no qual você paga menos para dividir a viagem com outras pessoas, não emplacou porque há medo de compartilhar a viagem com um estranho — afirma Sergio Alexandre, sócio da PwC.
A pesquisa do SPC/CNDL dá força a essa análise: o medo de ser “passado para trás”, de lidar diretamente com estranhos e a falta de garantias no caso de não cumprimento de acordos foram as barreiras mais citadas para este tipo de consumo.
Paulo Cesar Corigliano é sócio-fundador da startup Agrishare, plataforma criada especialmente para intermediar o aluguel de maquinário agrícola. Em funcionamento desde janeiro, já tem 800 máquinas cadastradas em todo o Brasil, e a meta é de faturar entre R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões com o negócio no ano que vem. A maioria de seus clientes está no Centro-Oeste e Sul do país.
— No campo, o pior dos mundos é ter máquinas e só usar durante três meses do ano e no resto do tempo ela ficar ociosa — diz Corigliano.
Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper, lembra que grandes empresas também estão investindo pesado nesse filão:
— Exemplos são a GM investindo no Lyft, o maior concorrente do Uber, e a GE está pensando em soluções de aluguel de equipamentos médicos. O futuro é a chegada de várias soluções a partir de ativos já existentes.