Rio

Fechamento de lojas históricas como o Bar Luiz se torna problema crônico no Rio

Nos últimos 10 anos, a cidade perdeu, pelo menos, 10 lojas que funcionavam há mais de 4 décadas
Entrada do Bar Luiz, na Rua da Carioca, no Centro Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Entrada do Bar Luiz, na Rua da Carioca, no Centro Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

RIO - O fechamento do Bar Luiz previsto para acontecer no próximo sábado incluirá o estabelecimento centenário em uma triste estatística. Nos últimos 10 anos, o Rio perdeu, pelo menos, 10 lojas que funcionavam há mais de 4 décadas. São espaços que prestaram serviços a gerações de cariocas, como a Casa Cruz, a churrascaria Estrela do Sul e outros negócios.

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De 2010 para cá, a Confeitaria Cirandinha, a loja de discos Modern Sound e o Petisco da Vila foram alguns dos locais que deixaram de existir. Aumentos súbitos de aluguel, dívidas e outros problemas financeiros foram razões frequentes para que os estabelecimentos fechassem as portas. Entretanto, há outros motivos para o mesmo desfecho. É o caso da loja Santa Fé, sapataria mais antiga de Copacabana, fechada em 2017 devido à morte do dono, seu Milton.

Bares e outras casas localizadas no Centro também viram o movimento cair em função da implantação do VLT, as reformas da Zona Portuária e outras obras realizadas na região nos últimos anos. O restaurante 28, na Gamboa, e a loja de instrumentos musicais Guitarra de prata, no Largo da Carioca, são exemplos.

Última dona do Bar Semente, que funcionou durante quase 20 anos na Lapa, Aline Brufato lamentou o fechamento do Bar Luiz:

- É triste ver o Rio perder marcas tradicionais e que têm uma relação afetiva com os cariocas. Assim como no caso do Semente, o entorno do Bar Luiz não ajuda: falta segurança, limpeza, infraestrutura mesmo. São problemas que afetam o dia a dia do carioca e atrapalham esses espaços também. Chega uma hora em que os clientes se cansam de se expôr a riscos. Assim como eu, a Rosana esticou a corda o máximo que pôde, mas chega uma hora em que a questão financeira pesa e o jeito é fechar. O tradicional Bar Luiz vai fechar

A empresária lembrou ainda que, apesar de fazerem parte da história da cidade, esses negócios contam com pouco apoio do poder público:

- Não sei se só isso seria uma solução, mas não vejo hoje políticas públicas que conectem cultura, patrimônio e turismo no Rio. Com isso, a cidade está perdendo espaços que contam sua história e têm uma função que vai além do papel de estabelecimento comercial. Uma perda como o Bar Luiz fere a relação de pertencimento dos cariocas com o Rio. O cronista Paulo Mendes Campos dizia que recordar os bares mortos é contar a história de uma cidade e houve uma cidade que passou pelo Bar Luiz e que some com seu fechamento.

Confira a seguir algumas lojas que fizeram história no Rio e fecharam as portas nos últimos anos:

Bar Semente

A história recente da música na Lapa se confundia com a pequena casa colada nos arcos e aberta em 1998. Chico Buarque, Marisa Monte e Norah Jones foram algumas das estrelas que deram canja no bar, que fechou por dificuldades financeiras em 07 de outubro de 2017 .

Casa Cruz

Copacabana, Madureira e outros bairros contavam com filiais da rede de papelarias criada em 1893 no Largo de São Francisco, no Centro, e que chegou a ter seis lojas espalhadas pela cidade . Em 2017, problemas financeiros levaram ao fechamento de todas as lojas.

Confeitaria Cirandinha

O cheiro das empadas e waffles deixou de sair do nº 179 da Avenida Nossa Senhora de Copacabana em maio de 2016 . O baixo retorno financeiro levou os donos a decidirem pelo fechamento da loja aberta por imigrantes espanhóis em 1957 e famosa pelo serviço de chás que oferecia.

Confeitaria Manon

Entre 2007 e 2014, a tradicional casa aberta em 1942 na Rua do Ouvidor manteve uma filial no ponto localizado na esquina das ruas Sete de Setembro e Uruguaiana. No imóvel art nouveau de 1890, funcionara no passado a Casa Cavé, criada em 1860 e frequentada por Dom Pedro II, Juscelino Kubitschek e outras personalidades. O aumento do aluguel do espaço de R$ 20 mil para R$ 40 mil levou o local a fechar as portas.

Estrela do Sul

O Mourisco, em Botafogo, foi o primeiro endereço da rede de churrascarias na cidade. A loja aberta lá em 1972 foi transferida para o shopping Casa&Gourmet em 1995 e não resistiu à crise, fechando no primeiro semestre de 2017 . Destino igual teve a filial da Tijuca, aberta na década de 1970 e fechada em 30 de junho de 2019 .

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Guitarra de prata

A clientela do casarão no número 37 da Rua da Carioca transbordava talento. Dorival Caymmi, Nelson Gonçalves e Pixinguinha foram alguns dos que compraram seus instrumentos na casa aberta em 1887 e fechada em 17 de março de 2014 , após os donos não aceitarem o aumento do aluguel de R$ 7 mil para R$ 15 mil. Hoje, o estabelecimento mantém uma loja online e um ponto de retirada de produtos na Tijuca.

Livraria Padrão

Em um passado recente, a Rua Miguel Couto chegou a ter três livrarias. A crise e outros problemas levaram ao fechamento das lojas e a última a fechar as portas, em 2015 , foi a casa criada em 1973.

Loja Santa Fé

A sapataria mais antiga de Copacabana atendeu 3 gerações de clientes e teve personalidades como Regina Casé entre seus fregueses. Aberta na década de 1950, o estabelecimento fechou as portas após a morte do dono, seu Milton, em fevereiro de 2017 .

Mala de Prata

Localizada em um imóvel do fim do século XIX, a casa especializada em malas e acessórios de viagem funcionou por mais de 40 anos na Rua do Lavradio. Entretanto, a crise econômica levou ao fechamento da loja por volta de 2013.

Mala de Ouro

Assim como a vizinha prateada, a loja fechou por conta da queda de movimento causada pela crise econômica e ourtras razões no últimos anos. O estabelecimento funcionou por mais de quatro décadas no número 19 da Rua da Carioca e encerrou as atividades em meados de 2014.

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Modern Sound

Os cantores Ed Motta e Marcos Valle eram alguns dos frequentadores da loja de discos aberta em 1966 na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Em 31 de dezembro de 2010 , a casa abriu as portas pela última vez, após os donos acumularem dívidas que, à época, chegavam a R$ 350 mil.

Padaria Aymoré

O pão petrópolis na chapa era uma das especialidades da pequena loja da Rua do Lavradio criada na década de 1950. O estabelecimento fechou em junho de 2019, conforme noticiou à época o jornalista Ancelmo Gois .

Petisco da Vila

O bar aberto em 1969 em Vila Isabel foi parada obrigatória de Jaguar, Jamelão e outros bambas por anos. Em março de 2017 , poucos dias após Martinho da Vila comemorar seu aniversário com uma feijoada no local, a casa fechou. Aberta no mesmo espaço em agosto daquele ano, a chopperia Sempre Vila fechou em janeiro de 2019 .

Pizzaria Guanabara

Se a matriz foi um dos points do Baixo Leblon na década de 1980, a filial da Lapa também tinha público cativo e ponto privilegiado, de frente para os arcos. Entretanto, problemas com a vigilância sanitária e outras questões levaram ao fechamento da loja em novembro de 2017 .

Restaurante 28

Aberto em 1910 no bairro da Gamboa, o restaurante especializado em culinária portuguesa tinha o cabrito com batatas coradas como um de seus pratos principais. O estabelecimento que funcionava em um imóvel art deco fechou em 28 de março de 2015, devido à queda do movimento com as obras do Porto Maravilha.