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Morre Maurice Capovilla, ícone do cinema marginal de São Paulo, aos 85 anos

Seus documentários e filmes de ficção, como 'O jogo da vida', retrataram as condições de vida dos brasileiros
16.06.2005 - Marco Antonio Cavalcanti - SC - Cineasta - Maurice Capovilla, Cineasta. Foto: Marco Antônio Cavalcanti
16.06.2005 - Marco Antonio Cavalcanti - SC - Cineasta - Maurice Capovilla, Cineasta. Foto: Marco Antônio Cavalcanti

RIO - Morreu na tarde deste sábado, 29, o ator, roteirista, produtor e diretor de cinema paulista Maurice Capovilla, aos 85 anos, em decorrência de uma doença pulmonar. A morte foi confirmada por sua esposa, Marília Alvim. Cineasta que retratou as condições de vida da população brasileira em documentários e filmes de ficção, ele sofria de Alzheimer há cinco anos.

Nascido em 1936, em Valinhos, São Paulo, Capovilla mudou-se para a capital paulista aos 21 anos. Frequentador do cineclube do Museu de Arte Moderna de São Paulo, convive com nomes da cinefilia paulistana como Jean-Claude Bernardet e Gustavo Dahl.

Em 1961, ele dirigiu seu primeiro curta-metragem, "União", semi-documentário filmado em 16mm. Cinco anos mais tarde, ele chamou atenção com dois documentários que inovavam ao retratar os bastidores do esporte, "Subterrâneos do Futebol" e "Esportes do Brasil". "Subterrâneos do Futebol"  mostrava a rotina dos jogadores por um ângulo pouco glamouroso.

Foi em 1967 que Capovilla se lançou na ficção. Adaptado de um conto do escritor Ignácio Loyola de Brandão, "Bebel, Garota Propaganda", que deu a Rossana Ghessa o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília naquele ano. Mais uma vez, ele explorava um cenário conhecido - o mundo da moda e do cinema - com uma abordagem inovadora. A trama mostra como uma garota pobre é objetificada pela sociedade em troca de um lugar no show business.

O longa seguinte, "O profeta da fome" (1967), consolidou-o entre os grandes cineastas de sua geração. Realizado com poucos recursos financeiros, é inspirado no manifesto de Glauber Rocha, a estética da fome, e dialogo diretamente com o cinema marginal.

Traz José Mojica Marins no papel de um faquir decadente que é expulso de um circo após ser incapaz de representar um número de canibalismo. Ao pegar a estrada, torna-se ídolo religioso de uma pequena cidade. Trata-se de um raro trabalho de Mojica fora de Zé do Caixão, seu icônico personagem. Anos depois, Capovilla e Mojica trocariam de lugar, com o primeiro trabalhando como ator em "O ritual dos sádicos", um dos mais celebrados filmes de Zé do Caixão.

Outro filme importante é "O jogo da vida" (1967), adaptação do conto "Malagueta, perus e bacanaço", de João Antônio.  é um dos dez filmes mais bonitos feitos por aqui. Com música de João Bosco, Aldir Blanc e Radamés Gnatalli, traz atuação inspirada de atuação inspirada de Lima Duarte, Gianfrancesco Guarnieri e Maurício do Valle como um trio de malandros que ganham a vida com trapaças de sinuca.

Seu último longa como diretor é "Harmada" (2003). Inspirado em um conto de João Gilberto Noll, tem toques de surrealismo e metalinguagem, assim como "O profeta da fome".

Capovilla tem um trabalho importante na televisão. No início dos anos 1970, foi diretor da série Globo Shell e do Globo Repórter. Foi também diretor de núcleo da Rede Bandeirantes nos anos 1980.

Em 2005, Capovilla foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural do então Ministério da Cultura.