18/10/2016 08h55 - Atualizado em 18/10/2016 09h54

Repercussão de foto de jovens músicos em favela surpreende autor

Foto faz parte de projeto Favelagrafia em nove comunidades do Rio.
Anderson, estudante de design, fez foto com amigos do Morro do Turano.

Káthia MelloDo G1 Rio

Jovens de grupo musical do Morro do Turano seguram instrumentos no lugar de armas   (Foto: Anderson Valentim/Projeto Favelagrafia)Jovens de grupo musical do Morro do Turano
seguram instrumentos no lugar de armas
(Foto: Projeto Favelagrafia/Anderson Valentim)

O estudante de design gráfico Anderson Valentim ainda está assustado com a repercussão da foto tirada na favela do Turano, na Tijuca, Zona Norte do Rio, que viralizou na internet.

A foto, publicada em uma rede social pelo projeto Favelagrafia, mostra cinco jovens, com rostos tapados, segurando instrumentos musicais como se fossem armas. O texto diz: "Alguns lutam com outras armas".

Em entrevista ao G1, Anderson disse como se sentiu algumas horas depois da foto ter sido publicada:

"Eu fiz a postagem na hora do almoço e no final da tarde já eram centenas de cliques e comentários. Levei um susto quando vi que a Maria Rita [cantora] e o marido da Alicia Keys [rapper Swizz Beatz] tinham postado a foto se identificando. Até fiquei aterrorizado", contou.

Até às 19h desta segunda-feira (17) a foto dos jovens com os instrumentos musicais tinha mais de 4 mil curtidas no Instagram. O sucesso da foto e os comentários favoráveis à ideia que ele teve de utilizar os instrumentos musicais está  dando frutos e ajudando no planejamento de outros projetos usando a arte como tema. Um deles, segundo Anderson, vai reunir um grupo de música do Morro do Vidigal, em São Conrado, na Zona Sul.

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Jovem da Providência fotografa antigos moradores da favela  (Foto: Projeto Favela Grafia/ Joyce Marques)Jovem da Providência fotografa antigos moradores da favela (Foto: Projeto Favela Grafia/ Joyce Marques)

"Queremos fazer a conexão com outras comunidades. Infelizmente, só chega para fora dez por cento do que é o morro".   A foto coletiva, com músicos amigos de um grupo de jazz do Morro do Turano, não foi a primeira que Anderson fez. Ele já tinha fotografado um menino da comunidade do Borel segurando um instrumento e também com o rosto tapado.

Morador do  Morro do Borel, também na Tijuca,  Anderson foi um dos nove moradores de comunidades da cidade selecionados pelo projeto idealizado pela agência de publicidade NBS Rio+Rio, com a  proposta de mudar a imagem estereotipada das pessoas sobre as comunidades cariocas.  Os selecionados têm idade entre 20 e 39 anos.

Foto com jovens da favela repercute em redes sociais de artistas americanos (Foto: Reprodução internet)Foto com jovens da favela repercute em redes sociais de artistas americanos (Foto: Reprodução internet)

Joyce Marques, caçula do grupo, mora no Morro da Providência, no Centro. Ela não tinha nenhuma experiência em fotografia quando foi selecionada para o projeto.  "Eu era fotografada porque já fiz trabalhos de modelo e estou descobrindo coisas que nem eu sabia fazer", disse.

Morador do Morro da Providência fotografado pelo projeto Favelagrafia  (Foto: Projeto Favelagrafia/Joyce Marques)Morador da Providência fotografado pelo
 projeto (Foto: Projeto Favelagrafia/Joyce Marques)

A preferência dela são as paisagens e os moradores mais idosos da comunidade. Uma das fotos de maior repercussão é a de um antigo morador da Providência, o seu Ananias, que ela fotografou em preto e branco em dois momentos: uma ressaltando os pés e sem rosto e outra revelando a identidade.

"No início tive dificuldades com pessoas. Depois, conversando com o pessoal, comecei a ver os traços das pessoas e a fazer esse destaque", explicou.

Iniciado em agosto, o projeto conta com 11 mil seguidores no Instagram e tem páginas em outras redes sociais para divulgar as 10 mil fotografias já captadas pelos fotógrafos/moradores. São eles que fazem as postagens e os textos nas redes sociais, segundo Aline Pimenta, diretora da NBS.

"É o olhar do morador, totalmente livre para achar seus caminhos. Cada um tem seu estito. Pelos seus traços, conseguimos o olhar genuíno de cada um deles. Quem poderia criar um novo olhar seria o morador", disse

O projeto Favelagrafia é incentivado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura, com o patrocínio do Consórcio Linha 4 Sul. Os moradores receberam treinamento  de um fotógrafo profissional e um telefone celular para utilizar.
 

Menino toca instrumento musical na favela do Borel, na Tijuca (Foto: Anderson Valentim/Projeto Favelagrafia)Menino toca instrumento musical na favela do Borel, na Tijuca (Foto: Anderson Valentim/Projeto Favelagrafia)

Em novembro, o Favelagrafia terá uma exposição, livro e um site onde ficarão informações pessoais dos fotógrafos. Também foi feito um convênio com o Sebrae para que os que desejam trabalhar com fotografia mais adiante  se informem sobre a profissionalização.

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