Com menor dotação em 21 anos, CNPq nega relação entre cortes e “apagão”

Chamado de “apagão da ciência” pelos cientistas, o incidente completa sete dias hoje. O prejuízo principal é a falta de acesso à plataforma Lattes, banco nacional de currículos com detalhes sobre a produção acadêmica de cada pesquisador. Outras plataformas inacessíveis são a Carlos Chagas, com informações sobre concessão e andamento de bolsas, e o Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, que indica os temas de pesquisa dos especialistas brasileiros.

Ontem, o presidente do CNPq, Evaldo Vilela, e o diretor de gestão e tecnologia da informação do órgão, Thomas Marçal, gravaram um vídeo publicado nos canais do órgão para detalhar o problema. Eles voltaram a afirmar que não há risco de perda permanente de informações. Vilela pediu desculpas pelo transtorno e garantiu que a falha técnica não tem relação com as restrições orçamentárias do CNPq.

A fala veio em reação aos apontamentos de cientistas, que inundaram as redes sociais com reclamações sobre os cortes à ciência e educação em 2021 e, mais exatamente, a uma postagem economista e diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, Felipe Salto, no Twitter.

Segundo o economista, o orçamento do CNPq para 2021 registrou o mais baixo patamar desde 2000, a preços corrigidos pela inflação. A dotação do órgão de fomento à pesquisa científica diminuiu pela metade em 21 anos, passando de R$ 2,4 bilhões em 2000 para R$ 1,2 bilhão em 2021. O corte é ainda maior se considerado o intervalo de nove anos - em 2013, o orçamento do CNPq bateu o teto histórico de R$ 3,1 bilhões.

“O problema na questão da TI não está relacionado a orçamento e a modernização da infraestrutura, que já estava em andamento, será retomada com perspectiva de melhorias”, disse Vilela.

Ao Valor, porém, o analista do CNPq e presidente da Associação de Funcionários do Conselho (Ascon), Roberto Muniz disse que os sistemas por trás das plataformas Lattes e Carlos Chagas estão sem manutenção desde 2018 e que as restrições orçamentárias não se restringem à atividade fim do CNPq (concessão de bolsas e formação), mas se estendem decisivamente sobre o custeio do órgão, comprometendo verbas para manutenção de aparelhos e estruturas, aluguéis e contratação de terceirizados. “Nós inscrevemos o incidente nesse contexto de cortes. Não é possível ter um equipamento de tal importância sem manutenção desde 2018”, diz Muniz.