Thomas Malthus foi um importante pensador clássico, contemporâneo de David Ricardo, que viveu entre os séculos XVIII e XIX. Apesar de sua relevância em estudos relacionados à demografia, acabou ficando mais conhecido pelo seu “equívoco” em defender o controle da natalidade, pois acreditava que o mundo “ia dar ruim”, uma vez que o crescimento populacional era inconsistente com o aumento dos meios de subsistência, à medida que a população crescia em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos ocorria em progressão aritmética.
Semana passada, o IBGE divulgou o PIB do 1º trimestre de 2021, apontando altas de 1,2% frente ao 4º trimestre de 2020 e 1,0% em relação ao 1º trimestre. Números positivos e (até) surpreendentes, sem dúvidas. Algo recorrente, contudo, quando se divulgam as informações das contas nacionais, é a baixa capacidade de investimentos da nossa economia.
Apesar de um resultado melhor no 1º trimestre, de 19,4% na taxa de investimento (muito por influência da Repetro), contra 16,4% consolidados do ano passado, é difícil imaginar que um país da nossa importância no contexto global possa alçar voos maiores com figuras nesses patamares. Nos últimos anos, por exemplo, essa relação está em torno de 45% na China e em 30% na Índia e na Rússia, para compararmos com o grupo BRIC.
Outro ponto interessante tem a ver com o gasto público. Temos um governo paquidérmico, que, nas últimas décadas, apesar de esforços eventuais, tem dificuldades de promover reformas no sentido de enxugar seu tamanho. Consequentemente, enfrentamos entraves no processo de formação de poupança, pois o Estado concorre por recursos ao lado da iniciativa privada, o que afeta a taxa de juro. O pior é que arrecadamos muitos impostos, mas, infelizmente, gastamos de forma pouco eficiente, entregando serviços de má qualidade para a população.
Ainda no resultado do 1º trimestre do PIB, pudemos observar que os gastos do governo apresentaram queda de 0,8%. Ou seja, mesmo diante de uma pandemia, as restrições são evidentes. Olhando sob essa ótica, julgo adequado que promovamos uma mudança de mentalidade.
Nesse sentido, não faz muito tempo, escrevi um artigo com o professor Marcos Lemos, reitor do Ibmec-RJ, no qual enfatizamos a ideia de que os ensino público e privado devam caminhar lado a lado. Essa dicotomia existente, de que a universidade pública é boa e (em geral) a particular não, é injusta. Como professor universitário, reconheço as dificuldades, mas creio que preciso enaltecer os esforços e investimentos que vêm sendo conduzidos nos últimos anos pelo setor. Ademais, esse maniqueísmo vigente não agrega, e trazê-lo para dentro da sala de aula não colabora para a melhoria qualitativa.
Um aspecto importante, que corrobora a tendência acima, foi o fato de muitas empresas do setor terem realizado seus processos de abertura de capital (IPO) há alguns anos, tornando as gestões mais profissionais, com adoção de boas práticas de governança. Com a pandemia, contudo, as cotações das ações em bolsa sofreram fortes perdas em 2020, uma vez que foi um dos segmentos que mais sofreu com os efeitos da doença. Agora, mesmo com a atual melhora da bolsa (o Ibovespa bateu o recorde histórico na semana passada), essas ações ainda estão distantes de suas máximas.
Há poucos dias, o ministro Paulo Guedes afirmou, em debate no Congresso, que 75% do ensino superior brasileiro está concentrado em escolas particulares. Apesar de alguns discordarem, vejo essa situação com bons olhos, pois estou convencido de que nosso país só mudará para melhor com educação. O exemplo no qual podemos nos inspirar é a Coreia do Sul, que promoveu fortíssimos investimentos na área educacional e agora colhe os frutos dessa iniciativa acertada.
Meu argumento é que de pouco adiantará fazermos reformas estruturantes, modificarmos marcos legais, ter um banco central independente se, a médio prazo, continuarmos com resultados pífios nos exames internacionais, que aferem com melhor acurácia o desempenho dos alunos. Assim, se o governo tem dificuldades de investir, por que não deixar os empresários fazerem?
O fato é que estou há 21 anos dentro de sala de aula, em escolas privadas. Tenho muito orgulho de ser professor, me esforçando para conciliar as atividades acadêmicas com a vida no mercado financeiro. Muitas vezes fui questionado por colegas de mercado, por me “dividir”. Respondo dizendo que ajudei a formar ótimos profissionais, alguns, inclusive, com quem trabalho/ei.
Encerro com a tradicional crítica de muitos economistas sobre analisar a economia pelo quantitativo, pois, segundo eles, “não se almoça PIB”. Lembremo-nos que o “equívoco” de Malthus teve a ver com os avanços tecnológicos, que mudaram radicalmente o mundo depois da revolução industrial e que não foram devidamente antecipados por ele. Todos estão diretamente ligados ao conhecimento e à pesquisa (educação). Se a humanidade chegou até aqui foi pelo esforço de professores e alunos, que ajudaram a produzir o “almoço”, o PIB e a vacina nossa de cada dia.
Alexandre Espirito Santo é economista-Chefe da Órama e prof. do Ibmec-RJ